A defesa de uma tese como objetivo central de uma história pode ser uma das maiores armadilhas em um roteiro. Essa explicação veio de uma palestra a que assisti, e fez muito sentido para mim. Entendi mais claramente porque alguns filmes, apesar de serem bastante interessantes, pareciam se perder em si mesmos. Com a fixação em uma tese - ou a moral da história -, o roteiro pode deixar de lado a construção mais cuidadosa dos personagens para se fixar nas situações que quer ilustrar - ilustrar, e não narrar.
Enquanto assistia a Animais Unidos Jamais serão Vencidos (Konferenz der Tiere, Reinhard Klooss, Holger Tappe, Alemanha, 2010), essa idéia não me saía da cabeça. E ela me ajudou um pouco a entender minha frustração e impaciência como filme. Os personagens são apenas coadjuvantes para as situações apresentadas. Estas, sim, são as estrelas do filme. Por sua vez, as situações são ilustrações do que se quer defender. Os personagens se apresentaram, para mim, como rasos e sem personalidade. Com eles não me identifiquei, e identificação é uma das chaves para entrar numa narrativa. Em outras palavras, o filme me pareceu mais informativo do que uma história bem contada.
Nos créditos finais, há a indicação de que se trata da adaptação de um livro - Die Konferenz Der Tiere, do alemão Erich Kästner. O livro é de 1949, mas a história é incrivelmente atual. Pensei, já saindo do cinema, com crianças e resto de pipoca, que talvez ela funcionasse melhor na escrita.
A tese defendida é nobre: a exploração indiscriminada da terra pelo ser humano, sem consideração ou respeito pelos outros seres que nela habitam ou por seus recursos naturais. Como disse, atual. E talvez por isso mesmo o filme me tenha incomodado tanto. Chegaram até mim, então, as palavras de um outro professor com quem estudei. E elas fizeram mais sentido para mim ali, descendo a escada.
Segundo ele, se o conteúdo é revolucionário, a forma tem de, necessariamente, ser revolucionária. Não basta apenas dizer, é preciso saber contar.
Segundo ele, se o conteúdo é revolucionário, a forma tem de, necessariamente, ser revolucionária. Não basta apenas dizer, é preciso saber contar.
verdade isso, é preciso saber contar, adequar a forma ao conteúdo.
ResponderExcluirtão bacana a forma como você reflete sobre a cultura que consome, e mais ainda, como se lembra de tantas coisas e as usa como instrumento de interpretação de novas coisas. um barato. quero ser assim!
beijo, dri!
[j]