domingo, 29 de maio de 2011

Your Hands Are Cold

Notícias de quarta-feira (atrasadíssima, eu sei):

Não muitos posts atrás, eu disse como gosto de livros baseados em autores ou personagens de livros. Nesta semana, acabei de ler o último deles que chegou às minhas mãos, Austenland, de Shannon Hale.
Não foi o mais legal, nem o mais querido, dos que já li, mas me diverti muito. É uma conversa boa e engraçada sobre os filmes, livros e personagens na nossa vida, como eles nos acompanham e fazem parte da nossa existência. Mesmo quando se insistem em afirmar e reafirmar que eles não são reais.

Alguns trechos me lembraram muito a versão de Joe Wright para Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice, France/Uk, 2005), embora o filme não apareça nas referências da autora - que eu achei estranho, já que o achei tão presente. A maior citação é a séria para televisão da BBC (UK,1995), com Colin Firth. Desta eu gosto, mas não amo. Achei a adaptação muito factual. O meu preferido é mesmo o filme de Joe Wright, e adorei ver a frase de uma das cenas mais legais do filme e de uma das músicas da trilha sonora - your hands are cold - em outro contexto.


Como curiosidade, vale ressaltar que a versão comentada de Pride & Prejudice é linda. O cuidado de Wright com a adaptação, presente nos detalhes que ele explicita, é de encher o coração. A cena inicial, em que Elizabeth leria a prórpria história, eu adoro. A criada da casa que sempre aparece cantando pode passar despercebida.

Personagens que conversam sobre livros, filmes, músicas são os meus preferidos. Haruki Murakami, em After Dark, traz um dos meus diálogos favoritos, quanto Takahashi tenta contar para Mari o filme Love Story... bizarro e engraçadíssimo - esse diálogo está em post mais antigo, na época em li o livro. Seth - ah, Seth - tenta explicar como sente o amor com Ultraviolet, do U2, em um dos livros da série Georgina Kincaid, de Richelle Mead. Jane Jameson é uma leitora e cinéfila compulsiva em Nice Girls Don't Have Fangs, de Molly Harper, e sua visão de mundo peculiar advém desse relacionamento com a literatura e o cinema.


Desses eu lembrei agora, mas há muitos outros, thanks God.

A seguir, alguns trechos de Austeland:
Besides being witty and funny and maybe the best novel ever written, it’s also the most perfect romance in all of literature and nothing in life can ever measure up, so I spend my life limping in its shadow.” (p. 6). About P&P.
At a very young age, she had learned how to love from Austen.” (p. 18).
Jane thought she understood why Austen often left these conversations up to the narrator and spared the reader the grotesquerie of having to follow it word by word.” (p. 93).

"Why was the judgment of the disapproving so valuable? Who said that their good opinions tended to be any more rational than those of generally pleasant people?” (p. 112).
No cinema, o filme foi Chuva (Lluvia. Paula Hernándéz, Argentina, 2008). No cinema precário do Liberty Mall, o filme ficou mais escuro do que é, dando uma sensação grande de claustrofobia. Mas eu gostei demais. E toda vez que lembro de Chuva- agora, quatro dias depois de vê-lo -, penso com mais carinho nele. Gosto demais da chuva batendo na janela do carro. Gosto de dirigir na chuva, gosto de pegar carona na chuva do cinema. Assim, o filme me trouxe para dentro dele muito rapidamente. A vida de Alma, toda dentro do carro, também não me é estranha. Tenho tudo dentro do carro, tanto que já virou piada. É chuveiro, vinho, mangueira... e livros, claro.

E a chuva que não pára? No filme, o único oásis às avessas, isso é, o único lugar ao sol é artificial. Mas é um descanso, um retiro, um distanciamento do mundo. Nem sempre a natureza, a realidade, a rotina é o nosso lugar.
Daí novamente os filmes e livros...

                                                                                                                                            
PS: Durante todo o filme, tive uma sensação engraçada de conhecer muito bem a atriz. Mas algo não encaixava, não fazia sentido. O que via daquela atriz ali não encontrava a lembrança incompleta em mim. Então o cérebro resolveu funcionar e lembrei: em alguns momentos, Valeria Bertuccelli (a foto ao lado), de Chuva,  é muito parecida com Shiri Appleby (abaixo), da série de TV Life Unexpected. Separadas pelo nascimento, rs.

               


sábado, 21 de maio de 2011

Ontem e Sábado Passado...


Ontem terminei de ler o livro que me acompanhou durante toda a semana. Everyman, de Philip Roth, é curto, mas não de leitura rápida. Não para mim. Ele se encaixou tão bem no que tem sido minha vida há algum tempo que não me atrevi a me apressar. Fui com cuidado, carinho e respeito. Outra dívida grande com a Rita, que indicou o autor e o livro.

Preciso lê-lo novamente... mas não agora. Philip Roth falou pouco, mas abarcou o mundo para mim. Precisa-se sentir a vida - e a morte e a perda e a solidão e os arrependimentos - ao seu redor com muita intensidade para contá-la dessa forma. Genial, honesto, íntimo.

"I do apologize for all this," she said as he was leaving. "It's just that pain makes you so alone."And here the fortitude gave way again and left her sobbing into her hands. "It's so shameful."
"There's nothing shameful about it."
"There is, there is,"She wept. "The not being able to look after oneself, the pathetic need to be comforted..."
"In the circumstances, none of that is remotely shameful."
"You're wrong. You don't know. The dependence, the helplesness, the isolation, the dread - it's all so ghatly and shameful. The pain makes you frightened of yourself. The utter otherness of it is awful." (p. 91).

"Otherness", a word in his own language to describe a state of being all but foreign to him..." (p. 129). 


Sem saber muito o que dizer sobre O Padre (Priest. Scott Charles Stewart, US, 2011), demorei uma semana para trazê-lo aqui.

Quando entrei no cinema, não sabia que se tratava de uma adapção de HQ. Depois que saí, mesmo antes de pesquisar na internet, tinha certeza que sim. E não me surpreendi ao ver que o autor é sul-coreano.

Um mundo muito doido em que faroeste, Blade Runner, Mad Max e Cruzada se encontram. Adorei o mix, detestei o roteiro. Os diálogos eram incrivelmente cafonas, mas as imagens do mundo criado por Min-Woo Hyung e transposto para as telas (de forma muito diferente, para quem conhece a HQ) me deixaram contente de estar ali.

No filme, muitos conhecidos. Hey, é o Vampire Bill (Stephen Moyer)!!! Nikitaaaa (Maggie Q)!!!!! Gente, é o James (Cam Gigandet, tão remoçado que às vezes ficava em dúvida de que era elel mesmo ... teconologia boa)!!!

Mas, ao final, o sentimento ainda foi de confusão. Como uma coisa tão boa pode dar tão errado?

Para completar a surrealidade, fomos lanchar naquele bar gigante que fica no Píer. Estavam passando Crepúsculo (Twilight. Catherine Hardwicke, US, 2008) numa telona... pense. É daquelas coisas que só acontecem quando estou com alguém tão biruta com eu (Hello, Pati!). Sentamos e ali ficamos, mas o filme era só por 5 minutos. Com direito a pipoca feita no óleo. Engraçado e muuuuuuito bom.



sexta-feira, 13 de maio de 2011

Thanks to the Chairman


Hoje eu me senti tão feliz de estar no cinema que não teria condições de dizer se os filmes que vi são bons ou não... Não consigo olhar para eles assim, embora tenha a impressão de que Os Agentes do Destino seja genial. Bom, isso não importa. Na primeira fileira nos dois cinemas, encolhida na cadeira, com a sensação de estar sozinha com a tela, eu me diveti horrores.


Eu li Something Borrowed e Something Blue, de Emily Giffin, há mais ou menos três anos. O primeiro veio de Recife, em português  - O noivo da Minha Melhor Amiga -, emprestado por Carla via Kal. Da mesma autora li também Love The One You're With, que tem uma premissa muito legal. Mas esse livro me angustiou um pouco, porque as pataquadas da personagem fizeram muito sentido para mim. Identificação demais às vezes dá pânico... Li correndo, pulando as páginas.

Ao chegar ao cinema para ver O Noivo da Minha Melhor Amiga (Something Borrowed. Luke Greenfield, US, 2011), eu não esperava muito. Thanks God, porque me diverti demais. John Krasinski como Ethan... muito bom. 

Nesta semana conversava sobre adapção de livros para o cinema, como não dá para esperar que duas linguagens diferentes contem uma história de forma igual. Seus modos são diferentes. O que caberia ao cineasta ao adaptar uma história escrita seria, mais do que sustentar uma fidelidade factual com a narrativa primeira, manter a essência do que conta - nas palavras da minha querida Laura.  

Penso que cineastas que são também bookworms conseguem traduzir bem a história escrita em imagens. Não sei se é o caso de Joe Wright, o meu preferido, com Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice, França/UK, 2005), mas ele me trouxe esse pensamento. O seu amor pela história que filmou transparece na honestidade da narrativa e nos comentários presentes no DVD. O pedido de casamento de Darcy a Elizabeth em meio a uma chuva torrencial me trouxe a intensidade do diálogo dos dois no livro, mesmo que neste a cena fosse diferente.

Não estranhei a adaptação de Something Borrowed. Só sinto que o filme deixa um pouco da melancolia e da intensidade da história de lado, embora eu a tenha encontrado em alguns momentos. Cute cute. Gostei mais do que imaginei pelo que vi antes de entrar na sala de cinema.  Não soube de nenhuma notícia sobre o segundo filme, Something Blue, embora pense que este primeiro filme já aconteça tendo em vista a sua continuação - talvez daí venha a sensação de perda de alguns aspectos do livro.

A minha segunda incursão na big diversão foi incrível. Os Agentes do Destino (The Adjustment Bureau. George Nolfi, US, 2011, a partir de um conto de Philip K. Dick) é pure fun. Smart fun. Eu fico feliz com uma narrativa tão bem construída. O filme é uma delícia, e mergulhei nele.

Fiquei pensando, ao fim, se não seria muito Just Do It. Grab your destiny with your own hands... I don't care, eu respondi para mim mesma; me deixa em paz, coisinha. A história é muito bacana. E acaba que a vida se apresenta assim, o que fazemos com ela e por ela... Que filme legal.

Na trilha dos dois filmes, surpresas. Uma conhecida - Fake Plastic Trees, de Radiohead. Outra, novidade para mim: Are You Read, com Richard Ashcroft, música que saiu comigo do cinema. Ashcorft é vocalista de The Verve (Nooooo, eu sabia disso já? Sabia não. Descobri agora e adorei).

Hapinness, more or less
Is just a change in me
Something im my liberty
Hapinness
Coming and going
I watch you look at me
Watch my fever grow and
I know - just where I am...





Uma curiosidade: unidos pelo casamento, separados pela ficção. John Krasinski e Emily Blunt estavam nos dois filmes - ele no primeiro, ela no segundo. A family affair na minha sessão dupla de hoje.



Em itálico, trecho da música Lucky Man, The Verve (lyrics by Richard Ashcroft).






quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ordinary People... ou Leitores Like Us.


Ontem terminei o quarto livro da série Mortal Instruments (Cassandra Clare, 2011), The City of Fallen Angels.

A série havia acabado no terceiro livro, City of Glass... mas, de repente, apareceram mais três. Ela agora está prevista para acabar em 2013.

Eu me abalei com isso. De verdade. Não sabia se ficava feliz por ter Jace e Clary (e Simon e Isabelle e Alec e Magnus e...) de volta ou se tremia nas bases com o que Clare poderia fazer com personagens tão queridos para mim.

Comprei o livro assim que chegou ao Brasil. Aliás, comprei OS livros, a versão em capa dura e o paperback. Foi chegar a casa e deixá-los na estante. Não tinha coragem de ler. Veio-me a ideia meio insana de esperar até 2013, para ler a séria toda, sem espera. Claro que não consegui.

Abri o livro no sábado, fechei-o ontem. E só consegui trazê-lo aqui hoje, porque foi muito estranho.

Quem já viajou aqui com Amélie, sabe como eu não gosto muito da crítica especializada - de cinema, música, literatura. Não leio nada sobre um filme antes de assistir a ele. Passo os olhos rapidamente sobre alguma resenha que apresenta uma novidade para mim. Prefiro deixar que o filme, livro, música sejam portas de entrada para a narrativa que me trazem.

 Mas nas horas de crise emocional, rs, peço socorro a pessoas like me, leitores insanos que perdem o sono, sofrem, esperam, amam as histórias e seus personagens. Diferentemente de mim, eles expõem seus sentimentos em comentários no Amazon.com. E é para lá que eu corro quando preciso trocar ideias sobre o que li. Assim foi quando eu precisei acalmar o tumulto em mim com o fim de The Hunger Games (Suzanne Collins, série em três livros). O comentário de A. R. Bovey sobre Mockingjay (Unexpected Direction, but Perfection, lida por mais de mil pessoas) foi uma conversa tão legal que ele se encontra citado ao lado - olha a coluna da esquerda,... 

Assim que, antes de escrever este post, fui bisbilhotar o sentimento alheio a respeito de City of Fallen Angels.  E para nada variar, encontrei-me ali. Tanto que reproduzo um dos comentários, e deixo o link para um  outro

Não gostei da nova capa - as anteriores são muito lindas, a nova nem tanto. Amei ver Jace novamente. Adorei estar no mundo de Mortal Instruments. Foi divertido ter vislumbres a respeito de Will, na outra série de Cassandra Clare, Infernal Devices, situada 150 anos antes de MI. Mas o meu receio ainda é maior que a minha alegria... A tentativa de um autor de prolongar o sucesso de uma história nem sempre é satisfatória para o leitor. Deveria haver uma lei de proteção aos personagens de ficção, em que um autor fosse proibido de bagunçar com personagens e histórias. Richelle Mead fez isso com Vampire Academy no último livro da série, e sabe-se lá o que vai aprontar no spin-off de VA, Bloodline. Scary.

Passar a mão pelos livros da série com saudade; a surpresa em saber da extensão da série; a satisfação com o final anterior e a incerteza da continuação... click. Uma foto minha. E esta eu trago a seguir:

fine line between love and hate, April 13, 2011 - By lovespell
This review is from: City of Fallen Angels (Mortal Instruments, Book 4) (Hardcover)

"if you are anything like me then about a year ago or so you closed the cover of city of glass and placed it on your shelf with a satisfied sigh. It was a good ending to a great trilogy. For the next few months you would touch the books fondly as you passed by your bookshelf, reminiscing about the world clare had created. Then one day you heard the impossible, maybe from a friend, bookseller, or book review...there would be a fourth mortal instruments book "But i thought...!", you exclaim. Well, you thought wrong! Cassandra was indeed adding a fourth, fifth, and sixth installment to the beloved series. Your heart raced and your fingers twitched just thinking about it. So when that fateful day came you ran to the bookstore and grabbed the book. You went home, opened it and began devouring the pages. Except..you couldn't. Two days passed And you were only fifty pages in. Hmm how peculiar, usually you would have finished the entire book in one sitting. But this story was different. It didn't captivate you like the others had. Sure Simon was just as endearing as always. But the others. Well you just had the overwhelming desire to strangle them. Much like Jace did with Clary, in fact. Which you might add was rather annoying. Couldn't they just be together without any problems?! Jace had a completely different voice in this book. Gone were his witty banter and endearing arrogant nature. Sure, he had his moments. But most of the time he was in the corner brooding. Last time you checked twilight was still sitting on your shelf.... OH and the ending, Dear God. Way to take a hard earned twenty dollars and flush it down the toilet cassandra Clare! Why can't dead characters stay dead! move on! we are tired of living in the past! overall, this was not what i expected from one of the best book series i've ever read. Sure, ill read the next one. But i won't be expecting much... "

O outro comentário está em:



sábado, 7 de maio de 2011

I like beautiful movies telling me terrible things...

Finalmente terminei Juliet (Anne Fortier, US, 2010). Ando muito lenta para ler, a cabeça está pifando, rs. Demorei a engatar no livro, mas depois que isso aconteceu, foram duas noites sem dormir e uma manhã embaixo das cobertas, com chazinho e fim de livro (ontem). Eu simplesmente adoro livros que ficcionem autores ou criem outras histórias a partir de narrativas já conhecidas. Me and Mr. Darcy (Alexandra Potter, UK) foi um dos primeiros que li nesse sentido, pelo que lembro. Comprei num posto de estrada na Inglaterra e não me arrependi. Outros vieram, mas ele ainda é meu preferido. E tudo que aparece com Jane Austen me atrai, a partir desse livro. Ao pesquisar a autora para este post, descobri um outro livro dela que me chamou a atenção, principalmente depois de Juliet: Calling Romeo. Hohoho (Kal, peguei...), lá vou eu again!
De Juliet eu gostei muito. Eu me diverti horrores. No final, estava quase comendo as páginas. Ficcionar a ficção é muito legal. Do mesmo modo como ela cria outros mundos em mim, permite o surgimento de outras narrativas no papel. O começo do livro me lembrou a estratégia de Twilight - e de muitos outros, pois o prólogo que nos antecipa o futuro não é incomum - e alguns aspectos da trama me lembraram O Código da Vinci, na descoberta  de uma trama secreta... Mas na verdade ele não se parece com nenhum dos dois. Então, esquece o que eu disse, rs.

"They say I died.
My heart stopped, and I was not breathing - int eh eyes of the world I was really dead. Some say I was gone for three minutes, some say four; personaly, I am beggining to think death is mostly a matter of opinion.
Being Juliet, I suppose I should have seen it coming. But I so wanted to believe that, this time around, it would not be the same old lamentable tragedy all over. This time, we would be together forever, Romeo and I, and our love would never again be suspended by dark centuries of banishment and death. 
But you can't fool the Bard. And so I died as I must, when my lines run out, and fell back into the well of creation. 
O happy pen. This is thy sheet.
There ink, and let me begin."
(The Prologue).  

Thor. Keneth Branagh (como assim? Eu não sabia), US, 2011.

Fun, fun, fun. Duas horas de férias num dia bobo...
E, parafraseando Jane, Oh My God (Thor's abs não fazem mal à vista de ninguém).

Encontrando a Felicidade (Rabbit Hole). John Cameron Mitchel, US, 2011.

Como eu amo quando os tradutores de título no Brasil traduzem, no nome, a sua leitura do filme...

Intensidade + delicadeza incríveis = uma fórmula mais secreta que a da coca cola e que varia muito. Assim, poucos a consequem alcançar de forma honesta. E Nicole Kidman destroçou meu coração. Sem exageros. Um filme sobre perdas, não somente a específica da história. A moça da limpeza se assustou tanto comigo chorando que saiu correndo... Como eu amei esse filme.

Este, aliás, é um aspecto de que gosto muito nas salas do Embracine: a equipe de limpeza somente entra ao final dos créditos, enquanto houver alguém na sala. É um respeito ao espectador que não se encontra mais. No Embracine, vivenciei outra experiência rara hoje: ao final de A Partida (Okuribito. Yôjirô Takita, Japão, 2008), a sala relativamente cheia, ninguém levantou, falou ou saiu da sala. 

Outra ocasião em que isso ocorreu, foi com uma dos filmes da minha vida: Léolo (Jean-Claude Lauzon, França/Canadá, 1992), no Cine Brasília. Final do filme, silêncio e choque absolutos. 

Parce que moi, je rêve, moi, je ne suis pas...

icanread.tumblr.com

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pára o mundo que eu quero descer...

Ontem eu falava como gostaria de pedir asilo a Marte. O mundo está parecendo muito para mim. Hoje, novamente aquela vontade de fugir do planeta diante de um ataque ao meu espaço pessoal inacreditável.

Quando quero descer do mundo, eu corro para o cinema. Ele é meu asilo mais próximo. Hoje não tive dúvidas, só o escuro da sala me colocaria de novo com os pés do chão.

O filme, Água para Elefantes (Water for Elephants. Francis Lawrence, US, 20110, eu queria já ter visto há dias. Muita vontade e eu cheguei nele cheia de ressentimento. Então, preciso vê-lo novamente para entender o que ele me trouxe. Fotografia linda, bem cuidada, no entanto eu não sei se a direção é apressada ou se eu que estava meio impermeável à beleza. Mas tenho a impressão de que a história não empolga. Talvez tenha faltado um pouquinho mais de paciência no desenvolvimento da trama, que é bastante interessante.  

Essa falta de paciência, uma espécie de pressa para contar uma história, parece contaminar muitos filmes hoje. O argumento é ótimo, a trama vai bem, os personagens e atores, massa, mas a danada da pressa compromete muito. Uma narrativa construída com cuidado, honestamente, é uma delícia de se ver, ler, ouvir.

Rob Patz está melhorando, o bonitinho. Que, aliás, está incrivelmente lindo no filme. Mais solto também, embora eu ache que ele se segura muito ainda na atuação. O polonês de seu personagem fica travado na língua. O que já não acontece com Christoph Watz, que está se tornando o meu psicopata favorito no cinema. 

Na última visita à Cultura, esbarrei com o livro. Na próxima, saio com ele da loja. Afinal, os livros também são uma forma de colocar meus pés no chão.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quando abril ainda não havia acabado...

A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood. Cahterine Hardwicke, US/Canada, 2011).

Há algumas circunstâncias em que, inevitavelmente, eu preciso saber de outrem o que se pensou sobre um filme, um livro... Se suas dúvidas, encantos, desgostos foram os mesmos que os meus. Ou se foram outros. Geralmente, quando saio em estado de confusão do cinema, recorro aos comentários dos usuários em www.imdb.com.

Ao sair da versão de chapeuzinho vermelho de Catherine Hardwicke, precisei conversar com alguém a respeito. Como nem sempre sei de um amigo que viu o filme sobre o qual quero conversar, os comentários do imdb me ajudam nesse sentido também. Porém, o comentário que li ao sair do cinema foi tão discrepante com minha visão que deixei para lá e fui tentar entender por mim mesma o que senti ao ver Red Hiding Hood.

Então, hoje, antes de escrever este post, fui conferir as informações do filme e resolvi dar outra chance para os comentários. Haha, agora sim eu me encontrei. E uma frase do comentário que li diz muito sobre o filme para mim:

I wouldn't say I absolutely loved this movie, but I will say that I enjoyed it.




Enjoyable é uma palavra boa aqui. O filme me divertiu, entreteve. Diferente, porém, do comentário acima, um aspecto eu amei: a fotografia. Ela me encantou. O encanto - assim como o grotesco e o medo - faz parte do conto de fadas. O encantamento esteve presente para mim, então, pelas imagens.
Sim, eu sei que as tomadas da floresta remetem muito a Twilight. Mas não sei se alguém espera que Hardwicke arranque de sua cinematografia (assim mesmo, dramaticamente) o seu maior sucesso nos cinemas.

Sim, lembrei de A Companhia dos Lobos (The Company of Wolves. Neil Jordan, UK, 1984).  Com 16 anos eu achei o filme incrível, e a partir daí percebi como é difícil não se apaixonar pelos lobos. Mas preciso rever, e saí do filme com essa vontade.

Nâo li Mulheres que Correm com os Lobos (Clarissa Pinkola Estes, Rocco, 1992), mas também lembrei dele durante o filme. "Boas garotas não entram na floresta" me fez pensar nele. Mas a minha birra com esse livro é grande. Ele deve ser bom, porque quando implico é sempre para ser do contra...rs.

Em meio a tudo isso, volto às imagens. Elas me marcaram, e adoro até aquelas que considero mais óbvias, como o contraste da capa vermelha da Chapeuzinho no branco da neve. 


O Mágico (L'illusionniste). Sylvain Chomet, UK/França, 2010.

Depois das imagens de conto de fadas e do suspense em Red Riding Hood, entrei, em seguida, no encantamento da animação de O Mágico.

Uma sessão dupla muito feliz.

A música me fez ir muito para dentro do filme, ao mesmo tempo em que me embalou durante os momentos mais heartbreakin da história. Com mais falas que As Bicicletas de Belleville, no entanto, a música ainda é o condutor, o guia que nos insere nas imagens belas e cruéis da animação de Chomet.


80 minutos de levitação...

Rio again, com as crianças agora. Mais divertido com elas, com certeza. As risadas da Marcela me colocaram na história de outra maneira. Muito legal.



O último livro de abril foi uma surpresa boa:


Emprestado para mim pelo período de uma tarde, O Poeta de Pondichéry seguido de Maria Cristina Martins  traz duas duas história da autora portuguesa Adília Lopes. A primeira remete a uma personagem de Jacques, O Fatalista e Seu Amo, de Denis Diderot.

Eu não leio poesia, e isso na verdade sempre me incomodou. Tujdo bem, amo Fernando Pessoa, e viajo por ele. Mas não me considero uma boa leitora de poesia. Vejo os poetas, eles me encantam nos filmes... mas nunca chego às suas palavras. Eu me sinto, assim, como com um defeito de fabricação. Um defeito que me atrapalha, mas não me impede de seguir. Assim eu o deixo para lá, embora algo me lembre dele de vez em quando.

Wences me emprestou o livro no mesmo momento em que me deu outro de poemas de presente (feliz!), da Adélia Prado, poetisa brasileira.

Nesse mesmo dia, outra novidade boa chegou para mim, pelo Wences e, posteriormente, pelo Bernardo, da Livraria Cultura - numa daquelas coincidências legais da vida, que se chamam assim, mas que na verdade fogem da sua denominação.

A coisa boa? Os autores portugueses e africanos de língua portuguesa. Primeiro, veio  Adília Lopes e Ondjak - dos que lembro, porque foram vários. Depois, Gonçalo M. Tavares e  E. M. de Melo e Castro.

A coincidência? Muito longa a história para contar aqui. Mas ela pode aparecer a qualquer momento no Degraus de Amélie...

O Poeta de Pondichéry seguido de Maria Cristina eu li com um sorriso ao final de cada página, apesar das narrativas de cortar o coração. Dois trechos trago aqui, respectivamente, das duas histórias.

Um sorriso grande para os dois.

E um muito obrigado aos amigos queridos.



Tenho pelos meus poemas
a ternura que a coruja tinha pelos filhotes
mas não tenho a sua cegueira
porque sei que Diderot acha os meus poemas maus
a coruja disse à águia
podes comer os passarinhos que quiseres
mas não comas os meus filhos
os meus filhos são os passarinhos mais bonitos
que encontrares na floresta
a águia comeu os filhos da coruja
comi os teus filhos porque eram feios
disse a águia à coruja
as comparações são muito perigosas
(como os diamantes)
certas comparações valem fortunas
não vejo o que possa ser comer poemas
talvez fazer contas ou hieróglifos obscenos
nos papéis onde estão os meus poemas
não vejo quem possa ser a águia
Diderot não é a águia
mas uma pessoa neste momento
pode estar fazendo contas e hieróglifos obscenos
num dos meus poemas
não vejo uma águia a fazer contas e hieróglifos obscenos
nos filhos de uma coruja
talvez Walt Disney visse
O algodão doce
assustou-a
a ponto
de saltar do carroussel
em andamento
e de torcer um pé


Genial. O primeiro trecho eu retirei de um jornal literário de Curitiba, que descobri ao procurar o poema - rascunho.rpc.com.br -, num post entitulado 7 Poetas Portugueses, pois perdi minhas anotações.
Nas procura por Adília Lopes, esbarrei em mais uma classificação que não conhecia. Arte Naïf. Ugh.