segunda-feira, 16 de abril de 2012

Three is company

Ontem, domingo, dia de sol, muitas possibilidades... perfeito para me internar no cinema, na hora do almoço, e assistir a  vários filmes seguidos.

As escolhas de ontem forma simples. O horário determinou algumas dela, e um comentário de Kal, sobre como eu gostaria da pegada (amei isso) de um dos filmes me levou à última sessão do dia. Mas chega de enigmas, certo?

Como Agarrar meu Ex-namorado (One for the Money. Julie Anne Morinson, US, 2012) foi o filme do meio dia, onde tomei o café da manhã. Eu estava  com os dois pés atrás com esse filme, mesmo que curiosa, e todos eles se confirmaram. Mas como eu me diverti - mesmo que não tanto quanto o carinha de duas fileiras acima, desesperado para chamar a atenção da menina que o acomanhava : ) Incômodo, mas fofo anyway.

O Ranger de Sunjata, hilário
Eu me diverti com a história. Bom, isso quando não brigava com o cabelo de Katherine Heigl e com a cafonice infinita do filme. Acho que houve aqui uma tentativa de trazer o ambiente dos livros de Jane Evanovich (que eu não conhecia), uma cidade pequena, uma família grande e intrometida, um lugar sem muitas opções para Stephenie Plum, a personagem da série, resolver seus problemas. 

O'Mara, Irish boy
Katherine Heigl está incrivelmente ruim no filme. Jason O'Mara, ator irlandês que apareceu já em várias séires de TV, é um alívio para os olhos, mas não aparece muito e também não está essas coisas. Eu me diverti mesmo foi com o Ranger de Daniel Sunjata, um ator também constante na TV (ele namorou a Bayley na série de TV Greys Anatomy, em outro papel divertido). Nos livros, ele deve ser uma figura impagável, pois nesse filme, ruim que dói, ele já faz valer o ingresso. 

O mais engraçado foi que, no filme seguinte, 12 Horas (Gone. Heitor Dhalia, US, 2012) ele está também, dessa vez num personagem que seria importante se, ao final, não se mostrasse tão insonso. Mas como eu ria toda vez que o via, totalmente na contramão do filme a que assistia agora.

Filme que anda bem, dá uns sustos, provoca curiosidade - em meio à incredulidade com algumas pataquadas - até chegar ao final, quando vi que tanto Sunjata como o meu vilão querido Wes Bentley (que só faz papéis bizarros e maus, inclusive em The Hunger Games) foram completamente desperdiçados. 

O final é bobo e o clímax, fundamental num suspense, passou longe. E ele me trouxe só imagens erradas...rs. Não conseguia parar de pensar na Lagoona Blue, boneca da personagem de Monster High, que minha sobrinha associa a Amanda Seyfried, mocinha do filme. Bummer.



Assim, passei para o round three, um exemplo de como manter a esperança, rs. De Steven Soderbergh, um diretor com quem eu queria casar por boa parte da minha vida, À Toda Prova (Haywire, US/Irlanda, 2012) é uma mostra do que ele faz quando quer se divertir. E, por mim, ele podia procurar diversão pelo resto da sua vida. Este também foi o terceiro filme, em três semanas consecutivas, que vi com Michael FassBENder. Nada mal também - já estou procurando outros filmes dele em DVD para não passar por uma crise de abstinência na semana que vem : )

Não houve como não pensar em Irresistível Paixão (Out of Sight, 1998), um dos primeiros filmes que Soderbergh fez nessa linha, dez anos após ganhar a Palma de Ouro de melhor Diretor em Cannes com o meu amado Sexo, Mentiras e Videotape (1989) e três anos antes de chegar à mega dimensão de 11 Homens e um Segredo (2001). Out of Sight, com George Clooney e J. Lo, não é muito conhecido por aqui - pelo menos para as pessoas para quem pergunto, rs. Na época em que o vi, passei a sessão entre a admiração com uma história tão boa e divertida, contada de forma que achei inteligente, e a pessoa que me acompanhou e que se encontrava num espírito de porco insistente - queria me provar, a cada cena, como o filme era cafona. Santa paciência, Batman.

Mas o filme é uma delícia. Uma de suas cenas, especialmente, é preferida minha - a Dama e o Vagabundo em excelente forma. Eu a trago aqui... mas tente assistir ao filme, se você não o conhece. É genial, assim como a trilha sonora.


Haywire segue por aí... a trilha sonora é boa também. Os personagens são divertidos e nonsense, mas têm alma. São pessoas, não estão ali somente para criar situações inusitadas. Mas o inusitado aparece, dessa vez numa forma que tem aparecido com os diretores mais consolidados: atores famosos que aparecem às pencas, em personagens maluquinhos, e que criam reações diferentes em nós: surpresa, incredulidade, diversão... As estrelas, aqui, são parte também da construção da narrativa, e ajudam, com o seu currículo, rs, a contar a história.

Gina Carano, lutadora do MMA e novata em Hollywood, circula em meio aos grandes e segura o filme - ela me lembrou Corra, Lola, Corra e, claro, Kill Bill em vários momentos. 

Definitivamente eu gostei da pegada : )




PS: O título deste post veio de History, do The Verve, musica que se encontra a uns dois posts abaixo... And one and one is two, but three is company...

Remember When You Loved Me

    Há dias em que demoro para chegar ao Viagens. Os livros se acumulam, vários filmes são visto, mas escrever sobre eles não acontece. Já percebi que, quando é assim, algo me incomoda. Há uma dificuldade em falar sobre o que li ou vi.
     
      A dificuldade da vez chama-se Love, Again, livro de Doris Lessing.

     Indicado por minha sis de alma, Kal, eu já cheguei a ele com muito carinho. Apesar de lermos coisas muito diferentes - ela ama a poesia, que meu coração ainda não conseguiu encontrar, por exemplo -, eu e essa amiga amada de muito tempo também nos encontramos em muitas histórias que lemos. Assim foi com Double Fault, que me levou a ler outros livros de Lionel Shriver, hoje uma das minhas autoras mais queridas. 

Com Love, Again, Kal queria me contar algo... mas só poderia fazê-lo se eu lesse o livro. Assim, embarquei de coração na história de Sarah e seu encontro com o amor vinte anos depois de haver se apaixonado pela última vez. Autora teatral, com 65 anos, no início de uma nova produção, ela encontra o amor em dois homens diferentes... os dois considerados impossíveis.

No seu apaixonar-se, encontramos a produção teatral de uma peça sobre Julie Vairon, um personagem que em si já nos corta o coração - e assim é com os outros envolvidos na produção, especialmente Stephen, que divide a autoria do texto com Sarah. 

O amor de Sarah dói - no corpo, na alma... e ler essa dor, tão belamente escrita por Lessing, acabou comigo. O tamanho do encanto correspondeu ao sofrimento... e daí não consegui trazer Love, Again ao Viagens tão cedo. 

Love não só pelo outro... mas pela arte, pela música, pela vida que ela emana, e que pode se desfazer com o tempo ou ser inalcançável, como o amor impossível de realização. Nas palavras de Lessing, a busca de seus personagens, seu caminhar nesse cenário belo e sofrido, cria vida.

Doris Lessing, Nobel de Literatura
Há dias já o terminei de ler o livro, mas ele permanece comigo. Hoje tive um sonho povoado da alma de Julie Vairon... E aí soube que Sarah não podia ficar mais um dia longe do Viagens. Mesmo que, para trazê-la aqui, eu tivesse que falar das dolorosas perdas que sua história conta - e aquelas que acontecem pelo simples andar da vida parecem as mais devastadoras. 

But what could be older than the way that books which chime with one’s condition or stage in life insinuate themselves into one’s hand. (p. 4).

Here two unsentimental Englishwomen smiled at the Frenchman who was being so formally sentimental, exactly as expected. And in fact he had tears in his eyes. (p. 49).

Photographers are always in search of that perfect, that paradigmatic, but just out of reach summit of revelation. (…) And while Mary sat chatting with them all, her camera was held between alert fingers, ready to swoop it up into place to catch that unique and utterly unrepeatable pose or look which would transform a summary biography – twenty lines on the programme – into irresistible truth. (p. 77).

‘It’s good to love in  a moderate degree, but it is not good to love to distraction.’
‘God Knows. Who?’
‘Plautus.’
‘Plautus!’ (p. 149)

She said, her eyes wet, ‘Funny how we subject ourselves to music. We never ask what effect it might be having.’ (p. 171).
‘Un moment,’ reproved the café proprietor, though no one had said a word. ‘Un petit moment, mesdames, messieurs.’ He disappeared inside, with a stern air. Because of Sartre, they knew that he was playing the role of Monsieur le Patron, just as the urchin was playing his role. (p. 182).

‘I think Proust’s pleasures in self-analysis was stronger than his sufferings over love. As for Stendhal, I think the analysis was a way of surviving the suffering.' (p. 213)

There are a stage in love when the two stare in incredulity: how is it that this quite ordinary person is causing me so much suffering? (p. 249). 

That is to say, what remained was mild low spirits of a kind she could match easily with this or that bad patch in  her life, but they were as far removed from the country of grief as they were distant from happiness. She stood in a landscape like that before the sun comes up, one suffused with a quiet, flat, truthful light where people, buildings, trees, stand about waiting to become defined by shadow and by sunlight. This is the landscape recommended for adults. (p. 328).

Depois do furacão Lessing, busquei paisagens mais tranquilas. E assim cheguei a The Last Days, de Scott Westerfeld, o autor de da série Feios, que já comentei aqui e que não consegui terminar de ler. Ele foi também uma indicação, agora de outro amigo, em uma conversa entusiasmada sobre os vampiros e suas histórias que nos rodeiam hoje. 
       
       O livro é de 2006... mas, todo o tempo, eu o senti como escrito nos anos 80. Ao final, essa impressão se confirmou quando o autor explica  que cada capítulo recebe o nome de uma banda - a maioria delas vêm do punk, no final dos anos 70, início dos 80.
    
      A história de jovens que se encontram meio ao acaso e sua banda apocalíptica - a sua música consegue trazer à superfície os monstros que ameaçam destruir o mundo - traz muitas ideias sobre como imagens mitológicas e narrativas vêem e vão. Como têm destaque em determinadas época e, em outras, ficam mais escondidas - mas sempre presentes. Os vampiros são assim... e há dois na banda : ) A força de um show de rock também está ali... e o Westerfeld traz sua moral da história ao colocar como essa energia acumulada em um só lugar pode representar uma destruição ou a resistência ao mal. Ele fica com a última, a meu ver. Deixa soltas as outras possibilidades, mas sem se comprometer muito com elas. 
   
    The Last Days é uma continuação da ideia iniciada no livro Peeps. A este ainda não cheguei, mas está nos planos. 

“Uh!”, I interrupted. “Not that word!” If he asked me what my influences were the whole thing was off.” (…)
I sighted though clenched teeth. How was I supposed to explain that I was in too much of a hurry to give a dam? That there were more important things to worry about? That the world didn’t have time for labels anymore? (p. 14). 

Through most of history, vampires were rare; but every few centuries, humanity needed tons of them. This epidemic was our species’ immune system gearing up, peeps like killer T-cells multiplying in our blood, getting ready to repel an invader. Of course, as Cal liked to point out, immune systems are dangerous things: lupus, arthritis, and even asthma are all caused by our own defenses. Fevers have to be controlled. (p. 227).

Mas o encontro de alma aconteceu numa quarta-feira em que, diante da perspectiva de uma manhã de espera para fazer diversos exames, eu tive a iluminada ideia de pegar Daytripper, a HQ dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá e levá-la comigo. A manhã, que prometia ser um tédio, se tornou maravilhosa e encantada. E, no final, já sentada no café para quebrar o jejum, as lágrimas corriam pelos meus olhos. Um mico, mas muito pequeno se comparado ao quanto Daytripper me transportou para o quanto a vida é gratificante, bela e assustadora.


A seguir, algumas palavras que não conseguem, no entanto, trazer muito da história. E as que me tocaram mais fortemente não deu para colocar aqui... ficam como surpresa emocionante se você resolver embarcar nessa viagem. Há duas edições, uma mais bonita, em português, e a original, em inglês... muito lindo.

Travelling on the promotional tour of his successful first book, Brás notices how people greet him as if they’d already met him.
They’ll skip all the preliminary questions strangers normally ask to break the ice.
The book has done it already. It looked and smiled and won everybody over.
People who like the book naturaly assume they’d like the author as well.
They think they know who he is.
They think they’re his friends.                 
(pp. 156/157). 


Depois de Daytripper, cheguei a outro quadrinho, que, como este, foi uma indicação da Rita querida. 

       Fables: Legends in Exile apareceu para mim por trazer uma ideia que permeia minha tese: a presença da ficção na vida cotidiana. Nesse primeiro livro da série de Medina, Leialoha e Hamilton, os contos de fada, exilados do seu mundo, vivem incógnitos em NY. Fora dos contos de fadas, suas histórias são diferentes e mais domadas, digamos assim. As atrocidades que compõem muitos desses personagens devem permanecer no mundo das histórias... mas nem sempre é assim - e aí várias tramas surgem.
  
Gostei, diverti e pensei muito, claro, em Once Upon a Time, a série de TV, em que os contos de fadas também se encontram em uma cidade dos Estados Unidos, mas por motivos diferentes. Mas, sobretudo, percebi algo sobre mim: me atrai muito numa HQ, talvez mais que a história,a arte. Assim, em Fables, o que mais me entusiasmou foram os desenhos presentes ao final de cada capítulo. Lindos demais.



PS: Voltando um pouco às sombras... e quem disse que eu consigo ficar muito longe? Hoje consegui encontrar todas as músicas com que Snowqueen Icestorms compôs uma playlist que Edward apresenta a Bella em seu Master of The Universe. Em 50 Shades of Grey, há apenas a alusão a algumas músicas, acho que por problemas autorais... mas, no conto original, o set list tem até capa : ) A lista é muito bacana, actually. Uma delas, no entanto, ficou comigo hoje, especialmente durante este post, enquanto voltava ao turbilhão que Lessing me apresentou. Ao final do vídeo, a voz de Tom Waits, que amo amo amo, mesmo quando esqueço o quanto. 

  
Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me


Come closer don't be shy
Stand beneath a rainy sky
The moon is over the rise
Think of me as a train goes by
Clear the thistles and brambles
Whistle 'Didn't He Ramble'
Now there's a bubble of me
And it's floating in thee
Stand in the shade of me
Things are now made of me
The weather vane will say
It smells like rain today
God took the stars and he tossed them
Can't tell the birds from the blossoms
You'll never be free of me
He'll make a tree from me
Don't say good bye to me
Describe the sky to me
And if the sky falls, mark my words
We'll catch mocking birds
Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me

domingo, 8 de abril de 2012

Still the shades...


And to know you is hard; we wonder...
To know you all wrong; we warn.



Parece que o universo resolve fazer alguns intensivos comigo de vez em quando. Intensivos temáticos, that is. Bom, se eu pensar na astrologia e no que são os trânsitos astrológicos - o movimento dos planetas, do Sol e da Lua em relação ao nosso mapa natal -, é isso mesmo. Temas existenciais que nos cutucam e pedem atenção.


Nestas duas últimas semanas, mais especificamente a que passou, foram as sombras para mim. Posso dizer que foi um presente : )

Depois que consegui largar as sombras de Grey - Fifty Shades of Gray, Darker e Freed -, cheguei ao cinema finalmente. E lá, o que encontrei? Outras shades, maravilhosamente projetadas em filmes incrivelmente bons.

Propositalmente, fechei o livro de E.L. James para chegar a Shame (Steve McQueen - não,não é o ator, mas um diretor inglês novo. Uk, 2011), um dos filmes que, desde o ano passado, tÊm chamado muito a atenção para Michael Fassbender, que vimos em Bartardos Inglórios, de Tarantino. 

Wells... não há como não chamar a atenção aqui, já que ele passa bem uns dez minutos andando nu em frente à câmera, na sua rotina matinal em diferentes dias. Brandon, já de início, diz McQueen, irá se mostrar completamente. Sem muitos preâmbulos e disfarces. O que descobri, durante  o filme, é que essa crueza pode vir acompanhada também de beleza. 

O filme é belo. Uma composição cuidadosa, com um ritmo digno do desnudamento da dor de uma pessoa. Os prelúdios de Bach que acompanham Brandon em seu caminho na cidade de Nova York me colocou muito próxima dele. A trilha do filme é toda linda, e agora a ouço, principalmente Bach - uma herança também de Fifty Shades. Queria trazer uma cena em que Brandon corre pela cidade ao som de Prelude & Fugue n. 10 in E Minor, mas não a encontrei. Belo. 

Aqui também como  em Fifty, as sombras aparecem muito explicitamente nas dificuldade de relacionar-se - e,, também again, a alegoria para a dor e a distância emocional é o sexo. No caso de Brandon, há um certo vício... que o mantém afastado dos envolvimentos emocionais e da dor de que procura se afastar desesperadamente.

A aproximação de sua irmã o tira desse isolamento seguro e autodestrutivo. Contradição? E do que mais se constitui a vida? Então.

Carey Mulligan, que havia visto uma semana antes, em Drive, está novamente perfeita aqui. Num personagem completamente diferente, revela o quão boa atriz é. Sua interpretação para New York, New York é de cortar o  coração.

Eu me conformo aqui com o fato de que, diga o que eu diga, não vou conseguir descrever a beleza desse filme e sua imensa dor. O que posso dizer é que ele veio como um diálogo muito importante com tudo o que senti com Fifty Shades. E aí penso oq ue seria de mim se tivesse conhecido Brandon sem falar com Christian e Ana primeiro. Impossível.


No caminho sombreado da dor e da alegria de sermos quem somos, cheguei, novamente de propósito, às sombras em Beleza Adormecida (Sleeping Beauty. Julia Leigh, Austrália, 2011). De início, pensei que fosse uma versão para o livro de Kawabata, A Casa das Belas Adormecidas, que li há uns dois anos. Nele, um senhor japonês se torna cliente de uma casa de prostituição em que as moças se encontram adormecidas. Ele pode deitar ao seu lado, tocá-la com certa restrição, sem jamais penetrá-la. Durante a noite, ao lado da bela adormecida, Eguchi reflete sobre sua vida e a morte que se torna eminente com a idade.

No filme, Lucy é a bela que dorme enquanto desconhecidos passam a noite ao seu lado, num quarto luxuoso, despejando na prostituta que dorme toda a dor, tristeza, frustração, raiva, agressividade com que o fim da vida e a impotência sexual representam. 

Ao final, um grupo de mulheres passou por mim em indignação  com o que tinham acabado de presenciar. Eu não sei, o que as pessoas esperam encontrar num panorama tão sofrido? A própria história da Bela Adormecida, a que o título remete, é de dor e perda... o príncipe a beija ao final? Ok, pode ser. Mas, enquanto o final não chega (true love will find you in the end...), a jornada é essa. E a de Lucy, especialmente, não é fácil. Mas é, sobretudo, fruto de suas escolhas - e não necessariamente a falta delas. Lucy não é indefesa. É forte, confusa, lutadora - na imensa inadequação que sente a uma vida conservadora. E merece respeito no desdobrar das suas  batalhas.

Depois de Beleza Adormecida, na sessão seguinte, assisti a Habemus Papam (Itália/França, 2011), o último filme de Nanni Moretti, o amado diretor da lambreta em Caro Diário. O que mais me prendeu na história do Papa que, eleito, tem uma crise de pânico e não consegue assumir o pontificado foi como ele leva a sério a sua escolha para a função. Ele não a tem como certa, e não se trata apenas da dúvida a respeito da suas capacidades, mas a consciência da dimensão gigantesca da sua tarefa. Essa percepção me levou a pensar como nunca, nunca, apesar de todo o sofrimento que pode acarretar,  é demais considerar a vida em toda a sua importância e seriedade. Não banalizar o que nos é oferecido, jamais. 

A ausência de banalização da vida esteve no documentário de Win Wenders sobre Pina Bausch (Pina. Alemanha/França/UK, 2011), coreógrafa alemã que compunha suas coreografias - composições insuportável e belamente fortes - a partir dos sentimentos e percepções dos seus bailarinos. Assim, nada mais justo que eles, bailarinos, contassem de Pina e sua dança. Eles o fazem em imagens desconexas com seus testemunhos in off. Afinal, como conjugar intenção e fala sobre Pina, que faleceu de câncer dois dias antes de iniciadas as filmagens do documentário?

Perplexidade, perda, saudade e respeito aparecem em suas expressões e memórias. E como dizer que o filme é só belo? Eu sofri horrores. E saí com o coração repleto de encantamento.

No mesmo dia, em outra sessão dupla, escolhi A Dançarina e o Ladrão (El Baile de La Victoria. Fernando Trueba, Espanha, 2009) principalmente por Ricardo Darín, de quem gosto muito e com quem ainda estava encantada por Um Conto Chinês. Aqui não vou falar muito... a história eu achei bela, a transformação que Darín sofre em um momento da trama é linda de ver. Uma fábula encantada, eu, no entanto, não a achei encantadora. Num filme cheio de irregularidades e cafonices, a beleza acabou por se perder para mim.

No dia seguinte, cheguei a um filme que queria muito ver, mas tinha receios. Um Método Perigoso (A Dangerous Method. David Cronenberg, UK/Canadá/Alemanha/ Suíça, 2011) traz novamente o trio de A Jornada da Alma, filme de 2022 de Roberto Faenza: Sigmund Freud, Carl Jung e Sabina Spielrein. Famosos por sua importância na criação e concretização da psicanálise como método terapêutico, os dois filmes pretendem trazê-los em seu intenso relacionamento. Do filme de 2002 eu saí muito brava com o retrato de um Jung babaca e fraco. 

Nesse sentido, Cronenberg não me decepcionou - danandinho.  O que hoje lemos nos livros como a grande ruptura de duas mentes brilhantes e as origens da maior psicanalista que a Rússia já teve, ele expõe em relações fortes e delicadas, sofridas e intensas, imperfeitas e grandiosas. Quando Freud, diante da percepção do que significaria sua divergência com Jung, perde literalmente o equilíbrio, meu coração afundou no peito. Quando Jung não consegue se reerguer do rompimento com Sabina e Freud, a sua paralisação não o enfraquece, como no filme de Faenza, mas mostra as imensuráveis dimensões de um homem que tentou sobretudo entender a riqueza da alma humana e da vida. 

Os diálogos? Brilhantes. Mas eles o são justamente pelo que expõem dos seus interlocutores. A ênfase na correspondência dos três remete a como suas relações se construíram num tempo muito diferente das mensagens instantâneas atuais. As interpretações intensas e sóbrias de Fassbender (suspiro suspiro), Viggo Mortensen (um alívio da caricatura usual) e Keira Knightley (espantosa) ajudam a tecer as relações que Cronenberg expõe. Eu me surpreendia a cada minuto de projeção, e a surpresa foi boa e gratificante. 

E a ficção conta a história mais uma vez.

Antes das sombras, três filmes divertidos fizeram parte do meu março. Guerra é Guerra (This Means War. Timothy Downling, US, 2012) eu queria ver pelos trailers... mais uma contradição, porque, como as melhores cenas estão nele, muito do filme se perde. Mas eu me diverti demais, principalmente porque os dois em guerra são dois hummmms fofos. Mas o trailer podia, sim, ter sido mais discreto, rs. 

Em O Lorax: Em busca da Trúfula perdida (Dr. Seuss The Lorax. Chris Renauld, Kyle Balda. US, 2012), a minha maior diversão foi meu sobrinho de três anos rindo alto durante o filme. Ah, e as árvores de algodão doce, muito lindas. De resto, mesmo sendo a adaptação de uma história do Dr. Seuss, o filme, dos mesmos realizadores do meu querido Despicable Me, não me cativou tanto. 

John Carter - Entre dois mundos (John Carter. Andrew Stanton, US, 2012) me surpreendeu e divertiu, além de chamar a atenção para os livros, do mesmo autor de Tarzan, Edgar Rice Burroughs. Não sei como ocorre na escrita, mas gostaria que a volta de Jonh à Terra e sua busca por uma oportunidade de voltar a Marte fosse um filme completo.

Novamente deixei muitos filmes para citar no mesmo post... não gosto de fazê-lo porque muito se perde na quantidade de comentários. Hoje - ontem, aliás - foi um foi um dia cansativo, meu sono está atrasado... e aí muti do que as histórias me contaram se perde em uma escrita superficial. Mas preferi trazê-los dessa forma mesmo. Afinal, a conversa pode continuar nos comentários, certo?

E Feliz Páscoa  para todos!!!

Reservoir Eggs!!!


PS: No começo deste post, eu o escrevi ao som de Band of Horses, uma das minhas bandas favoritas hoje e que conheci, para variar, em uma cena. No caso, no seriado de TV Fringe. Ouvi a música - There is a Ghost -, coloquei-a como toque no celular e fui atrás dos outros CD's. Assim, descobri outras musicas que amo hoje. Uma delas é a que aparece em citação no início - The Funeral. Ela também foi o encerramento de uma outra série, FlashForward, que começou bacana, mas não vingou. 

Band of Horses foi uma das bandas a tocar hoje no Lollapalooza sem São Paulo. Todo mundo morrendo pelo Foo Fighters e eu, sempre na contramão, quase tive um treco quando, nesta semana ainda, vi que ia perder o show de Band of Horses. Ao procurar no youtube, encontrei todo o show deles hoje, uma delícia. A última música do set list foi justamente The Funeral:





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