terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Until The End of The World - Lars Von Trier meets Terence Malick

Em dezembro, outros filmes aconteceram, além dos desenhos a que assisti. O primeiro deles foi Como Ela Consegue (I Don't Know How She Does It. Douglas McGrath, US, 2011), que escolhi principalmente porque Marcelita, de 7 anos - agora 8!!! Parabéns, minha flor! - iria me acompanhar. Pelo trailer, achei que poderia haver muitas cenas engraçadas, e então nós duas sairíamos felizes do cinema - mesmo que ela ainda não consiga ler as legendas todas. 

Bom, mas não foi nada disso. O filme se propõe a uma reflexão sobre o lugar que uma mulher casada e mãe pode ocupar no mundo corporativo. Como ela consegue? Como une aspectos tão diferentes de sua vida? E assim vai... o filme se arrasta, arraaaaaasta... ou eu o senti assim porque a flor olhava para mim com a cara mais desconsolada do mundo a cada cena que não entendia, rs. 

As circunstâncias em que assistimos a um filme fazem parte dele tão fortemente quanto as imagens apresentadas na tela. Por isso, não sei contar de Como Ela Consegue fora do contexto em que o vi. Mas tenho a impressão que este texto não seria muito diferente se tivesse encontrado o filme sozinha. As situações me pareceram forçadas, o drama foi exagerado, a "solução" final para todos as mazelas foi um desaforo aos happy endings... Enfim, duas pessoas, naquele dia, curtiram mais a pipoca e a cadeira confortável do Platinum que o filme a que foram assistir.

Por muito tempo eu esperei que Melancolia (Melancholia. Lars Von Trier, Dinamarca/Suécia/França/Alemanha, 2011) chegasse aos cinemas aqui. O poster já me chamava fortemente para o filme. Demorou, demorou... finalmente chegou numa mostra gratuita do CCBB. Não consegui ir. Depois, ficou em exibição por pouco tempo na sala Platinum... a que também não cheguei. Finalmente, na sessão Cult do Cinemark, eu assisti a esse filme tão esperado. E foi incrível. As altas expectativas, dessa vez, não atrapalharam a experiência!

Expulso do festival de Cannes deste ano por fazer uma piada, assim se espera, sobre ser nazista, Lars Von Trier já havia declarado há alguns anos que sofria de uma forte depressão. Tanto que suspeitava não ser possível mais filmar. Dessa depressão surgiu Anticristo, um filme que considero frio e analítico, uma tese em imagens a que falta sentimento, visceralidade e emoção, apesar do tema. 

Assim, mesmo com expectativas, entrei na sala de cinema para encontrar Melancolia com uma  certa precaução. Esta foi para os ares já nas primeiras cenas, que me remeteram às imagens do universo em A Árvore da Vida, de Terence Malick (The Tree of Life, 2011). A forte impressão de inevitabilidade uniu os dois filmes para mim. E nos dois eu me emocionei muito.

A depressão é realmente o fim do mundo. Tentamos nos conformar com uma vida considerada normal - casamento, trabalho, família... -, mas nada faz sentido. Somos esmagados, literalmente, e o mundo acaba. Como reagimos a isso - se encaramos de frente e reconhecemos o que se passa ou se negamos e esperamos uma solução milagrosa - diz muito do nosso posicionamento diante da vida. E do fim da vida. 

Vale lembrar que, por esse filme, Kirsten Dunst recebeu, a meu ver mais que merecidamente, a Palma de Ouro deste ano como melhor atriz. E, mesmo expulso for sua fala infeliz, Lars Von Trier, em Melancolia, se mostra um diretor impecável. Atores conhecidos como Alexander Skarsgard e Kiefer Shuterland, os dois protagonistas conhecidos de seriados de TV (estamos falando de True Blood e 24 horas, nada mais, nada menos...rs), ficaram irreconhecíveis e desassociados dos seus personagens famosos. Um desafio a qualquer diretor.

Enfim, resolvi assistir a Um Dia (One Day. Lone Scherfig, US/UK, 2011), adaptação para o cinema do livro de David Nicholls, que eu trouxe aqui no Viagens

Engraçado como a nossa relação com uma história muda. Cheguei ao filme sem muitas expectativas, já que o livro havia me deixado com um gosto amargo ao final. Rita, minha amiga querida e leitora profissional, rs, me disse que aquilo que havia me incomodado era apenas fatos da vida. That's life, ela disse. Para mim, no entanto, ficara uma sensação de "oh, quanta chance de redenção" há nessa existência. Ok, minha visão é realmente cínica, mas ela foi forte ao final do livro.

Ao assistir ao filme, algumas impressões anteriores se confirmaram. Na tentativa de se manter fiel ao livro, Scherfig (que nome é esse...) acabou por cometer o que, para mim, é um dos pecados mais graves numa adaptação: a desconsideração de que se trata de duas linguagens muito diferentes. Fez um retrato do livro em imagens, mas nele perdeu a história que contava. O livro traz o mesmo dia - 15 de junho - no dia dos protagonistas e, assim, como a vida dos dois está em cada ano. Mas em cada capítulo, os acontecimentos, sentimentos, desafios, alegrias, conquistas e mudanças dos personagens se apresenta, e sua jornada anual não fica incompleta. Essa coerência se perde no filme, e não sei se a vivência de Dexter e Emma tem algum sentido sem a viagem anterior no livro. 

Há uma cena em particular em que um simples flashback - que se encontra no livro, by the way - resolveria um gap imperdoável. Mas ele não ocorre, e assim se perdeu uma oportunidade de dar mais intensidade à história de dois amigos que vêm seu relacionamento se transformar nos vinte anos em que convivem. 

Prova de que boas ideias por si só não se sustentam... 



PS: O elenco de One Day foi perfeito para mim, though. Anne Hathaway é Emma! E Jim Sturgess é a imagem de Dexter mais velho... talvez por isso o final da história, no filme, tenha feito mais sentido para mim. A fala de Dex em filme me disse mais do que sua versão em palavras...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Férias no cinema... Happy Days!!!

Somente nesta semana, quatro filmes infantis estrearam nos cinemas. Fui, com os pequenos, aos quatro. E aqui estão eles...

O primeiro, e muito aguardado, foi Happy Feet 2: O Pinguim (Happy Feet Two. George Miller, AUS, 2011), que deu continuidade ao filme de 2006. Adoro os pinguins dançando, mas o filme é muito pesado a meu ver. As discussões são boas, mas a forma em que aparecem não me propicia conversar com elas. Uma canseira, na verdade, porque não tenho muita paciência para o que, a meu ver, é uma forçação de barra desnecessária. Para dificultar um pouco, a ressaca estava grande, rs. Mas as crianças curtiram e se divertiram.

O segundo deles foi uma surpresa maravilhosa. Operação Presente (Arthur Christmas. Sarah Smith, UK/US, 2011) já é um dos meus desenhos favoritos, na linha de Wall-E e Meu Malvado Favorito. Eu e Marcela rimos muito, mas muito mesmo, uma delícia. O resto do mundo sumiu enquanto viajávamos no trenó com várias gerações da família Noel. O filme é fofo, engraçado, bem feito, inteligente. Ou pelo menos assim eu o vi - e me diverti horrores : ) Não vale falar muito dele... mas dê uma chance ao filme, mesmo sem alguma criança para acompanhar... o desenho é incrível. Eu adoro filmes de natal...

O Gato de Botas (Puss in Boots. Chris Miller, US, 2011) era outro filme muito anunciado. Divertido de uma forma diferente, meu coração não ficou tão feliz como no filme do natal, que é muito doce. Gato de Botas aventura-se na história de João e o Pé de Feijão. A ironia prevalece, nós rimos muito, mas não saímos com o coração repleto como em Operação Presente (repito, o nosso favorito absoluto dentre os quatro, rs). E o ganso dos ovos de ouro é uma figurinha bizarra...!


Agora, em Os Muppets (The Muppets. James Bobin, US, 2011) eu me estrebuchei de chorar. O filme gira em torno do saudosismo de imagens que foram importantes para a geração anterior, de coisas que hoje são desconhecidas, mas que marcaram o imaginários dos adultos de hoje. Embora, em muitos momentos, o saudosismo seja too much, ele funciona. As minhas lágrimas e emoção durante todo o filme - encaradas com suspeita pela figura de sete anos ao meu lado - são um testemunho de como funcionou, rs. 

Rever Caco, o Sapo (no filme, assumidamente Kimmet, The Frog), Miss Piggy, Animal... e, claro, Zoot, o meu preferido - desde cedo eu já gostava de caras estranhos, rs. Adoro quando Caco exagera e balança os braços... Toda cena era uma viagem no tempo, e o filme se apresenta claramente dessa forma.

Walter, um Muppet que é fan dos Muppets, não se encaixa muito no mundo em que vive. Ele se encontra e descobre seu talento quando convive com o mundo que admira e com que se identifica. Big smile durante todo o filme!

Amy Adams, quem eu vi pela primeira vez numa atuação fantástica em Retratos de Família (Junebug, 2005), tornou-se uma atriz de muita versatilidade. Aparece em filmes intensos, em comédias românticas, em filmes voltados para o público infantil... em produções de grandes estúdios e filmes independentes. Bacana isso.



E desde sábado, quando vi o filme, Mahna Mahna não me sai da cabeça... em vez de irritante, tem sido uma alegria que tornou esses últimos dias mais divertido. Mahna Mahna!!!





PS: Eu adooooooooro Meu Malvado Favorito. Eu e Marcela assistimos ao filme no cinema quatro vezes... e na última já sabíamos nossas frases preferidas de cor, e elas nos acompanhavam no nosso dia-a-dia. Os Minions são impagáveis, e eles estão no vídeo acima. Genial!

domingo, 11 de dezembro de 2011

Nos últimos dias de Novembro... O Livro e outras histórias.



She could at best conceal her envy, but she was powerless to forbid it.
(Willy em Double Fault, p. 259).

Lionel Shriver foi companhia nos meus dias de novembro. No início, conheci Eva Katchadourian e suas reflexõess e questionamentos sobre a maternidade. Com um intervalo para conversar com alguns weres no Alasca, voltei para Shriver em um livro que queria muito ler.



Adoro tênis e quando soube de Dupla Falta pela minha sis de alma e de torcida do Federer, rs, fiquei bastante curiosa. A curiosidade aumentou após ler The Post-Birthday World e We Need to Talk About Kevin, os dois presentes - e muito! - aqui no Viagens. Não me decepcionei. Pelo contrário.
O que aconteceu foi que, na verdade, eu não dormi nos dias em que o livro esteve comigo.
Lionel Shriver me encanta e assusta ao mesmo tempo. Sua escrita é bela, impecável, intensa, cuidadosa. Só por isso, já valeria a viagem. Mas o que ela traz com sua narrativa atenciosa transcende as palavras com que escreve. Ela traz o mundo em suas diferentes facetas, em personagens e tramas complexos, nada lineares e, sobretudo, nunca simplistas.
Ao ler os comentários ao livro no Amazon, houve um destaque para a discussão sobre a competição entre casais. Sim, ela está lá no relacionamento de Willy e Eric (oh, Eric J), dois tenistas que, ao se conhecerem, encontram-se em momentos muito distintos da carreira, mas com seus olhares, ações e ambições no ranking mundial.
Para mim, no entanto, a história de Shriver me trouxe sobretudo o espanto em como há pessoas que se concentram tanto em si que ultrapassam o próprio sentido do egoísmo. Assim, tudo que acontece a elas é responsabilidade de outrem. O carinho, o amor, a atenção que as pessoas que as amam não importam muito assim. Passam como que raspando pelo seu emocional, sem nunca penetrarem no seu coração. Momentos de consciência existem, mas também não importam.
Elas importam.  E se isso não for suficiente... well, então sempre há o outro para agredir.
Sim, senti o livro fortemente assim. Isso é o que mais amo em Srhiver. Ela nunca passa casualmente. Mas, a cada encontro, o impacto parece ficar maior. Do dilema de Irina em Post-Birthday ao impossível de se lidar em Eva, foi Dupla Falta que me abalou mais.
E aqui não sei se foi a questão sobre como algumas pessoas são realmente impermeáveis, não importando quanto carinho e apoio recebam, ou se o contexto do tênis realmente me pega pelo pé de jeito.
Wimbledon, O Jogo do Amor (Wimbledon. Richard Loncraine, UK/França, 2004) me deixou sem dormir nas três noites em uma semana nas quais fui ao cinema para vê-lo. Até hoje, ao ouvir a abertura da Universal, volto ao momento em que vi o filme. Quando ele surge nas conversas, as expressões "bonitinho", "bacaninha", "até legal", "uma comédia romântica legalzinha" aparecem... Nenhuma delas me explica porque o filme me tocou tão fortemente, a ponto de até hoje me emocionar seriamente.  
Então, não sei se foi o tênis, mas Double Fault acabou comigo. Fiquei presa nele nos quatro dias em que o li e nos seguintes, em que a perplexidade - presente sobretudo nas três últimas linhas do livro - permaneceram comigo.
São de Shriver as palavras:
  
"Are you being deliberately contrary?" she asked. "Every time we watch a match, you back the other guy." 
"That's because you have such a soft spot for long shots, Wilhelm. Whenever some poor slob is ranked 4,002, or is coming back from an injury that will eventually put him out of the game forever, you take his side. Who's being contrary?"  (p. 51) - eu sempre torço para os poors slobs...rs.

The End of the Story had been more of a slog. The prose was dry and spare, recalling the cutting, droll sarcasm of the father she knew. The satire described a mythical population grown so vicarious that content was extinct. An automated world whose only work was entertainment divided between the watcher and the watched. Consequently, all art was reflexive: films concerned screenwriters, TV programs followed the "real lives" of sitcom actresses, and novels, the author noted with special disgust, exclusively detailed the puerile pencil-sharpening of literary hacks. The manuscript had left off in the middle of a sentence. Little wonder; with its theme that storytelling was dead, the narrative dripped with such self-loathing that to finish such a book would be antithetical. (p. 63).

As they compiled the guest list, it evolved that Eric had scads of acquaintances, but few intimates. Eric's loyalties were few, absolute, and sequential. The majority of his confidants he had either finished with, or finished off—one contentious best-friendship had ended in a fistfight. Eric pursued his every project with blinkered intensity and then one way or another brought it to conclusion. (It was like him, for example, to flat-out propose to Willy, and not suggest they live together first. Anything short of ultimate struck Eric as namby-pamby and disturbingly indefinite.) This proclivity for closure suited him to a career in tennis, and to marrying, less well to marriage itself, with its undemarcated forevermore and its slight haziness about what, beyond  I do, the project is exactly. (p. 114).

But the first thing to go in rage is your wit. (p. 135). 

It may be no coincidence that there are both three sets in most dynamic tennis matches and three acts in the classical play. Each set completes a discrete subdrama, whose intricate ins and outs can distract from the larger story. Hence Willy's triumph in taking the second was quickly washed away in the briefest of intermissions, after which the players took their places. Dramatically, at 1–1 there is no telling whether the second set represents a turned tide, or a red herring. (p. 143).

For no matter how disgusted Eric became with Willy's petty invective and hypersensitivity, Willy was far more disgusted with herself. Since additional disgraceful behavior seemed appropriate penance for disgraceful behavior, her tantrums tended to snowball. (p. 242).

 Eric crushed a sheet of tissue and threw the wad on the bed.
"They don't  mean as much to me as yours do to you! Tennis doesn't mean as much to me. It's something I'm good at but I don't  love it. And in no time I'll be too creaky to play professionally, I'll have to do something else, and that will be  fine." 
Willy looked at her hands. "Ironic, isn't it?"  
"No, it's not. There's a connection. You want to be a champion too much. That's why you seize up. If you didn't care so damned much, you might get farther."
"Apathy is the answer?"
"No, but a dose of easy-come wouldn't hurt. A few extracurricular pleasures."
"Like what?"
Eric gripped her shoulders and wheeled her to face him. "Like  me." (p. 245).

Eric should have recognized that she was begging him to make her shut up. Later she was destined to wonder if, had he clapped his mouth on hers rather than allowing her to keep talking, the confrontation would have turned out otherwise. Then, perhaps not. That was a mistake that couples often made:  if only she hadn't thrown…if only he hadn't said. But without hurling dinner, or screaming this or that, the crisis would have arisen over something else instead. Variables need filling. (p. 335).

Antes do abalo sísmico provocado por Lionel Shriver, cheguei à nova série de Molly Harper, autora dos livros de Jane Jameson (Nice Girls Don't Have Fangs, que adoro, é um deles. Divertidíssimo). How to Flirt With a Naked Werewolf e The Art of Flirting With a Naked Werewolf saem dos vampiros de Jane - que são divertiiiiiiiiiidos -  e se voltam, surprise, para os werewolves. O Alasca é um dos lugares no mundo em que ainda quero morar (mas não no Magic Bus...) e que o livro nos leve para lá não foi uma desvantagem.

O primeiro livro da série foi bastante divertido, e eu esperava o mesmo do segundo. Já falamos sobre as expectativas, right? The Art of Flirting... foi horrível. Quase uma paródia dos livros de Nora Roberts, Molly Harper aqui perdeu a diversão. Daí afirmo que sofri mais ao lê-lo do que ao fortíssimo We Need to Talk About Kevin... Nele Harper assume uma dinâmica que Roberts usa muito em sagas e dedicou cada livro a um personagem do seu mundo de Lobis, em vez de seguir com um mesmo personagem como protagonista, como na sua série anterior. Vilões absurdos também aparecem... Foi uma canseira ler esse livro. E uma tristeza, já que Molly Harper geralmente me traz muita risada.




"You were out of town when my real name got spread around (...) And, uh, it isn't Maureen."
He stopped in his tracks, a mixture of guilt and apology flashing across his features. "It's not: I just assumed..."
"We'll talk later."
"How bad could it be?" He asked as we approached a round, smiling woman (...)
"Later," I whispered. 
"That bad?"
I stopped and murmured in his ear, "Moonflower Freedom Refreshing Breeze Joplin Duval-Weinstein. OK?"
Cooper stared at me"Wow." (How to Flirt..., p. 239).








 O quarto livro de Jane Jameson está para sair... é este de baixo, o quarto até agora. Bom, basta torcer, como sempre, para a autora não estragar uma série legal...
(I know, I know... as capas são pessimas!)



PS: Vale lembrar que Dupla Falta (Eric, claro : ) ) logo estará em Os Degraus de Amélie. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

What's a Wedding Without some Family Drama???



Ou, para ser fiel ao sotaque, drwaaaaaaaama???

Hoje, sexta-feira 25.11.2011, faz uma semana que o quarto e penúltimo filme da Saga Crepúsculo estreou mundialmente.





No dia da estreia, 18.11, às 14h30, eu já havia assistido ao filme três vezes... não por minha opção, mas também, sem  dúvida, não contra a minha vontade...rs. Afinal, desde a estreia do primeiro filme, Twilight, em 2008, tem sido uma prática quase rotineira ir ao cinema para encontrar Bella e Edward (and, yeah, yeah, Jacob) nas salas de projeção, mesmo que as adaptações não consigam chegar aos pés da emoção que os livros me trouxeram.

Breaking Dawn Part 1 (Amanhecer. Bill Condon, US, 2011) eu vi, pela primeira vez, na pré-estreia, na sessão de 00h00 no Cinemark. Essa é outra tradição: desde o primeiro filme, chego ao Cinemark para a pré-estreia. Com quem eu vou é também um reflexo de como a saga foi se tornando mais conhecida a partir do lançamento do primeiro filme: Em 2008, para Twilight (Crepúsculo.Catherine Hardwike, US, 2008), eu fui alone in space, sentando na primeira fileira entre pessoas histéricas que gritaram todo o filme. Hohoho, como diz minha sis, me senti em casa. Foi uma experiência tão bacana, que, no ano seguinte, para New Moon (Lua Nova. Chris Weitz, US, 2009) eu já comprei o ingresso com mais antecedência e para duas pessoas!!! Que ousadia... Novamente, agora na companhia divertida da Paty, muitos gritos e diversão. O segundo filme estava um pouco melhor produzido, mas ainda muito aquém dos livros. Em 2010, para Edipse (David Slade, US, 2010), já comprei dez ingressos, rs. Foi uma galera enorme, dividida entre os assentos disponíveis. Muita pipoca e gritos para compensar  aquele que, para mim, foi a pior adaptação da saga até agora - decepção eterna com o diretor de 30 Dias de Noite!

Em outubro de 2011, comprei 8 ingressos para Breaking Dawn Part 1, dessa vez numa sala especial, com lugares marcados. Hummmm, a coisa está melhorando. Amigos que se mudaram, outros viajando, o número de ingressos diminuiu, mas passou para nove na última hora. 

Eu acabei sentada longe da galera, na primeira fileira, diante de uma tela gigante. E a diferença, dessa vez, não foi só essa.



Como não poderia deixar de ser, cenas toscas ainda estão ali. A conversa mental dos lobos em voz robótica é uma das cenas mais constrangedoras que já vi. A coluna da Bella se acertando parece um boob job automático. Bom, essas foram as piores, e nem foram tantas assim : ). Bom, pelo menos o Brasil apareceu em cenas mais verossímeis - linda a imagem do Cristo com  uma trilha de fundo bonita -, com uma Lapa fervendo e o português de Robert Pattinson menos sofrível que o "vou sentirr saudadchiiiiiiiii de voucê" de Javier Bardem em Comer, Rezar, Amar.


Outra diferença: os gritos diminuíram... daí já pude perceber como o filme estava prendendo atenção, porque dele não dava para se desviar muito. Não vinha a vontade de gritar, só de ficar ali, seguindo com a trama. Esse foi um up considerável, rs.  



Chamou-me a atenção, no entanto, também diferentemente dos outros filmes, a quantidade de cenas boas. Afinal, neste capítulo da história, muitas coisas importantes acontecem, e eu estava realmente com medo. Mas uma produção mais cuidada, uma direção de atores que se faz presente, os personagens mais soltos e complexos me deixaram surpresa. Porque, no que se referre às adaptações da saga, eu aprendi realmente a esperar o pior. Outro recurso de que gostei e é coerente foi o destaque ao ponto de vista de Bella, que narra os livros em primeira pessoa, em várias cenas. A primeira pessoa da narradora havia se perdido nos segundo e terceiro filmes.



Amanhecer consegue ser fofo, ainda que com algumas cenas realmente assustadoras e fortes. Assim é a saga. A emoção e a intensidade da história de Bella e Edward (or The Hair, como diria Jessica...) não foi ignorada em nome de um roteiro insípido e bobo que pretenderia ressaltar a ação... sei. O amor dos dois fica palpável, forte, impossível, como é nos livros. O que, nas telas, não convenceria como na escrita, Bill Condon amenizou e deu humor, como na cena do desfile de lingerie. O título deste post é uma dessas tentativas, e a frase de que mais gosto no filme... No comecinho ainda, foi a partir dela que percebi que poderia estar vendo uma adaptação diferente das outras.



Não, minto. A minha percepção veio numa cena em que Alice, segurando os sapatos de Bella e o que eles significam para a história, pára e, no seu olhar, podemos ver toda a torcida, a felicidade, a satisfação por um desfecho feliz. Que não seria assim ela ainda não sabia, rs. Mas, enfim, durante todo o filme há momentos em que os personagens param e respiram, lembram e nos fazem lembrar. Contam das suas emoções em olhares que fazem sentido, e não em uma trama asséptica que nem de longe de aproxima da intensidade que me prendeu nos livros. 


Um recurso que ajudou muito nessa ligação foi que o quarto filme remete muito ao primeiro. Este, apesar de uma produção pobre, uma maquiagem infame, cenas tosquíssimas,  ainda é a referência da adaptação da saga no cinema. Lua Nova e Eclipse, ao tentarem se afastar de tudo que o filme tinha de infame, se esqueceram de manter o que ele tinha de bom. E havia algo? Sim, havia. Tanto que, presente em uma produção e direção melhores, esse bom me emocionou em Breaking Dawn Part 1.



A volta de Carter Burwell na composição da trilha original é um desses trunfos. Seu score não chega aos pés do que compôs para Twilight, mas o retorno de Bella's Lullaby traz uma emoção forte a algumas cenas, principalmente a final. Flightless Bird, American Mouth ( Iron & Wine), reaparece num momento super oportuno, conferindo sentidos intensos e reminiscências ao um momento importante. As imagens da busca na internet que Edward faz remete àquela feita por Bella no primeiro filme, quando tenta entender quem era aquela criatura por que se apaixonava. A casa dos Cullen retorna à do primeiro filme... Típico, não é? O fim remete ao início... e se torna irresistível assim.



A trilha sonora de um filme sempre foi fundamental para mim. As minhas maiores referências musicais hoje vêem do cinema. Ao ouvir uma música, ela me leva à vivência do filme. Algumas são muito fortes e me surpreendem em momentos inesperados. Mas o que as marca para mim é a sua permanência... e como constroem as imagens de uma narrativa juntamento com as imagens projetadas na tela. 

Nesta semana, várias músicas de Breaking Dawn ficaram comigo, e aí soube como o filme havia realmente me tocado. Porque elas permaneceram, houve emoção. A narrativa chegou ao meu coração, ao meu imaginário, ao sonho e não apenas ao racional. Bem precioso esse alcance. 

But... e sempre há um but, essa foi a trilha mais fraca dos quatro filmes. Muito pop, menos indie como as outras, mais dispensável. A ausência de MUSE foi heresia total... Mas o que foi bom, e em cenas fundamentais, valeu a pena. 

Cold (Aqualung and Lucy Schawrtz) tem estado muito comigo. Presente em um dos momentos mais fortes do filme, e de que mais gostei, conferiu força às cenas. Eu tento comentar o filme sem spoilers, mas a complexidade que a relação de Bella e seu vampire atinge aqui é o que dá força à história dos dois.


As músicas melancólicas me pegam pelo pé... adoro. Já me disseram que é por serem mais melódicas... pode ser. Mas as músicas melancólicas em filmes me agarram fortemente, e narravam a história para mim, suas emoções, mais que as imagens. Nesta trilha, além de Cold, Requiem on Water (Imperial Mammot) me comoveu também - outra cena querida e intensa...




From Now On (The Features) tornou a lua de mel engraçada, divertida e ágil. Uma música mais alegre que me acompanha quando lembro do filme. Ela dá som às partidas de xadrez, com peças vermelhas e brancas, como na capa do livro (e como a maçã que Edward oferece a Bella no primeiro livro... viu?, outra referência ao filme de Hardwicke).




Mas, num filme, há, para mim, aquela música que continua a me trazer a histórias e seus sentidos, sentimentos, emoções e reminiscências sempre que as ouço. Algumas trilhas, como a de Amélie Poulain, são compostas por notas recorrentes que criam uma identidade com a narrativa. Em Breaking Dawn, a melodia que cria essa identidade é A Thousand Years (Christina Perri), o tema oficial do filme. Assim, ela aparece em dois momentos importantíssimos da trama e ao final, nos créditos. Separada do filme, eu a acharia boba e esquecível. Presente nas maiores conquistas de B&E, eu me apaixonei por ela intensamente. Quando a ouço, tudo que a história representa para mim volta em imagens e sons.




O tema de um filme traz, em melodia, muito do que é a história. Na Saga Crepúsculo, os temas principais foram muito felizes, mesmo que não fossem as músicas mais legais da trilha, a meu ver (mas quase eram..rs). Voltando aos outros filmes da saga, e já pedindo desculpas pelo post imenso, trago os outros temas.


Para Twilight, Haley Williams, do Paramore, entrou em contato com a produção e pediu para fazer o single do filme, já que gostava tanto dos livros. Ao final do primeiro filme, eu não a conhecia, mas acompanhei Decode durante os créditos finais, achando divertido as meninas que pulavam pela escada ao som da música. Marcela se refere a ela como "a mulher que grita" e hoje é uma fan de Paramore. O clip é legal também, como são todos esses dos temas princpais: Uma história engraçada minha com a música, na minha tabaquice de sempre, é que quando ouvia a letra: what kind of men that you are? If you are a man at all... eu pensava, wow, não precisa pegar pesado... mas aí entendi o contexto. Vampiro não é homem, ser humano...right? rs.




Foi de gritar quando soube que a minha banda amada super querida, Death Cab for Cutie ia ser a responsável pelo single em Lua Nova - que, aliás, traz uma das melhores trilhas, a meu ver. Uma trilha vergonhosamente - sem exageros, rs - subutilizada no filme. Um exemplo é Satelite Heart (Anya Marina - o link aqui é para o vídeo no Youtube), uma música fofa, que toca no rádio do truck de Bella por segundos... Não disse? Vergonhoso. Algumas foram bem colocadas, como Hearing Damage (Radiohead  - ahhhhhhhhhhhhhhhhhh) e   Meet me on the Equinox, do DCFC, eu adoro:




Em Eclipse, nova mancada, apesar da trilha ser boa também. Neutron Star Collision, do MUSE (super ahhhhhhhhhhhhhh) é linda, forte, o clip é bonito que só... mas ela toca por segundos na festa de formatura, em vez de fechar o filme em grande estilo (pelo menos isso ia ser legal numa produção fria e sem ritmo). 





Para quem não sabe, Stephenie Meyer, autora da saga, agradece efusivamente ao MUSE pela inspiração na escrita do filme. Segundo ela ( e eu também, rs), há cenas, falas, emoções e tramas que saíram de músicas da banda. Quando eu li seus agradecimentos - que ficaram mais intensos a cada livro -, uma música me veio à cabeça imediatamente: Time is Running Out, que tem uma de suas frases - (Bella) you will be the death of me - no livro. Essa impressão se confirmou quando a autora divulgou um set list pessoal para a escrita dos livros. 


Uma exigência de Meyer foi que, nas trilhas, houvesse sempre uma música do MUSE. Na parte 1 de Amanhecer não há nenhuma... espero que a parte 2 não desaponte, rs.


Essa referência à música, tão presente nos livros, se manteve nos filmes até esta última parte. Bill Condon ressaltou mais o score de Burwell do que as músicas da trilha... damm it, com uma equipe grande e uma produção já não tão amadora, não dava para prestar atenção aos dois?


Parece que não. Quando se fala em adaptação dos livros de Meyer, parece que algo sempre tem de faltar... precisa sempre de uma ausência para deixar a experiência incompleta, em fatores que poderiam ter maior atenção. Eu li, em muitos comentários no IMDB, que o filme estava muito dramático, com uma trilha cheia de drama... bom, para mim esse foi um ponto positivo, condizente com os livros e com a história de Bella e Edward.


Este post ficou imenso... e falta muita coisa - aconteceu uma edição básica aqui, rs. E eu falei tanto sobre a saga que até cansa (aos outros, porque eu não cansei ainda). Amélie já declarou que queria ser um cordeiro estúpido em um conto sobre os vampiros em Os Degraus de Amélie. Eu já escrevi minha indignação com Melissa Rosenberg, a roteirista de todos os filmes da Saga (e de Dexter, for God's sake! Como uma pessoa pode ser tão boa e tão ruim???) no IMDB, no único comentário que escrevei no site. Há também um artigo sobre os fenômenos culturais a partir de Twilight, escrito com Lauríssima querida, minha companhia na sessão de hoje, a sexta até agora... mas o link para ele somente sob encomenda, rs.




Enfim, a saga apareceu para mim em um momento em que eu precisava de emoção, intensidade e esperança. A inadequação de Bella, a reflexão sobre o que é o ser humano, a luta por sermos o que queremos ser, e não o que estamos condenados a nos tornar me conquistaram e me levaram aos livros por várias vezes. A fantasia nos filmes não foi um elemento que me tirou do mundo, mas me colocou dele em outras perspectivas. Ajudou-me a entender minha própria inadequação em um momento delicado. E me trouxe uma emoção forte e intensa, que se refletiu no meu cotidiano. 


Assim, chego aos filmes também... mais tranquila neste último capítulo, mais cuidadoso, divertido, intenso... embora ainda a anos luz do livro em que se baseou.









PS: Para os pouquíssimos leitores de Twilight que ainda não viram, no site oficial de Stephenie Meyer há o trecho de um quinto livro, que foi arquivado quando um rascunho vazou na internet. Midnight Sun é Twilight sob o ponto de vista de Edward. 





segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Leaving the door Unlocked


Eu fico muito impressionada quando encontro um livro, um filme, uma música que trazem para mim se não um senso de realidade (o que é isso, afinal?), mas uma sensação de vivacidade que aproxima do que vejo, leio, ouço.

Alguns cineastas conseguem se colocar muito próximos de mim, mesmo que a trama seja claramente fictícia. Se seria possível um futuro em que clones são criados para doarem órgãos, sendo tratados como coisas, ou se uma fazenda rabiscada no chão denuncia a dramatização da trama (se quiserem saber a que filmes me refiro, basta acessar o link de cada um... embora, no primeiro, a minha afirmativa seja um grande spoiler...), não importa: a vivência denunciada em tela aproxima-se de mim e da minha visão de mundo. Da minha relação com ele.




EmWe Need to Talk About Kevin (já editado em português com o nome Precisamos Falar Sobre Kevin), cheguei à conclusão de que o cuidado e a falta de preguiça colaboram muito para essa proximidade. E cuidado e ausência de preguiça é o que Lionel Shriver tem de sobra. Eu já a havia admirado em The Post-Birthday Word (comentado aqui no Viagens) e esperava muito de Kevin.
A introdução ao livro já nos conta um pouco a respeito:
“Every now and again, one of those books come along that makes the hair on the back of your neck stand on end when you read it. A novel that’s bigger than the story contained within its pages, bigger than the context within which it is published, not limited by or to the fashions of the day. We need to talk about Kevin is one of those books.” (introdução)

Não me decepcionei. E a admiração aumentou muito.

Shriver, no epílogo ao seu livro, explica o que a move a escrever. São suas estas palavras:

“I can roughly divide my novels into two stacks. They either address what I want, or what I fear. Perhaps to my spiritual detriment, the latter pile is the taller, and from my crowd of phobias – of failure, other people – one hose head and shoulders above the rest above three years ago. I was petrified to have children.” (p. 471).

Como dizer que algo é fictício se o que o move são sentimentos tão vivos e intensos como o medo e o desejo? 

A honestidade de Shriver tanto ao comentar seus livros como ao escrevê-los é o que, para mim, os torna tão palpáveis. A decisão de ter filhos também sempre me foi petrificante. Tenho um amor muito especial pelas crianças que me rodeiam, que fazem, felizmente, parte da minha vida. Mas nunca me convenci a ser mãe. O tamanho e peso da maternidade me soam insustentáveis. E isso ocorre não pelo medo da responsabilidade... mas pelo pavor da perda. Pela incerteza de ser capaz de tornar compreensível um mundo que se torna cada vez mais sem sentido. A minha admiração por quem assume a maternidade com o coração aberto, a responsabilidade assumida, o amor intenso numa tarefa que me parece de fato impossível é igualmente grande.

Idealizar a maternidade é too easy. Lidar com a culpa por não corresponder a esse ideal, assumido e difundido socialmente, tem sido uma das perversidades que mais me chama a atenção. Diante do cansaço, do sono, do medo, do desejo de se superar, muitas mães se martirizam, sem reconhecerem o quanto dão o melhor de si com o que têm disponível.

O reverso da medalha também se apresenta. A idealização da maternidade intoxica lares que se apoiam nela como uma muleta para não reconhecerem as dificuldades de cada pessoa na família. 

Vejam que disse pessoa, e não membro. A institucionalização do ser humano é uma complicação, a meu ver. Mulheres, homens, crianças, idosos... Mães, pais, filhos, avós... Tudo se mistura no ideal de família feliz e unida que não convence nem numa propaganda de margarina. E aí, criança vira aquele ser que não é gente... e muita confusão vem daí. Uma das falas do livro, citadas adiante, diz exatamente disso.

Assim como sustenta que ter filhos é como deixar a porta destrancada...

O olhar atencioso e honesto se perde nas armadilhas da idealização. No uso de uma muleta perversa que, em vez de nos aproximar da felicidade, nos distancia de nós mesmos. Um trabalho diário e cuidadoso é uma forma de evitar essas armadilhas.

Eva Katchadourian é uma mulher que olha com atenção seu filho. Sua aversão à maternidade depõe contra ela aos olhos do marido, que prefere idealizar o primogênito a reconhecer que problemas doloridos e complicados habitam sua enorme casa num subúrbio de Nova York.

Quando, quase aos 16 anos, Kevin, numa ação claramente planejada por anos, mata nove pessoas na sua escola, a pergunta dos que o rodeiam, da sociedade e, sim, de Lionel Shriver é: na luta entre nurture and nature, entre educação e natureza própria, como se explicaria a premeditação e frieza de um adolescente ao cometer um homicídio em massa? Ele já nasceu totalmente evil ou sua frieza vem da distância e negligência dos pais - mais especificamente, claro, da mãe?

Essa é a pergunta que Eva, a mãe de Kevin, se faz durante todo o livro, em cartas que escreve ao marido. Nelas, explicita seus medos, suas dificuldades, desconfianças. Desvela, também, a extrema frustração que é se opor aos ideais de um pai que, ao considerar necessário defender incondicionalmente o filho de uma mãe reticente, esquece de olhá-lo de verdade. 

Cada página é apresentada em sentenças fortes e elaboradas. A forma de escrever de Lionel Shriver reflete, a meu ver, o comprometimento que tem com a sua visão de mundo. Seus livros não são fáceis de engatar... nas duas vivências que tive com ela, só consegui agarrar o livro realmente depois das primeiras 200 páginas. O modo como ela constrói o contexto em que coloca seus personagens é também admirável. Os dois livros eu comecei e parei... para, então, continuá-los num frenesi de espanto e admiração. 

O tema é difícil? Sim. Mas ele está aí, nas brechas da idealização, nas fendas de uma vida idealizada que não se sustenta. Racha, quebra, despenca... e não é de surpreender que seja assim. 

Por fim, sem dar uma solução ao problema ou uma resposta fácil, Shriver me levou a uma constatação: uma existência sem identificações, afinidades, é uma existência sem sentido. A falta de sentido leva a procurá-lo de formas cada vez mais extremas e desafiadoras do status quo. Leva, também, aquele que se acha lost in space a culpar alguém pela ausência. 
E a culpa, geralmente, recai na mãe.
Vale lembrar que o livro foi adaptado para o cinema, em filme do mesmo nome... Vi trechos que me arrepiaram. Parece que a intensidade da história não se perdeu. Ufa.

Trago algumas palavras de Shriver, que não apresentam spoillers ou comprometem a leitura do livro:

 “By the time I gave birth to Kevin at thirty-seven, I had begun to anguish over whether, by not simply accepting this defect, I had amplified an incidental, perhaps merely chemical deficiency into a flaw of Shakespearean proportions.” (Eva, p. 31).

“But in the same vein, when a car nearly sideswipes me in a crosswalk, I’ve noticed that the diver is frequently furious – shouting, gesticulating, cursing – at me, whom he nearly ran over and who had the undisputed right of way. This is a dynamic particular to encounters with male drivers, who seem all to grow more indignant the more completely they are in the wrong. I think the emotional reasoning, if you can call it that, is transitive: You make me feel  bad; feeling bad makes me mad; ergo, you make me mad. If I’d had the presence back then to seize on the first part of that proof, I might have glimpsed in Kevin’s instantaneous dudgeon a glimpse of hope.” (Eva,p. 47)

Oh, I love you anyway, youngman, like it or not. But I had an inkling that it was following just these pat scripts that had helped to land me in a garish overheated room that smelled like a bus toilet on an otherwise lovely, unusually clement December afternoon.” (Eva,p. 51).

“We might as well have left the door unlocked.” (Eva, p. 60).

“However admirable, your eagerness to give your live over to another person may have been due to the fact that when your life was wholly in your lap you didn’t know what to do with it. Self-sacrifice was an easy way out. I know that sound unkind. But I do believe that this desperation of yours – to rid yourself of yourself, if that is not too abstract – burdened our son hugely.” (Eva to Franklyn, p. 64).

“I’m not sure how such people manage to get their heads around proper disaster after having repeatedly exercise the full powers of their consternation on traffic.” (Eva, p. 79).

“Thus even tragedy can be accompanied by a trace of relief. The discovery that heartbreak is indeed heartbreaking consoles us about our humanity (though considering what people get up to, that’s a queer word to equate with compassion, or even with emotional competence).” (Eva, p. 93).

“Our compatriots seem to put much stock in slapping a tag on their ailments. Presumably a complaint common enough to have a name implies that you are not alone and dangles options like Internet chat rooms and community support groups for rhapsodic communal bellyaching.” (Eva, p. 100).

“You regarded a child as a partial creature, a simpler form of life, which evolved into the complexity of adulthood in open view. But from the instant he was laid on my breasts, I perceived Kevin Khatchadourian as pre-extant, with a vast, fluctuating, interior life whose subtlety and intensity would if anything diminish with age.”(Eva to Franklyn, p. 137).

“In a country that doesn’t discriminate between fame and infamy, the latter presents itself as plainly more achievable.” (Eva, p. 197).

“”Kids have a well turned radar to detect the difference between an adult who’s interested and an adult who’s keen to seem interested.” (Eva,p. 369).

“I reason that nothing about a blindness to beauty necessitates a blindness to ugliness, for which Kevin long ago developed a taste. Presumably there are as many fine shades of the gross as the gorgeous, so that a mind full of blight wouldn’t preclude a certain refinement.” (Eva, p. 379).

“Maybe he is mad that is as good as it gets. Your big house. His good school. I think it’s very difficult for kids these days, in a way. The country’s very prosperity has become a burden, a dead end. Everything works, doesn’t it? At last if you’re white and middle class. So it must often seem to young people that they’re not needed. In a sense, it’s a if there’s nothing more to do.” (Kevin's teacher, p. 391).

“What does that mean? Your dad ‘loves’ you and hasn’t a (bleep)ing clue who you are? What’s he love, then? Some kid in Happy Days. Not me.” (Kevin, p. 413).

Nothing is really happening.You read the paper, or if you’re into that sort of thing you  read  a book, witch is just the same as watching only even more boring. You watch  TV all night, or maybe you go out so you can watch  a movie,  and maybe you’ll get a phone call so you can tell your friends what you’ve been watching. And you know, it’s got so bad that I’ve started to notice, the people on TV? Inside the TV? Half the time they’re watching  the TV. Or if you’ve got some romance in a movie? What do they do but go to a movie. All these people, Marlin,” he invited the interviewer in with a nod. “What are they watching?” (…) “People like me.” (Kevin, p. 415).

Depois da pancada que é Kevin, eu cheguei a mais um livro de Nora Roberts, The Next Always, em sua nova trilogia (In Boonsboro Trilogy). Pensei, de início, que seria bom desacelerar... Gosto dos livros da Norinha,como eu e Kakal a chamamos. 
Em cada trilogia, um mundo diferente, pessoas com profissões interessantes, que amam e que as possibilitam se posicionar no mundo. Donos de cafés diferentes, livrarias fofas, B&B's diferentes no meio do nada na Irlanda, escritores de quadrinhos, bruxas... Na última saga, The Bride Quartet, a história era sobre quatro amigas que eram sócias numa casa de festas especializada em casamentos. Cada uma tinha uma função: a administradora, a florista, a fotógrafa, a doceira... e cada livro do quarteto era dedicado à vida amorosa de uma delas dentro daquele mesmo mundo. Assim são as sagas e trilogias da Norinha, cada livro um personagem... Os tipos físicos e psicológicos reaparecem, as relações são parecidas.... Nos últimos livros, ela amenizou o trauma dos personagens e o sexo selvagem... uma pena : ) Mas tudo continua mais ou menos igual, e foi essa familiaridade que me permitiu começar a ler em inglês definitivamente, até conseguir chegar a livros com personagens e vocabulário mais diversificado.


 Fora das trilogias, os seus livros não me atraem muito, embora eu os leia todos - apresentam aspectos de terror e violência que acho bobocas. Mas isso não me afasta deles, rs. Uma coisa legal é como NR faz referências a outros de seus personagens em diferentes livros. Gosto dessas referências cruzadas da ficção citando a si mesma. Neste último, os quartos da pousada que os irmãos Montgomery estão reformando têm nomes de casais famosos da literatura... Elizabeth e Darcy eu adoro, e seria o quarto que eu reservaria. Mas, como pretensão pouca é bobagem, um dos quartos se chama Eve e Rourke, o casal vinte da série In Death, que Nora Roberts escreve sob o nome de J.D. Robb.

No entanto, depois de embarcar num mundo tão honestamente explicito e sem concessões, não consegui mergulhar no mundo da NR (iniciais que são marca da autora). Assim, não consigo dizer se esse livro está mais bobo, ou se o meu coração é que não conseguiu encontrar um lugar para ele. 
Mas, como disse, isso não me impedirá de ler os próximos... 

 No cinema, o grande evento do mês foi, claro, a estreia de Breaking Dawn Part 1, a adaptação em duas partes do último livro da Saga Crepúsculo. Muito tempo esperando pelo filme, compra antecipada de ingressos... Ele merece um post só dele, e isso deve acontecer ainda nesta semana, com todo o otimismo do mundo, rs.

Durante a primeira metade de novembro, o cinema foi um programa com as crianças. No dia 13/11, eu despertei da preguiça e parti para encontrar alguns dos poucos filmes em cartaz que queria ver.

Contágio (Contagion. Steven Soderbergh, US/Emirados Árabes, 2011) foi uma surpresa. Eu ando tão desantenada que não sabia, até os créditos finais, que o filme era do Soderbergh. Meu diretor favorito por um bom tempo, seu primeiro filme - Sexo, Mentiras e Videotape - ainda permanece comigo. 
No início, não pus muita fé. Ainda desanimada de estar no cinema, achei que o filme poderia ser uma bomba absurda... mas, aos poucos, numa história em fragmentos, bem construída e ágil, o filme foi me conquistando até que, ao ver o nome do diretor, entendi porque ele havia me parecido diferente. Os diversos lados de uma epidemias são mostrados em personagens coesos, interpretados sempre por atores muito conhecidos... o que também desperta a curiosidade. 

Quando li a sinopse de A pele que habito (La Piel que Habito. Pedro Almodóvar, Espanha, 2011), já havia decidido que esse filme não era para mim. Adoro Almodóvar, mas não me encontro em tudo que ele faz. Porém, como Abraços Partidos, o último filme que dele assisti, me conquistou inteiramente, resolvi deixar de lado minha recusa a ver filmes com cenas de estupro e entrei no cinema. 
Não tenho traumas pessoais com violência sexual, mas acho toda cena de estupro em cinema o fim. Um risco enorme é a erotização da violência, e são pouquíssimos os filmes que apresentam uma exceção. O de Almodóvar não é um deles.
No entanto, ele expõe de forma genial a violência a que se pode incorrer quando se tem os meios para isso. E, por isso, como costumo dizer com os filmes de Michael Hanecke, este último de Almodóvar é incrível, mas não me pergunte se eu gostei. É impossível associar gosto à experiência de A Pele que Habito
Esta semana, conversando com a amiga de uma sobrinha, de 14 anos, ela me disse como se surpreendeu com Antonio Banderas, pois ele, falando espanhol, para ela, é um ator muito melhor. Eu só posso concordar, principalmente ao pensar em como não conseguirei ver Banderas sem lembrar do terror que o personagem dele me trouxe...

O preço do amanhã (In Time. Andrew Niccol, US, 2011) não havia me atraído muito. Justin Timberlake... hum, acho que não. Mas me rendi ao filme quando vi Niccol na direção, porque adoro Gattaca (1997) e O Show de Truman (1998), de que é roteirista. Mas Gattaca foi o voto de minerva, e não me arrependi. O filme é bom demais : ) Não tem outro jeito de falar...rs. A ideia do tempo como moeda corrente é de uma exposição clara do que gastamos em cada ação nossa. Mas, no mundo de In Time, esse preço se expõe, e o comprometimento de vida que ocorre em cada consumo é explícito. 
E, como gosto de dizer, preconceito é uma companhia muito inconveniente para se ter no cinema... Justin Timberlake está ótimo.


 PS: A partir de hoje, uma nova dinâmica no Viagens. Com o exemplo de dois blogs de que gosto muito, vi que estava comendo mosca em não colocar links para algumas citações... Kal, minha sis querida, passou a utilizá-los em seu blog andarilho e muito querido, e eu aqui a estou copiando. Jô Ribas, que conheci aqui no Viagens e que tem um blog fofíssimo, usa de forma muito bacana os links.
Na natureza, nada se cria, tudo se copia... então  vamos nós! Espero que gostem. Nos filmes, coloco o link para o Internet Movie Data Base - IMDB, o site que consulto para as informações dos filmes que trago aqui. Nele, além das informações, há comentários dos espectadores - às vezes, as únicas críticas que leio sobre um filme... -, alem de fotos e trailers, o que possibilita mais contato com os filmes. Nos livros, trago principalmente o site da Amazon - além das informações sobre o livro em si e o autor, gosto muito dos comentários dos leitores.  
Digam depois o que acharam...!