segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quando abril ainda não havia acabado...

A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood. Cahterine Hardwicke, US/Canada, 2011).

Há algumas circunstâncias em que, inevitavelmente, eu preciso saber de outrem o que se pensou sobre um filme, um livro... Se suas dúvidas, encantos, desgostos foram os mesmos que os meus. Ou se foram outros. Geralmente, quando saio em estado de confusão do cinema, recorro aos comentários dos usuários em www.imdb.com.

Ao sair da versão de chapeuzinho vermelho de Catherine Hardwicke, precisei conversar com alguém a respeito. Como nem sempre sei de um amigo que viu o filme sobre o qual quero conversar, os comentários do imdb me ajudam nesse sentido também. Porém, o comentário que li ao sair do cinema foi tão discrepante com minha visão que deixei para lá e fui tentar entender por mim mesma o que senti ao ver Red Hiding Hood.

Então, hoje, antes de escrever este post, fui conferir as informações do filme e resolvi dar outra chance para os comentários. Haha, agora sim eu me encontrei. E uma frase do comentário que li diz muito sobre o filme para mim:

I wouldn't say I absolutely loved this movie, but I will say that I enjoyed it.




Enjoyable é uma palavra boa aqui. O filme me divertiu, entreteve. Diferente, porém, do comentário acima, um aspecto eu amei: a fotografia. Ela me encantou. O encanto - assim como o grotesco e o medo - faz parte do conto de fadas. O encantamento esteve presente para mim, então, pelas imagens.
Sim, eu sei que as tomadas da floresta remetem muito a Twilight. Mas não sei se alguém espera que Hardwicke arranque de sua cinematografia (assim mesmo, dramaticamente) o seu maior sucesso nos cinemas.

Sim, lembrei de A Companhia dos Lobos (The Company of Wolves. Neil Jordan, UK, 1984).  Com 16 anos eu achei o filme incrível, e a partir daí percebi como é difícil não se apaixonar pelos lobos. Mas preciso rever, e saí do filme com essa vontade.

Nâo li Mulheres que Correm com os Lobos (Clarissa Pinkola Estes, Rocco, 1992), mas também lembrei dele durante o filme. "Boas garotas não entram na floresta" me fez pensar nele. Mas a minha birra com esse livro é grande. Ele deve ser bom, porque quando implico é sempre para ser do contra...rs.

Em meio a tudo isso, volto às imagens. Elas me marcaram, e adoro até aquelas que considero mais óbvias, como o contraste da capa vermelha da Chapeuzinho no branco da neve. 


O Mágico (L'illusionniste). Sylvain Chomet, UK/França, 2010.

Depois das imagens de conto de fadas e do suspense em Red Riding Hood, entrei, em seguida, no encantamento da animação de O Mágico.

Uma sessão dupla muito feliz.

A música me fez ir muito para dentro do filme, ao mesmo tempo em que me embalou durante os momentos mais heartbreakin da história. Com mais falas que As Bicicletas de Belleville, no entanto, a música ainda é o condutor, o guia que nos insere nas imagens belas e cruéis da animação de Chomet.


80 minutos de levitação...

Rio again, com as crianças agora. Mais divertido com elas, com certeza. As risadas da Marcela me colocaram na história de outra maneira. Muito legal.



O último livro de abril foi uma surpresa boa:


Emprestado para mim pelo período de uma tarde, O Poeta de Pondichéry seguido de Maria Cristina Martins  traz duas duas história da autora portuguesa Adília Lopes. A primeira remete a uma personagem de Jacques, O Fatalista e Seu Amo, de Denis Diderot.

Eu não leio poesia, e isso na verdade sempre me incomodou. Tujdo bem, amo Fernando Pessoa, e viajo por ele. Mas não me considero uma boa leitora de poesia. Vejo os poetas, eles me encantam nos filmes... mas nunca chego às suas palavras. Eu me sinto, assim, como com um defeito de fabricação. Um defeito que me atrapalha, mas não me impede de seguir. Assim eu o deixo para lá, embora algo me lembre dele de vez em quando.

Wences me emprestou o livro no mesmo momento em que me deu outro de poemas de presente (feliz!), da Adélia Prado, poetisa brasileira.

Nesse mesmo dia, outra novidade boa chegou para mim, pelo Wences e, posteriormente, pelo Bernardo, da Livraria Cultura - numa daquelas coincidências legais da vida, que se chamam assim, mas que na verdade fogem da sua denominação.

A coisa boa? Os autores portugueses e africanos de língua portuguesa. Primeiro, veio  Adília Lopes e Ondjak - dos que lembro, porque foram vários. Depois, Gonçalo M. Tavares e  E. M. de Melo e Castro.

A coincidência? Muito longa a história para contar aqui. Mas ela pode aparecer a qualquer momento no Degraus de Amélie...

O Poeta de Pondichéry seguido de Maria Cristina eu li com um sorriso ao final de cada página, apesar das narrativas de cortar o coração. Dois trechos trago aqui, respectivamente, das duas histórias.

Um sorriso grande para os dois.

E um muito obrigado aos amigos queridos.



Tenho pelos meus poemas
a ternura que a coruja tinha pelos filhotes
mas não tenho a sua cegueira
porque sei que Diderot acha os meus poemas maus
a coruja disse à águia
podes comer os passarinhos que quiseres
mas não comas os meus filhos
os meus filhos são os passarinhos mais bonitos
que encontrares na floresta
a águia comeu os filhos da coruja
comi os teus filhos porque eram feios
disse a águia à coruja
as comparações são muito perigosas
(como os diamantes)
certas comparações valem fortunas
não vejo o que possa ser comer poemas
talvez fazer contas ou hieróglifos obscenos
nos papéis onde estão os meus poemas
não vejo quem possa ser a águia
Diderot não é a águia
mas uma pessoa neste momento
pode estar fazendo contas e hieróglifos obscenos
num dos meus poemas
não vejo uma águia a fazer contas e hieróglifos obscenos
nos filhos de uma coruja
talvez Walt Disney visse
O algodão doce
assustou-a
a ponto
de saltar do carroussel
em andamento
e de torcer um pé


Genial. O primeiro trecho eu retirei de um jornal literário de Curitiba, que descobri ao procurar o poema - rascunho.rpc.com.br -, num post entitulado 7 Poetas Portugueses, pois perdi minhas anotações.
Nas procura por Adília Lopes, esbarrei em mais uma classificação que não conhecia. Arte Naïf. Ugh.

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