terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Until The End of The World - Lars Von Trier meets Terence Malick

Em dezembro, outros filmes aconteceram, além dos desenhos a que assisti. O primeiro deles foi Como Ela Consegue (I Don't Know How She Does It. Douglas McGrath, US, 2011), que escolhi principalmente porque Marcelita, de 7 anos - agora 8!!! Parabéns, minha flor! - iria me acompanhar. Pelo trailer, achei que poderia haver muitas cenas engraçadas, e então nós duas sairíamos felizes do cinema - mesmo que ela ainda não consiga ler as legendas todas. 

Bom, mas não foi nada disso. O filme se propõe a uma reflexão sobre o lugar que uma mulher casada e mãe pode ocupar no mundo corporativo. Como ela consegue? Como une aspectos tão diferentes de sua vida? E assim vai... o filme se arrasta, arraaaaaasta... ou eu o senti assim porque a flor olhava para mim com a cara mais desconsolada do mundo a cada cena que não entendia, rs. 

As circunstâncias em que assistimos a um filme fazem parte dele tão fortemente quanto as imagens apresentadas na tela. Por isso, não sei contar de Como Ela Consegue fora do contexto em que o vi. Mas tenho a impressão que este texto não seria muito diferente se tivesse encontrado o filme sozinha. As situações me pareceram forçadas, o drama foi exagerado, a "solução" final para todos as mazelas foi um desaforo aos happy endings... Enfim, duas pessoas, naquele dia, curtiram mais a pipoca e a cadeira confortável do Platinum que o filme a que foram assistir.

Por muito tempo eu esperei que Melancolia (Melancholia. Lars Von Trier, Dinamarca/Suécia/França/Alemanha, 2011) chegasse aos cinemas aqui. O poster já me chamava fortemente para o filme. Demorou, demorou... finalmente chegou numa mostra gratuita do CCBB. Não consegui ir. Depois, ficou em exibição por pouco tempo na sala Platinum... a que também não cheguei. Finalmente, na sessão Cult do Cinemark, eu assisti a esse filme tão esperado. E foi incrível. As altas expectativas, dessa vez, não atrapalharam a experiência!

Expulso do festival de Cannes deste ano por fazer uma piada, assim se espera, sobre ser nazista, Lars Von Trier já havia declarado há alguns anos que sofria de uma forte depressão. Tanto que suspeitava não ser possível mais filmar. Dessa depressão surgiu Anticristo, um filme que considero frio e analítico, uma tese em imagens a que falta sentimento, visceralidade e emoção, apesar do tema. 

Assim, mesmo com expectativas, entrei na sala de cinema para encontrar Melancolia com uma  certa precaução. Esta foi para os ares já nas primeiras cenas, que me remeteram às imagens do universo em A Árvore da Vida, de Terence Malick (The Tree of Life, 2011). A forte impressão de inevitabilidade uniu os dois filmes para mim. E nos dois eu me emocionei muito.

A depressão é realmente o fim do mundo. Tentamos nos conformar com uma vida considerada normal - casamento, trabalho, família... -, mas nada faz sentido. Somos esmagados, literalmente, e o mundo acaba. Como reagimos a isso - se encaramos de frente e reconhecemos o que se passa ou se negamos e esperamos uma solução milagrosa - diz muito do nosso posicionamento diante da vida. E do fim da vida. 

Vale lembrar que, por esse filme, Kirsten Dunst recebeu, a meu ver mais que merecidamente, a Palma de Ouro deste ano como melhor atriz. E, mesmo expulso for sua fala infeliz, Lars Von Trier, em Melancolia, se mostra um diretor impecável. Atores conhecidos como Alexander Skarsgard e Kiefer Shuterland, os dois protagonistas conhecidos de seriados de TV (estamos falando de True Blood e 24 horas, nada mais, nada menos...rs), ficaram irreconhecíveis e desassociados dos seus personagens famosos. Um desafio a qualquer diretor.

Enfim, resolvi assistir a Um Dia (One Day. Lone Scherfig, US/UK, 2011), adaptação para o cinema do livro de David Nicholls, que eu trouxe aqui no Viagens

Engraçado como a nossa relação com uma história muda. Cheguei ao filme sem muitas expectativas, já que o livro havia me deixado com um gosto amargo ao final. Rita, minha amiga querida e leitora profissional, rs, me disse que aquilo que havia me incomodado era apenas fatos da vida. That's life, ela disse. Para mim, no entanto, ficara uma sensação de "oh, quanta chance de redenção" há nessa existência. Ok, minha visão é realmente cínica, mas ela foi forte ao final do livro.

Ao assistir ao filme, algumas impressões anteriores se confirmaram. Na tentativa de se manter fiel ao livro, Scherfig (que nome é esse...) acabou por cometer o que, para mim, é um dos pecados mais graves numa adaptação: a desconsideração de que se trata de duas linguagens muito diferentes. Fez um retrato do livro em imagens, mas nele perdeu a história que contava. O livro traz o mesmo dia - 15 de junho - no dia dos protagonistas e, assim, como a vida dos dois está em cada ano. Mas em cada capítulo, os acontecimentos, sentimentos, desafios, alegrias, conquistas e mudanças dos personagens se apresenta, e sua jornada anual não fica incompleta. Essa coerência se perde no filme, e não sei se a vivência de Dexter e Emma tem algum sentido sem a viagem anterior no livro. 

Há uma cena em particular em que um simples flashback - que se encontra no livro, by the way - resolveria um gap imperdoável. Mas ele não ocorre, e assim se perdeu uma oportunidade de dar mais intensidade à história de dois amigos que vêm seu relacionamento se transformar nos vinte anos em que convivem. 

Prova de que boas ideias por si só não se sustentam... 



PS: O elenco de One Day foi perfeito para mim, though. Anne Hathaway é Emma! E Jim Sturgess é a imagem de Dexter mais velho... talvez por isso o final da história, no filme, tenha feito mais sentido para mim. A fala de Dex em filme me disse mais do que sua versão em palavras...

2 comentários:

  1. Dri, eu estou tãão de acordo com a sua afirmação de que "as circunstâncias em que assistimos a um filme fazem parte dele tão fortemente quanto as imagens apresentadas na tela"!!

    Tendo aprendido isso, já consigo evitar discussões a respeito de "se o filme é bom ou não é", que poderiam causar algum desgaste com pessoas que entendem que sua posição deve ser absoluta, porque, na verdade, a percepção é uma coisa muito relativa, né?

    Que bom que você viu Melancolia! Agora vamos poder comentar!

    Beijinho.

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  2. Kakal, é fato! Rs. Esses dias eu comentava sobre um filme que considero perfeito. Então, perguntaram: perfeito para quem? Para mim, claro!!! Rs. O ponto de partida sempre somos nós, não é?

    Carinho graaaaaaaande!

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