quarta-feira, 2 de maio de 2012

E eu que já havia desistido...


Minha primeira lembrança dos Beatles vem de Michelle, música que eu ouvia repetidamente aos sete anos. Minha irmã saía pela porta, eu entrava no nosso quarto e colocava no stereo (big smile) um dos discos da coletânea que eu ouvi seguidamente até aparecer o tocador de CD. E foram anos com aqueles álbuns, o vermelho e o azul, com os Quatro de Liverpool em fotos no início e no final do grupo...


Um pouco a respeito eu conto em Something, história que escrevi para Os Degraus de Amélie quando dos dez anos da morte de George Harrison, meu Beatle favorito.



Something é também o título de uma das músicas mais famosas dos Beatles, de autoria de George, da qual,  aliás, não gosto nada. Mas me emocionei às lágrimas quando Paul McCartney a tocou em seu show em Recife, no dia 21 de abril. Eu estava lá, por ação da minha sis de coração, Kal. Com ela, me emocionei e chorei em vários momentos. Com ela, saí exausta e feliz daquele que, com certeza, é um dos shows mais incríveis que vi na minha vida.


Paul esteve no Brasil várias vezes,  uma delas no ano passado. Em todas elas ficou num aperto no coração por não ter me esforçado muito por chegar até ele. A primeira vez em que esteve no Brasil eu tinha 20 anos, estava no meu primeiro emprego. Vi uma amiga ir ao show em SP com admiração por ela se deslocar ao que, para mim, era terra de ninguém, para ver um show, mesmo que fosse com o Paul. Bom, logo depois segui seu exemplo e cheguei à cidade grande (caipira do interior forever!) para ver David Bowie, outra paixão grande. Depois dessa primeira aventura, muitas se seguiram, thanks God, e hoje viajar para ver minhas bandas preferidas é já um costume. 

O Arrudão no dia 21 de abril : )

Mas de Paul McCartney eu havia sinceramente desistido. Uma que seria difícil, a meu ver, que ele voltasse ao Brasil. Outra que tinha um certo receio de o show ser cafona. Sério. Os Beatles para mim são uma instituição sagrada, e se e uma decepção ao encontrar um deles ia ser de lascar. Não fui assistir a Ringo Star em Brasília justamente por isso.

No entanto, quando Kal ligou e me intimou a ir ao show, que seria pertíssimo de sua casa (tanto que voltamos a pé, numa maratona à parte, divertidíssima), a esperança voltou. Deixei o receio de lado e fui para Recife. Não acreditava no que ia ver até entrar no estádio e ver a excitação do público, numa expectativa imensa no escuro do estádio - as luzes permaneceram apagadas, chegávamos aos nossos lugares meio que no escuro. E isso importou? Até parece... Nada importava, só a presença de amigas tão queridas num show que prometia ser inesquecível.


E a promessa se concretizou a cada instante. superando toda e qualquer expectativa. Meia hora antes do início, que ocorreu pontualmente às 21h30 (embora os jornais insistam em um atraso de 5 minutos, pense), os telões, ao som de músicas dos Beatles, mostravam imagens de Paul, do quarteto e da Inglaterra. Um fourplay eficiente e emocionante, que já nos preparou para gritar enlouquecidamente na entrada de Paul no palco, com Magical Mistery Tour.

And magical it was.

Cafona?  Onde eu estava com a cabeça? O show foi perfeito, de despedaçar o coração. E foi rock'n roll ao extremo, com músicas que nunca pensei ouvir ao vivo num show de Paul: Back to USSR, Helter Skelter (quase morri), A Day in The Life (quase morri novamente). Blackbird me emocionou horrores. Várias músicas menos conhecidas dos Beatles apareceram também, e eu as reconheci graças ao programa de rádio sobre eles que eu ouvia todo sábado, enquanto lavava o carro. Nessa época, saí do universo dos dois álbuns da minha irmã para conhecer melhor essa banda que amo tanto e que se separou justamente no ano em que nasci. 


Foram três horas de encantamento emocionado, que o público perfeito de Recife ajudou a construir. Nas reportagens da Folha e da Rolling Stones, esse público arretado (nas palavras de Paul : ) e extremamente respeitoso foi chamado de desinteressado (pelo vídeo acima, dá para perceber que viagem foi esse comentário). Acho que eu e os críticos não fomos ao mesmo show. Um exemplo do respeito? Todos gritavam o nome de Paul ao final... quando ele chamou a banda - também maravilhosa e divertidíssima - para a frente do palco, todos trocaram seu nome pelo aplauso. Foi bonito. Um exemplo da alucinação que estava aquilo? Antes do bis, com o estádio completamente às escuras, o coro de Hey Jude cessou apenas quando os músicos retornaram. Arrepio ainda.

O autógrafo nas costas da fã que subiu ao palco virou tatoo logo na segunda-feira. E Paul pergunta: sua mãe sabe disso???

E por falar na banda, ao pesquisar após o show, entendi a sintonia dos músicos no palco. Juntos há 10 anos, eles se entendem e divertem no palco, uma delícia de ver. Os guitarristas que tocam com Paul têm a incumbência de, nas músicas dos Beatles, tocarem o que cabia, nada mais, nada menos, a George Harisson. E o fazem muito bem. Um deles, Rusty Anderson, o guitarrista beatlemaníaco vampiro, é a imagem da felicidade no palco. Entusiasma-se, sorri para o público, dança loucamente, cai no chão exausto... Um show à parte, assim como o baterista, que faz uma dancinha engraçadíssima durante o show, divertindo mais ainda o público.

Rusty Anderson

E isso é muito do que faz esse show incrível: mesmo longe - eu estava na arquibancada, no setor mais distante -, todos eles, no palco, criam uma proximidade incrível com o público. Paul é irônico e sentimental ao mesmo tempo. Ri de si mesmo, diverte-se com as brincadeiras dos músicos. Homenageia os que fizeram  e fazem parte de sua vida, como os parceiros dos Beatles, sua falecida esposa Linda e sua atual mulher, Nancy. My Valentine foi cantada na companhia do clipe, produzido recentemente, que tem Johnny Depp e Natalie Portman. 




Nesse turbilhão, chegamos ao final completamente exaustos e em êxtase, sem entender como aquela criatura de quase setenta anos, desmanchado no calor de Recife, consegue criar uma atmosfera tão encantada, com uma energia incansável. Admiração, emoção, felicidade... Ainda bem que o universo (na forma da minha sis amada!!!) me deram essa oportunidade.

Gratidão eterna, Kal!

Depois da festa em Recife, exatamente uma semana após Paul McCartney, já de volta ao meu povoado quadrado, eu cheguei a outro show que protelei assistir por anos e que, ao chegar na minha cidade, não me deixou outra escolha : )

Duran Duran é amor antigo também, não tão visceral quanto os Beatles, mas muito especial. Eu o vi chegando ao Brasil em diferentes épocas. Ouvi de amigas rockeiras como conseguiram falar e tirar fotos com Simon Le Bon ou Nick Rhodes  ou Jonh Taylor (foi, mal, Roger... logo ele que fundou a banda eu deixo de fora das lembranças). Essas eram histórias divertidas, mas distantes de mim. Até o sábado passado.

Em uma circunstância que só poderia acontecer neste povoado, rs, uma semana antes do Duran se apresentar em Brasília, somente 200 ingressos haviam sido vendidos, numa cota de 3000 apenas para a pista premium. Assim, o show foi transferido para um sala menor, que deixou a banda muito mais próxima do público. Cheguei cedo e, apesar da tabaquice da produção, consegui ficar na grade, inédita em shows no Centro de Convenções, mas compreensível numa banda como o Duran.


Esta e a foto seguinte foram tiradas pela Paty, que foi comigo ao show. Muiiiiiiiito perto!!!
 


E aí o inacreditável aconteceu novamente: logo nos primeiros minutos do show, Simon Le Bon me aparece na minha frente, em cima de uma caixa de som. Eu, que achava difícil vê-los um dia, não somente estava ali, mas estava tãaaaaaaaaaaaaaao perto. Foi incrível, mesmo com a vergonha de ver que, nem num espaço menor, a lotação foi completa. 

Apesar de povoado, ganhamos uma surpresa inesperada: Save a Prayer, ausente do set list do Duran há vários shows, foi cantada junto com o público, que parecia não acreditar também. 

Há uns posts abaixo, falei sobre o livro de Scott Westerfeld, The Last Days, em que ele, com seus personagens de final de mundo, conta sobre como um show de rock pode ter o poder de destruir ou salvar o mundo. Para mim, é sempre a salvação. Um dos meus lugares favoritos neste planeta, um show de rock consegue trazer uma felicidade para a minha alma me faz sempre, sempre, valorizar esses momentos. A dificuldade em comprar os ingressos, a viagem para outras cidades, a peregrinação para os estádios (em Recife, até isso foi uma belezinha! Carona boa sem engarrafamento, estádio perto de casa, companhia para a volta encalorada), a saída exausta e tumultuada no meio da multidão... nada disso é empecilho. 

Os shows continuam a ser, como o cinema, uma das minhas casas favoritas : )



PS: Os vídeos neste post foram trazidos do youtube. Eu tenho alguns do show do Paul McCartney e do Duran Duran, mas são muito fragmentados. Apesar de gostar muito de ter o registro, eu tiro poucas fotos e meus videos são curtos. Eu acho que, se me preocupo muito em filmar ou fotografar, acabo por não aproveitar o show. Ainda bem que muitos não pensam assim, porque alguns registros são bons e completos, como o acima - no qual, aliás, dá para ouvir meus uhuuuuuuuuuuuus e Simon!!! Sim, a voz esganiçada é minha. Enjoy!!!!


PS2: The Beatles, conhecido como O Álbum Branco, é definitivamente o mais amado por mim. Bittersweet, ele é uma imagem em sons do que foram os últimos anos dos Beatles. Algumas das minhas preferidas, assim como das detestadas, estão lá. Dear Prudence consegue me pegar pelo pé sempre que a ouço... O lado B é uma sequencia de felicidade: Martha My Dear, I'm so Tired, Blackbird... pulamos algumas faixas, e lá está Julia. Volto para o lado A, e repito seguidamente While My Guitar Gently Weeps, a música mais perfeita do universo. No segundo disco, Mother Nature Son, Everybody's Got Something to Hide Except for Me and My Monkey (que Paul toca no show, unbelievable!), Sexy Sadie, Helter Skelter, Honey Pie, Cry Baby Cry... Maravilhoso esse album. E muito dele esteve presente no dia 21 de abril. Cafona... cada ideia. 




2 comentários:

  1. Você falando Arrudão é ótimo, hohoho!
    Que gostoso ler seu relato tão emocionado e carinhoso! Minha emoção não passou até hoje!
    Pelo jeito, não devemos desistir nunca!!!!
    Beijinho!

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    1. Desistir jamais!!! Principalmente com o carinho e cuidado tão queridos de uma pessoa super querida! Se cheguei ao show, foi pela sua dedicação : )

      Viu que eu não peguei só o sotaque, né? rsrsrs.

      Saudade!!!

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