segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Setembro em Outubro, com resquícios de Agosto...

Em agosto, entrei em contato, a partir da sugestão das minhas gurus nerds, Amanda e Melissa, com a mais recente adaptação da BBC de Londres para o personagem de Sir Arthur Conan Doyle. Sabe aquele? Como é mesmo? Ah, Sherlock Holmes.

Ao assistir ao primeiro filme (são seis filmes, e não episódios, divididos em duas temporadas até agora) em encantamento e algo bastante perto da histeria, várias ideias vieram à minha cabeça. Uma delas é como um personagem bem construído não tem idade e tempo... 

Outra delas foi que, apesar de geralmente afirmar que gosto de Sherlock, eu não havia lido nada do Conan Doyle ainda. Percebi, assim, como alguns personagens se constroem no imaginário sem que saibamos exatamente como... eles se tornam praticamente um senso comum. Deles falamos com proximidade, sem saber exatamente como essa intimidade surgiu. 

O seriado criado por Mark Gafiss e Steven Moffat eu considero genial. Absolutamente genial. E não sou a única... a reação à série é tão forte que tem sido rechaçada, hoje, principalmente pelos críticos de TV norte -americanos. Eu penso ser uma oposição que tenta diminuir a produção inglesa para dar mais destaque à nova adaptação nos US, Elementary - Sherlock, apesar da sua indiscutível qualidade, foi ignorada nas indicações do Emmy deste ano, exceto pela indicação a melhor ator de mini-série a Benedict Cumberbach.

Bom, eu vi as duas, gostei, embora ache o Sherlock americano de Jonny Lee Miler mais bobinho. Ele se explica muito, quase desnecessariamente, e tira um pouco, para mim, do extremo que o personagem traz em si. Assim, a  genialidade ainda permanece, a meu ver, com o Sherlock inglês de Cumberbach, um psicopata maravilhoso que se disfarça de ator : )  Mas o mundo tem espaço para os dois, e mais até, como provam os filmes anteriores de Guy Ritchie produzidos para o cinema sobre Sherlock - com o também incrível e doente Robert Downey Jr.

Por falar em incrível, o já citado Cumberbach, em seu Sherlock, tem em Martin Freeman, com Watson, uma contrapartida à altura. Os dois juntos são indescritíveis, reinventam uma das parcerias mais ilustres da literatura com  suas sutilezas e complexidades, e o fazem com muita competência e respeito. A amizade crescente dos dois dá alma às histórias de Sherlock, e essa alma aparece na série com toda a sua força.

No quinto filme da série, há um diálogo de que gosto muito entre Sherlock e Watson - ele não é o mais impressionante, mas define bem o entendimento entre os dois, além de ser o único que decorei.

A conversa ocorre mais ou menos assim: Depois de solucionar o caso do Cão de Barkesvilles, Watson senta, com seu modo tranquilo, numa mesa ao ar livre para almoçar. Sherlock, ao seu lado, se movimenta sem parar, com uma xícara de chá (café?). Do alto, diz a Watson que não entende por que não sacrificaram o cão. 

Watson: They couldn't do it.
Sherlock: Ah, I see.
Watson: No, you don't.
Sherlock: No, I don't. Sentiment?
Watson: Yes. Sentiment.

Em The Sign of the Four, uma troca rápida de palavras entre os dois me trouxe esse mesmo aspecto da sua amizade:

We pulled up at the Great Peter Street Post-Office, and Holmes dispatched his wire.
"Whom do you think that is to?" he asked as we resumed our journey.
"I am sure I don't know". (p. 182).

Ao ler esse diálogo, simples, mas que mostra muito da personalidade de Watson, não consegui deixar de visualizar as palavras na expressão de Jeremy  Freeman : )

A série traz em si várias peculiaridades da escrita de Conan Doyle, que, segunda Amanda, não é nada coerente - há furos que Moffat e Gattiss inseriram na sua produção, tornando-a mais interessante e um mistério também a desvendar para os espectadores. Isso somado à intensidade da produção de Sherlock, à qualidade das cenas e, principalmente, à complexidade de seus personagens em destaque - Sherlock, Watson, Lestrade, Mycroft, Irene, Moriarty... -, me levaram finalmente à leitura da obra de Conan Doyle, com seu personagem ilustre.

E não dá para deixar a música de fora. O score de Sherlock traz temas que permanecem conosco por muito tempo depois das imagens e que hoje, para mim, associa-se muito ao personagem e suas aventuras. 

E assim, depois dessa longa introdução, chego ao último livro de agosto e ao primeiro de setembro: A Study in Scarlet (Um Estudo em Vermelho, 1887) e The Sign of The  Four (O Sinal dos Quatro, 1890), assim como dois dos 64 contos separados. Um deles foi A Scandal in Bohemia, adaptado no quarto filme da série e uma das minhas histórias favoritas - nela Sherlock encontra The Woman, Irene Adler. O conto é curto, mas o que ele traz em possibilidades se encontra maravilhosamente figurado no filme. Uma delícia reconstruir Sherlock dessa forma, em palavras e imagens. 

Os demais contos, assim como os dois últimos livros, eu lerei aos poucos. Suspense não é minha viagem favorita, e tenho que intercalá-la com outras histórias, para não perder o encantamento.  Mas estou surpresa por ter demorado tanto a chegar a Conan Doyle, sem num haver percebido como considerava Sherlock tão próximo, sem nem ter motivos para isso. Incrível.

Em setembro, resolvi levar adiante outro projeto também: eu sempre digo que li quase todos os livros de Nora Roberts... dois posts abaixo, escrevi bastante a respeito. No mês passado, consegui um arquivo com todos os livros da autora. Assim, resolvi eliminar o quase, aos poucos, e completar a tarefa de ler tudo que a escritora mais prolífica dos US escreveu... Mas não está fácil, porque, além de serem muiiiiiiiiiiiiitos, alguns são realmente infames. Mas eu vou devagar, como com Sherlock.

Assim, li os dois livros que me levaram à semana NR em julho, mas que não li naquela época: Time Was e Time Change, que, relançados em capa dura sob o título Time Again, se tornaram os primeiros livros de NR a alcançarem o primeiro lugar na lista do New York Times. Time Was é divertido, surpreendentemente bem escrito, com diálogos bons e ágeis. O segundo é uma continuação razoável, mais uma curiosidade a respeito do destino dos personagens. Mas eu os li rápidamente - e feliz. 

O terceiro foi Dance of Dreams, já a continuação de um anterior que ainda não li. Eu amo ballet e de todos os livros e filmes a respeito eu gosto de início, mesmo que eles sejam considerados ruins. Não é o caso desse, embora siga a linha mais fraquinha da escrita para a Sillouette. A história ficou comigo, e eu reli vários trechos após o fim... uma tentativa de fazer permanecer aquilo com que me identifiquei.

O quarto livro de NR no mês, infelizmente, foi bastante ruizinho... as primeiras incursões de Norinha no mundo mágico celta foram bem cafonas, e In Dreams é um dos piores que já li. 

Os filmes andam meio largados aqui no Viagens ultimamente. Trago hoje os que vi em agosto e setembro.

A Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Night Rises. Christopher Nolan, US/UK, 2012) eu assisti sob a sombra extremamente dolorida do ataque em Aurora, Colorado, na estreia do filme lá. Entrei no cinema e, durante os primeiros 40 minutos, não conseguia parar de pensar que uma sala cheia de pessoa, em algum momento, se deparou com o impensável. A minha tristeza era tanta que não sei dizer se a tensão crescente do filme se deveu a ele ou a esse início angustiante. Não posso dizer que gostei deste último Batman, mas o achei extremamente bem feito. A angústia que Batman traz na sua existência e razão de ser está ali, e o filme a construiu muito bem. E, ao fazê-lo, me impossibilita de usar a palavra gostar associado a ele. O que não tira seu mérito, ao contrário, só o aumenta.

Ontem mesmo dizia de filmes que não permitem a associação com o gostar, com o prazer que está implícito quando dizemos que gostamos de algo. Mas são geniais e, sem dúvida, estão entre os filmes para a vida toda. Dogville, A Fita Branca, Violência Gratuita (os dois últimos, sem coincidências, do Heneke), Não Matarás... Não que The Dark Knigh Rises se iguale a eles, que chegam ao âmbito do insuportável de assistir, mas traz consigo essa impossibilidade do prazer que a angústia traz.

A Brave (Valente. Mark Andrews e Brenda Chapman, US, 2012) eu assisti duas vezes, com a pequena. Adoramos o filme, rimos e nos emocionamos demais. Mas o que admirei aqui foi uma princesa da Disney/Pixar que possui uma família com nome e história próprios. Não é órfã, não tem um príncipe e a sua jornada de amadurecimento está ligada não ao amor romântico, mas à mudança do seu vínculo com a mãe - que se chama Elinor, aliás. Tudo bem, a continuação deve trazer Mérida com seu príncipe... e  a história será mais legal justamente por vir com um contexto. 

O simbolismo usado para contar desse crescimento é a mitologia celta, de que gosto muito. A mãe urso é tão forte... eu já a trouxe em conversas com a minha pequena. Muito bom.

360º (US/Austrália/França/Brasil, 2011) está conhecido como "o novo filme de Fernando Meireles" e não tem sido muito elogiado. Meireles tem sido massacrado pela crítica, o que é uma pena. Esse filme especificamente tem problemas, mas não deixa de ser interessante, divertido e até meigo - aaaawn. Seus personagens seguem na contramão do que esperamos dele, e só por isso já gostei. Mas Fernando Meireles é um cineasta admirável, e se dele se espera muito, é pelo tanto que já realizou. Eu, no entanto, prefiro chegar ao cinema sem expectativas, e curtir o filme, como o fiz com 360º, tranquilamente, sem pressão - quem dera fosse sempre assim, rs.

A outra animação do mês também vi duas vezes. ParaNorman (Chris Butler e Sam Fell, US, 2012) é um filme de terror para crianças. Eu adorei! Vi com os meus dois sobrinhos de idades diferentes, com cada um separadamente, e as diferentes reações foram deliciosas de acompanhar. O filme é ácido, inclusive na estética, e Norman é um protagonista muito bacana, que fala bastante de um mal que nos acompanha na escola e na vida: a intolerância com as diferenças, uma das principais forças por trás do Bullying. Este tem sido exposto e discutido com maior seriedade e atenção, thanks a algumas almas corajosas - uma delas é a Tânia, amiga da universidade, que estuda o Byllying com muita lucidez e sensibilidade na sua dissertação e que foi à estreia de ParaNorman comigo e Tiela. 



Um filme muito esperado por mim foi Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter. Timur Bekmanbetov, US, 2012 ). E daí está o que falo das expectativas. A primeira parte dele é tão boa, tão interessante e bem executada... mas a continuidade, com a pressa em passar para o Lincoln presidente é tão superficial que o filme perdeu bastante da sua força para mim. Creio o o livro de Seth Grahame-Smithe, bastante elogiado, consegue fazer dessa história inusitada uma leitura mais interessante que o filme. 

Eu resisti a assistir a Intocáveis (Intouchables. Olivier Nakache e Eric Toledano, França, 2011) o quanto eu pude, mas, ao final, depois da indicação de pessoas em quem confio, rs, cheguei a ele, felizmente. Porque tudo o que ele poderia trazer de cafonice ele compensou ao contrário, ao contar uma história dolorida sem passar a mão na cabeça dos personagens ou trazer um monte de clichês. Ao contrário. Achei uma belezinha, além de me acabar de rir e emocionar. E, mais que tudo, Omar Sy é uma fonte de alegria e espanto constantes, basta olhar esse sorriso do além.

Um dos meus grandes medos com alguns filmes é a cafonice ao tratar de temas delicados, principalmente quando se trata de uma história baseada nos chamados "fatos reais". Quando, na sinopse de Intocáveis, vi paraplégico + assistente negro e pobre + pessoas que transformam sua via pensei logo no apelo emocional como resultado da equação. Mas as ideias iniciais sobre as coisas são somente isso mesmo, um início... que se mostrou diferente do que encontrei no cinema. O que também é sempre uma surpresa boa.

O último filme do mês, antes de uma conjuntivite besta me atacar cruelmente ( : ) foi Tinker Bell: O Segredo das Fadas (Secret of the Wings. Roberts Gannaway e Peggy Holmes, US, 2012) a que assisti basicamente porque a minha florzinha adora. 

Durante o filme, eu lembrei de uma vez em que, numa casa de festas para escolher a decoração do niver da pequena, ouvi a mãe de uma criança reclamar que a estátua da Tinker era muito sensualizada. Bom, nada como uma ideia para se fixar na nossa cabeça: não conseguia pensar em nada mais no filme, ao observar a caracterização da Tinker, das fadas suas amigas e, principalmente, dos "fados", super bombados... Isso diz o quanto eu achei o filme bom, rs.





PS: Ao ver Sherlock, o rosto de Martin Freeman não me era estranho. Bom, eu já sabia que ele será  Bilbo Baggins, em O Hobbit (Peter Jackson, 2012/2013/2014... mais três anos de espera, como foi com LOTR!!!). Neste, aliás, está também Benedct Cumberbach, com sua voz de trovão (impressionante).

Mas o rosto de Freeman era familiar por outra razão... E quando busquei sua página no imdb.com, vi que ele participou de várias produções conhecidas. No entanto, a que havia me dado uma referência forte foi Simplesmente Amor (Love Actualy, 2003), um filme muito querido em que ele faz um personagem que se apaixona de forma bastante inusitada. 

Eu fico feliz de vê-lo se tornar cada vez mais conhecido. E o poster de  O Hobbit está de entusiasmar (mesmo com um toque básico de photoshop...rs).







2 comentários:

  1. Muahaha sou importante :DD pra não escrever um texto gigante aqui em resposta, pq eu não canso de falar de Sherlock...

    Do Conan Doyle, TEM que ler The Final Problem e The Adventure of the Empty House, agora depois q vc já viu o Reichenbach Fall! <3 Várias adaptações de Sherlock tem seu mérito.. mas o Moriarty da BBC é o mais fascinante, amo *___*

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    1. Escreve um texto gigante, please!!! Quer publicá-lo aqui no Viagens?

      Estou tentando ler os contos na ordem... mas já duvidei dessa decisão seriamente, rs.

      As adaptações de Sherlock são muito boas, principalmente os dois filmes do Ritchie. O problema é ocmo a imprensa tem rebatido a reação dos fans à versão da BBC, que, aliás, é esperada, porque a produção é realmente muito boa. E o Moriarty nela é extremo, amo tb!

      Aguardo seu texto? : ) Bjin!!!

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