domingo, 21 de agosto de 2011

"... for always being too much, and never enough"

Ao olhar para os últimos dias, percebo que tudo relacionado ao livro de Kim Sunée até o momento, para mim, foi devagar. Demorei 18 dias para ler Trail of Crumbs: Hunger, Love and The Search for Home. Ao tentar postar os comentários ao livro aqui no Viagens, o texto fez poof e sumiu. Mais três dias e ainda não havia conseguido reescrevê-lo...

O livro me angustiou de uma forma que não sei como consegui chegar ao fim.

Comprei Trail of Crumbs, na Livraria Cultura, pela capa. O primeiro livro que comprei assim foi Vince & Joy, de Lisa Jewell, e até hoje ele é meu livro do coração. Então eu sempre arrisco, porque boas coisas podem vir pela capa. E do título ao campo de lavanda - que amo -, Trail of Crumbs chamou minha atenção. Ficou na estante uns meses até que, sem nada mais para ler, resolvi passar do nome e da capa para o que estava dentro.

Kim Sunée, uma órfã coreana abandonada pela mãe num banco de praça e adoada por um casal de americanos, não consegue encontrar seu lugar no mundo. Para contar da sua inadequação, ela os seus 22 anos, quando conheceu o fundador da L'Occitane, Olivier Baussan, e com ele viveu por cinco anos. A impossibilidade de ser feliz numa vida que todos lhe diziam ser perfeita é uma forma de ilustração para o seu senso de não pertencimento, solidão, abandono e procura pela felicidade.

Até aqui, picture perfect.  Inadequação e busca pelo próprio lugar eu consigo entender, e  com histórias que trazem essa procura eu consigo me identificar muito fortemente. Também não é estranho para mim que Kim não tenha conseguido ser feliz na Provence. Com uma personalidade forte, centralizadora e energética, Olivier é um homem interessante ao extremo, mas muito difícil também. Viver ao seu lado sem ter sua própria identidade e profissão é um risco de simbiose eminente... Ou assim Kim o retrata nas suas memórias.

O que soou estranho para mim e me arrastou durante toda a leitura foi Kim escrever um livro para justificar-se de não haver conseguido viver com Olivier, por não ter aceitado feliz o que ele lhe oferecia. Muito bizarro. Ela apresentas várias justificativas para si mesma, para os pais, para os amigos e, principalmente, para Olivier. Essa é a tristeza do  livro para mim -  consigo perceber agora, depois de dezoito dias de leitura arrastada, um post perdido e três dias tentando recuperá-lo. 

Para se justificar, ela se coloca como mercadoria quebrada, objeto defeituoso, ser humano ausente. Assim, não importa o homem, o lugar, as circunstâncias... ela está fadada, pela sua condição, a ser infeliz e 
solitária. Se ela está irreversivelmente quebrada, o que fazer? Angústia. Ela se define, nas suas palavras: “... what I truly am: a loner, lonesome, and irreversibly heartbroken.” (p. 333). Meu coração não aguenta.

E as contradições desse processo? Inacreditáveis. Com uma delas eu me defrontei quando voltei ao livro para trazer trechos para este post (p. 44): “Marriage was the last thing I was looking for. I didn’t need a ring to escape, just a valid passport.” Novamente, perfect. Mas, durante o livro, numa performance satelite heart, Kim usa os relacionamentos como um passaporte válido. E se viver com alguém durante cinco anos, cuidando de sua filha, sua casa, seus amigos não é casamento...  sei não.

No processo de tanto justificar-se, amizades, amores, família, em relações fortes e intensas, se perderam. O panorama é tão frio e recortado, que fica ininteligível. Em três linhas, ela passa de uma paquera desinteressante para um namoro firme, mas não tem força de síntese para isso. A sensação que tive foi que pulei páginas e páginas de leitura, e algo se perdeu nesse intervalo. O distanciamento que isso provoca prejudica muito nossa identificação com o livro, a história e sua narradora. Uma pena. O campo de lavandas era tão lindo.

Trago alguns trechos do livro, especialmente uma conversa de Kim com seu terapeuta em Paris, de que gosto muito. Como em outros posts, tento trazer citações da história que não comprometam a sua leitura, mas que façam sentido para quem não leu o livro. São pensamentos, diálogos, imagens que fizeram muito sentido para mim. O título é uma citação, e ela se encontra na página 319. 

What can I hope for in a man? To be understood?”
“Neither desirable nor possible.”
“Communication?”
“No real communication possible pure communication, anyway.”
“Than what? This is just one big misunderstanding, then?”
“Il n’y a pas de malentendus, que des malentendants.” There are no misunderstandings, just misunderstanders.
I am tired of these word games. “All I wanted is to be loved, simply, for what I am and not for what he thinks I should be. What is the price I have to pay – solitude?” He doesn’t answer, so I push harder. “I don’t want to be a part of it, I’m retreating from the world.”
“No, you must live in the world. It’s not a question of isolating yourself, but to know what is tolerable for you… when to say yes and when to say no. Or no and yes… like coming and going…they’re one and the same.” (p. 249).

And I’ll never forgive myself for not knowing what I want, why I don’t want what he wants to give me – love and a place in the world I don’t have to fight for, an identity that isn’t mine. (p. 250). 

Love, Flora told me so many times, is what keep us with the living(p. 303).

… the marks and traces are what make us beautiful. (p. 357).


No matter how intelligent a separation can be, there are still traces of the failed relationship – rejection, destruction of the ego, raging jealousy. (p. 368).




No cinema, dois filmes que assistir mais pelas circunstâncias que por eles mesmos e que me divertiram bastante.

Cheguei a Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses. Seth Gordon, US, 2011) por uma falta de opção de filmes a que assistir no dia. Estava com a minha mãe e ela aceitou o risco. Carambola, como eu ri. Mama séria soltou duas risadas, o que foi um atestado de super comédia ao filme. Adorei os atores em papéis inusitados, diferentes do seu usual: Jennifer Aniston como uma chefe tarada e  mau caráter; Colin Farrel gordo e careca (alguns nem o reconhecem de imediato). Essa brincadeira com as referências do próprio cinema é legal, divertida. E de Jason Bateman eu gosto muito, e o tempo dele para comédia, com aquela expressão impassível, é muito bom. 
Filhos de João: Admirável Mundo Novo Baiano (Henrique Dantas, Brasil, 2009) foi uma escolha da querida Mariana, com quem fui ao cinema. Desde a primeira cena até a metade do filme, fiquei bastante preocupada com o que via. Um documentário anacrônico, com cenas referenciais meio lost in space e muitos, mas muitos  mesmo, depoimentos sobre o grupo Novos Baianos.  As falas, como a de Tom Zé (sempre muito divertido) eram importantes e muito boas, mas sempre me surpreende que, num documentário, se acredite que apenas elas sejam suficientes - a menos que a entrevista seja a forma do documentário. Edifício Master é incrível, e é todo em depoimentos, mas essa é a proposta e a base do filme de Eduardo Coutinho, que não sustentou, para mim, o filme de Henrique Dantas. Mas thanks God nada é o que pensamos, e da segunda metade em diante, com registros de época e um foco no modo de vida dos Novos Baianos (um ideal e uma prática muito doce, forte, bacana e emocionante), o filme se tornou uma delícia, e dele saí com Besta é Tu na cabeça e na voz, feliz da vida.


Aqui no Viagens, eu trago mais as minhas impressões. Mas Mariana, em seu blog Escritos do Ócio, escreveu uma crítica bastante bacana sobre o filme, vale conferir: http://escritosdoocio.com.br/2011/08/os-novos-baianos-em-filme-e-lembrancas-da-salvador-dos-anos-70/


Sobre a ausência de Baby do Brasil no documentário, há um esclarecimento no site da cantora: http://babydobrasil.webnode.com.br/news/baby%20explica%20sua%20aus%C3%AAncia%20no%20documentario%20%22filhos%20de%20jo%C3%A3o%20-%20admiravel%20mundo%20novo%20baiano%22/ 






Este post, uma rescrita totalmente diferente daquele que se perdeu em algum lugar do virtual, aparece aqui com uma grande ajuda: num domingo feliz, mas cansativo, sentei no novo café perto de casa: Ernesto Cafés Especiais, na 115 sul. Um lugar fofo, com uma janelona ao fundo, com vista para uma enorme mangueira. Café bom, chás especiais orgânicos numa seleção me interessou muito, apesar da pouca variedade de chás pretos e, o mais legal de tudo, temporizador para a infusão do chá na mesa (wow). Gosto dos bolos caseiros, mais fáceis que as tortas. 


PS: Hoje, 30.8.11,  resolvei editar uma parte deste post. Eu havia escrito sobre como a proprietária de Ernesto Cafés Especiais era o meu idela de dona de café... esse quadro mudou em visitas posteriores ao café. Creio ser somente uma questão de experiência - o café não tem dois meses... Agora é esperar e ver se a sua qualidade não cai no decorrer do tempo. Espero que não.



3 comentários:

  1. A estou doida para ver esse filme, Como Matar Meu Chefe. Que bom então que ele é realmente engraçado. Vi pedaços do trailer e achei bem fora do comum. Beijos Dri.

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  2. Dri, eu realmente nao conhecia o Viagens, so o Degraus que visito com frequencia. Me explica o que os separa?
    Gosto do jeito que você escreve! E vou hoje mesmo ver o filme Quero matar meu chefe!
    BJO

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  3. Oi, Jô! a ideia do viagens é comentar os livros que leio, os filmes que vejo, coisas de que gosto e compõem a minha imaginação. O Degraus é essa imaginação em ação. É como se o Viagens fosse o contexto em que ocorrem as histórias do Degraus. Tento, aqui, não fazer uma crítica em si, mas dizer do que me tocaram as histórias que vi e li.

    Inicialmente, a listagem dos filmes e livros ia fazer parte do Degraus... mas ela acabou crescendo e aí surgiu o Viagens. Adoro os dois! Ando preguiçosa para escrever, mas logo virá um post novo.

    Obrigada sempre! Bjo, Dri.

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