
No sábado, depois de sonhar com Panem toda a noite (eu eu consigo não ser tão exagerada??? E como sofri com esse exagero esta semana!), eu consegui a hora e o lugar desejados: 11h50 na sala Xtreme do Cinemark. Uma tela gigante para projetar em imagens uma história que conta da tela como um forma de opressão social, econômica e ideológica.
May the odds be ever in you favor... e dessa vez estava mesmo.
Todos os meus receios para essa adaptação se mostraram infundados, thanks God, e as surpresas foram boas. Certo, há pontos desfavoráveis, sempre, mas o coração desse filme, para mim, estava no lugar certo.

É nesse silêncio que a força se encontra. Nele e no cuidado da construção das cenas. Sem dizer muito, entramos no extremo que é viver num Estados Unidos dividido em 12 distritos divididos por um abismo econômico como forma de controle social. Situado num futuro não muito distante do nosso presente, a história traria um mundo aparentemente mais perverso que o nosso. Durante os livros é possível perceber que a coisa não é bem assim.
Um centro econômico próspero e decadente que se sustenta de uma periferia pobre e faminta não é estranho para nós. Uma periferia que não conhecemos de verdade, que não vemos, mas que sustenta um modo de vida que coloca nuvens sobre as questões mais importantes da existência humana. Isso não é distante, nem em tempo, nem em espaço...
A televisão ao vivo como instrumento de controle também não.. Mas Suzanne Collins, autora do livro e roteirista do filme, diz aqui algo de que gosto muito: algumas de nossas ideias sobre o controle midiático e o alcance de programas de TV absolutamente perversos. Na voz de Gale, ela coloca uma frase que ouvimos muito (principalmente em época de Big Brother, de alguma forma uma das inspirações para os jogos): é só as pessoas não assistirem. Diz isso ele, que, no entanto, também não consegue sair da frente da tela, mesmo que tente. O buraco é muito, muito mais embaixo, e Collins nos conta a respeito em seus três livros.
E aí entra o que gosto mais nas narrativas de ficção: sua capacidade de contar do mundo de uma forma que o noticiário de TV - falando em contos da carochinha... - não consegue. Esse, para mim, é o seu verdadeiro alcance e, se quisermos, a verdadeira força do controle e, ao mesmo tempo, da libertação.

Porque é forte e não faz concessões, a história de Katniss nos permite pensar no mundo hoje, na violência com que convivemos diariamente disfarçada de entretenimento, na perversidade de um sistema econômico que consideramos natural... Há vários questionamentos sobre a legitimidade de uma história assim para jovens. Para mim, é justamente isso que a faz forte. Permite uma reflexão bacana sobre o mundo em que vivemos...e, pelo que temos lido e vi no cinema, com os pais acompanhando seus não tão jovens filhos, um diálogo honesto sobre a vida hoje.
O Yahoo Movies trouxe os sentimentos e opiniões de uma mãe a respeito, e nela encontrei muito do que penso sobre a questão hoje: http://movies.yahoo.com/blogs/the-reel-breakdown/mom-eye-view-hunger-games-182013109.html
O caminho para cuidar dos pequenos e jovens que amamos é protegê-los... mas ocultar o mundo em que vivemos, é proteção ou justamente privá-los da percepção do lugar em que vivem e das questões que os rodeiam? Ocultar, não discutir, fazer de conta, não é também um modo perverso de desprepará-los para a vida?
O cinema - os livros, as narrativas de ficção... - proporcionando essa possibilidade de diálogo é o que mais me encanta. Ele cria esse espaço de interação e encontro que, para mim, é bastante precioso. E que haja histórias que apresentem-se de forma honesta é um presente também. Que eu recebi no sábado e novamente no domingo, já que as imagens do filme ainda estavam fortemente em mim. Aproveitei também para reler os dois primeiros livros para, com eles, entrar mais nessas imagens e no que elas me trazem de sentimento, percepção, tristeza e esperança.

Por último, se você não estiver com muita pressa, vale ficar até o final dos créditos. Não há nenhuma cena extra, mas as músicas mais fortes estão ali - surpreendentemente, porque uma delas é com Taylor Swifty, em quem, novamente, eu não punha muita fé, mas que encerra esse primeiro capítulo da saga de Katniss com o tom triste do filme.
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