The end of
the world as we know it. Assim poderíamos resumir o que trazem
as histórias distópicas. Na via oposta à das narrativas utópicas, elas trazem o fim do sonho...
um mundo novo que se forma depois de abusos e descontrole governamental e da
natureza.
Depois de vivermos sem prestar atenção às possíveis
consequências do nosso modo de viver, essas consequências seriam expostas nessa forma de
literatura, em diferentes mundos que encontramos nas histórias. Nelas, a nossa
civilização atual não passa de lembranças difusas, objetos perdidos e
construções abandonadas.
Antes conhecidos como “romances de antecipação”, as
histórias que falam de um mundo que se torna muito pior em consequência da
nossa forma de viver têm se voltado mais para o público juvenil há um tempo. O
sucesso de The Hunger Games – Jogos Vorazes -, que muitos apontam como
inspirado em Battle Royale e na série
de Orson Scott Card, Ender's Game, abriu o
caminho para muitos outros livros e filmes nesse sentido.
A violência nessas histórias e se ela seria “adequada” ao
público jovem (não sei se a violência se adéqua, na verdade) tem possibilitado
o surgimento de discussões nesse sentido. Uma delas, em que uma mãe que escreve
sobre o interesse de sua filha pela história de Katniss em The Hunger Games, quando do lançamento do filme, diz muito do que
eu penso a respeito.
O mundo está aí, a violência nele pela ação das pessoas.
Fingir que algo não existe não o elimina, infelizmente, da face da terra.
Discutir a violência não é uma opção, é obrigatoriedade. E que melhor meio que a ficção? Eu
ainda não conheço nenhum.
Nos últimos meses, tem-se tornado um padrão em mim a leitura de gêneros semelhantes num mesmo
mês.
Este foi o mês do fim do mundo como nós o conhecemos, por meio das continuações de quatro séries distópicas que ocuparam o meu
março.
Iniciei com Through
The Ever Nigh, de Veronica Rossi (Under
the Never Sky 2). A autora brasileira, residente nos
US, cria um mundo em que uma catástrofe natural – o desaparecimento da camada
de ozônio numa parte da terra -, juntamente com o controle exercido pelo poder
vigente, coloca a maior parte da população dos Estados Unidos residindo em
domos, protegidos do céu nocivo pelo teto que os cobre e dos perigos de uma
rebelião pelo sistema de mundos virtuais em que entram de acordo com a vontade.
Viagens, situações, eras... tudo é possível vivenciar num literal piscar de
olhos: cada cidadão tem um dispositivo nos olhos que o leva aos realms que
desejar.
Mas a vida não se resume a esses domos... fora deles vivem
pessoas em tribos de diferentes tamanhos e condições, umas menores e mais
pobres, outras maiores e com mais recursos. Nesse mundo, essas diferentes
condições se debatem e criam as condições para a jornada do herói dos dois
personagens principais: Aria, fugitiva de um dos domos, e Perry, sua alma gêmea
de uma das tribos do “Outside”, um mundo menos protegido que o dos relms.
Bodies on the outside wore experiences like souvenirs. (p.27).
O primeiro livro nos apresenta esse mundo, o estranhamento
de dois personagens com vidas diferentes e como, claro, eles se apaixonam. O
segundo, que li este mês, complica a história um pouco mais, como é digno do
livro do meio de uma trilogia, e coloca os heróis na direção de um caminho do
meio entre suas diferenças. Além da busca de um mundo melhor – no caso, the
still blue.
“it’s not ideal,” Perry said, raising the torch in his hand higher. “Ideals belong in a world only the wise man can understand.” Marron said quietly. (p. 144).
Tenho gostado bastante da série, embora não esteja enlouquecida pelo final. Não sei se é a abundância de séries que me tira um
pouco a ansiedade ou se o livro realmente não empolga tanto, embora seja bom. O
terceiro e último capítulo da série deve ser lançado ano que vem.
Rebel Heart, de
Moira Young (Dust Lands 2), é a
continuação de Blood Red Road, um
livro que não consta do Viagens porque, como percebi há uns dias, eu esqueci
que o havia lido. Até um dia em que a história me veio à lembrança e decidi
procurar pela continuação da série.
Ele se aproxima de Under
the Never Sky por trazer um mundo que retornou, depois do desaparecimento
da sociedade como a conhecemos (wreckers, como se diz aqui), a uma forma tribal e menos
tecnológica de vida.
Saba deixa sua casa, isolada de todo o resto do mundo,
para procurar, juntamente com a irmã mais nova, o gêmeo que foi raptado. Na sua
jornada, conhece formas de vida que não sabia existir. Reis, rebeldes e, claro,
Jack aparecem no seu caminho.
Well, you say that, says Lugh, but I heard it from a man, an he heard it from another man who seen it fer hisself an… (p. 41).
A jornada do herói, que sai do seu mundo conhecido e toma
consciência dos perigos da existência ao mesmo tempo em que realiza é ele quem
pode superá-los passa também pela descoberta do amor românticos. Nos quatro
livros deste post é assim, alguns com mais coerência, força e interesse, e
outros com uma infantilidade de irritar.
There are some people, she says, not many, who have within them the power to change things. the courage to act in the service of somethin greater than themselves. (p. 64)
Dust Lands é assim. O primeiro foi passável. Mas, neste segundo, a
história perde totalmente o sentido e os personagens desparecem na situações
bizarras. Se tornou quase uma palhaçada, na verdade. Eu o li em fastfoward, é realmente insuportável. Mas a
curiosidade sempre ganha comigo, e não saber o que acontece acaba por não ser
uma opção.
Um destaque, e uma agonia nessa série é a mudança na
linguagem – um inglês alterado sai da boca e do pensamento dos personagens. E,
apesar de interessante e lógico, além de ajudar a visualizar esse novo mundo, é
angustiante mais do que outra coisa.
Prodigy, de Marie Lu, é
a sequência de Legend, que dá nome à
série. Aqui, destaca-se o desenvolvimento tecnológico e as diferenças sociais,
representadas pelos dois protagonistas, June e Day, star crossed lovers num
mundo de injustiças e enganos.
Aqui as coisas começam a melhorar no fim do mundo. Os dois
livros são muito bons e inlargáveis antes do fim. Não trazem nada de muito
novo, mas uma história bem contada não depende do ineditismo – um objetivo
ingrato no mundo das histórias.
Chinas enormous, floating metropolises are built entirely over the water and have permanently black skies. (p. 100).
Referências a outras imagens e narrativas que nos acompanham são frequentes
também e, para mim, muito bem-vindas, como esta acima, em que me vem à mente o
mundo de Blade Runner, com as telas
gigantes, o escuro permanente e a chuva constante.
Em Legend, duas
pessoas de mundos diferentes e até antagônicos se encontram, há o embate e,
claro, se apaixonam. Assim, juntos, descobrem aos poucos que as certezas que tinham
sobre suas vidas não são tão certas assim e, também juntos, tentam fazer o que
é certo para salvar a tudo e a todos.
Quem disse que A Jornada seria fácil?
Também como de costume, o livro do meio numa trilogia traz
a separação do casal, suas dúvidas e dificuldades até que possam ficar juntos
definitivamente no terceiro livro (está me ouvindo, Cassandra Clare? TERCEIRO!
Sem trotes da próxima vez, se for possível. Argh).
Então, como se vê, não é o que se conta, mas como. E ao
ler os quatro livros assim, juntos, isso se tornou mais claro.
E assim chegamos ao quarto fim do mundo as we know it de
março, Insurgent, de Veronica Roth (Divergent 2 – se percebe que o ineditismo está difícil no nome das
autoras também...).
Esta é a séria mais famosa das quatro aqui, com o lançamento do primeiro filme previsto para em 2014 (sempre um medo, embora o elenco, divulgado esta semana, prometa). Insurgent acompanha Legend ao apresentar um mundo mais
avançado tecnologicamente em certos aspectos, e bastante retrógrado em outros,
como é de se esperar.
I read somewhere, once, that crying defies scientific explanation. Tears are only meant to lubricate the eyes. There is no real reason for tear glands to overproduce tears at the behest of emotion. (p. 341).
Numa Chicago em destroços, a sociedade se estrutura por 5
facções, cada uma com uma qualidade demarcada claramente – Amity, (paz)); Erudite (inteligência); Abnegation (caridade); Candor (honestidade) e Dantless (coragem). Aos 16 anos, todos
passam por um teste que define se continuam onde foram criados ou se mudarão de
facção, o que sempre é uma desonra para a família. Todas as facções têm
costumes, sentimentos, rituais, cores de roupa e habilidades muito definidas e nada
flexíveis.
Nesse mundo tão estático, o outro é sempre um
desconhecido, um estrangeiro que vive de forma que não compreendemos.
May the peace of God be with you,” she says, her voice low, “even in the mist of trouble.”“Why would it?” I say softly, so no one else can hear. “After all I’ve done…”“It isn’t about you,” she says. “It is a gift. You cannot earn it, or it ceases to be a gift.” (p. 440).
A confusão acontece quando a protagonista da história,
Beatrice, descobre que possui afinidade com três facções. A flexibilidade tem
um nome – Divergent – e é um perigo para a manutenção da comunidade como ela se encontra. Mas isso ela vai descobrindo ao longo da
história, ao mesmo tempo em que encontra o bonito da história, Four, que a vai acompanhar na desestruturação do
mundo que conhece.
People, I have discovered, are layers and layers of secrets. You believe you know them, but their motives are always hidden from, buried in their own hearts. You will never know them, but sometimes you decide to trust them. (p. 510).
Insurgent traz, em seu final, uma surpresa bombástica,
que eu, imersa no mundo das constantes narrativas, não esperava. E desculpe por
estragar a surpresa da surpresa (...), mas como foi uma das coisas mais
marcantes da história, não dá para ignorá-la.
E, agora sim, estou bastante ansiosa pela continuação,
deste que, dos quatro, traz o melhor fim do mundo (como assim???) – e o que fez mais sentido.
PS: Este mês, foi
lançado Clockwork Princess, o último livro da série Infernal Devices, spin-off de Imortal
Instruments, de Cassandra Clare. Esta última foi escrita inicialmente como uma
trilogia. Depois do seu sucesso e do lançamento de ID, que se situa no mesmo
mundo dos shadowhunters, mas 150 anos antes, Mortal Instruments foi estendida
para seis capítulos. Uma decisão não muito feliz, mas que promete melhorar no
último livro da série, que será lançado ano que vem. Enquanto isso, Infernal
Devices tem se mostrado melhor (mas muito melhor) do que a série de que se
originou (e de que eu gosto bastante), e estou realmente ansiosa para ler o seu final – acho que uma
revelação bombástica está para acontecer...spooky. E como se vê pelo trailer acima, o primeiro
livro de MI, City of Bones, está em
faze de produção no cinema, com lançamento previsto para este ano.
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