...As infelizes o são cada uma à sua maneira.
Este mês, no cinema, a vida foi bastante diversificada. Um pouco lenta, depois da correria de ver todos os filmes do Oscar, mas com produções muito diferentes.
O destaque foi para Oz: Mágico e Poderoso (Oz The Great and Powerful. Sam Raimi, EUS, 2013). Na sala xD do Cinemark a viagem é bela. A estrutura a história seguem de acordo com outro embarque no furacão, O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939).
E isto foi o que achei o mais incrível, a preocupação com essa continuidade na narrativa, apesar dos tempos diferentes da história e da sua produção. Oz nos coloca na viagem feita pelo mágico de descoberta do seu "reino", muito antes da chegada de Doroty. Conta também de como surgiu a bruxa má do Oeste. Essa quase brincadeira que se faz com as origens de uma história já querida é uma delícia, quando bem feita como Oz. Eu senti alguns incômodos - James Franco é um deles -, coisas que não se encaixaram bem... mas, no todo, o filme me deixou feliz com a história e encantada com as imagens. A chegada a Oz é uma das cenas mais incríveis que já vi, de tirar o fôlego e entusiasmar. A tela que se colore e estende à nossa frente, como a visão num mundo mágico, ainda consegue surpreender numa época em que já se fez e criou muito esteticamente. Mas o filme não é só isso, a história nos coloca em Oz novamente, depois da viagem com Doroty, de uma forma muito coerente.
E por falar nela, quero chegar a O Mágico de Oz novamente, para completar essa viagem mais recente. Essa vontade em si já conta como Oz consegue nos conquistar.
A adaptação dos livros de Kami Garcia e Margareth Stohl, 16 Luas (Beautiful Creatures. Richard LaGravenese, US, 2013), não foi muito diferente das adaptações dos livros para Jovens Adultos que tenho visto e que envolvem romance e uma trama sobrenatual: ugh é uma reação usual para eles, infelizmente. O trailer prometia uma produção mais cuidada e, em certos sentidos, ela é mesmo. Mas no que considero uma ânsia de adaptar esses livros com a maior economia de esforço no cinema, a história se perde. Não amo os livros. Estou parada no segundo, que comecei a ler para ver se o final do filme fazia mais sentido (ele junta os dois primeiros livros, foi a impressão que tive). O primeiro não é maravilhoso, mas não é horrendo... no entanto, perdeu totalmente seu sentido na adaptação, como tenho visto acontecer.
Jeremy Irons, Emma Thompson e Viola Davis estão fazendo não sei o que ali. Os dois protagonistas, excelentes, não conseguem segurar uma história mal contada. Uma pena.
De Coração Aberto (À Coeur Ouvert. Marion Laine, França/Argentina, 2012) foi outro desperdício, dessa vez acompanhado de uma grande decepção. A história de um casal que se vê numa situação extrema após um relacionamento de concessões traz um aspecto de saúde pública até. Como podemos nos relacionar anos abrindo mão de recusar o que nos agride é sempre um mistério, mas uma constante. Mila, personagem de Juliette Binoche, convive com a infantilidade, irresponsabilidade e alcoolismo de seu marido cirurgião cardíaco em casa e no trabalho - no casamento e no hospital. Em situações banais e de vida e morte, até que todas sejam assim.. até que não haja mais espaço para o banal e ela tenha de enfrentar suas escolhas.
Apesar de angustiante, o filme estava num caminho que considero essencial quando o roteirista morreu e outro assumiu o final. É a única explicação para a conclusão mexicana, que consegue, como todos os finais ruins, invalidar o que aconteceu anteriormente. O que foi dito se perde e o que fica é a incompetência de dar seguimento a uma boa história.
Amor é tudo o que você precisa (Den SkaldedeFrisor, Dinamarca /Suécia/ França/ Itália/Alemanha, 2010), da minha amada Susanne Bier (Dos maravilhosos Depois do Casamento e Em um Mundo Melhor) também morreu na praia. Escrevendo este post vejo que não houve tanta diferença assim... Boas histórias que tinham tudo para serem incríveis não conseguiram um rumo, perdendo-se no meio da sua narrativa. Não sei se é pressa, ou se a tentativa de afirmar algo muito categoricamente que impede que a narrativa tenha vida e chegue ao espectador.
Os personagens são queridos, a onipresente atriz dinamarquesa Trine Dyrholm é uma querida, Pierce Grosnan está um pouco fora de foco, mas não compromete. O filme fica fraco, no entanto, não tem força. Algo surpreendente e decepcionante em se tratando de Susanne Bier, uma diretora que consegue trazer a vida com intensidade e delicadeza às telas.
Por falar em onipresença e em Trine Dyrholm, ela está, mesmo que secundariamente, em O Amante da Rainha (En Kongelig affaere. Nikolaj Arcel, Dinamarca/Suécia/República Tcheca, 2012), produção dinamarquesa que concoreru ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano. Ele traz uma parte da história que não conhecia, a transformação da Dinamarca na época da revolução francesa, com maquinações e lutas pelo poder e pela mudança inspiradas pela ascensão dos governos burgueses, sustentada pelas ideias iluministas.
Já vimos essa história antes... mas aqui ela é contada belamente.E de forma humana, porque dói no coração ver tanta vida desperdiçada. Madds Mikelsen é outra presença constante no cinema dinamarquês, em que, diferente dos seus personagens em Hollywood, faz papéis bastante fortes e longe dos clichês que o seu rosto marcante propicia.
Anna Karenina (Joe Wright, Inglaterra, 2013), o filme que encerra este post, é uma produção de outro dos meus diretores preferidos atualmente. Joe Wright é a meu ver um leitor excelente, tanto que suas adaptações são geniais e honestas, longe da fidelidade factual que se associa à tradução de um livro no cinema. Orgulho e Preconceito é uma adaptação honesta e encantada, e me fez prestar atenção a todos os filmes posteriores do diretor. Assim, aguardava mais este com muita ansiedade.
O curioso é que Wright foi tão, mas tão fiel ao que o livro de Leo Tolstoy representa na história da literatura que acabou por trazer um testemunho contrário à obra.
Walter Benjamin, em seu ensaio O Narrador, referindo-se à popularização do romance no século XIX, diz que a arte de narrar morreu. Informa-se, mas não se conta uma história, com o que ela traz de experiência humana.
Anna Karenina de Joe Wright me trouxe todo o tempo que disse Benjamin. A direção de arte á algo fenomenal. O figurino? Wow. As cenas? Orquestradas à perfeição. A história, no entanto? Ausente. E não acho que seja somente pela forma como Wright a resolveu contar, mas sim pelo que se inspirou. Muitos que leem Anna Karenina hoje reclamam do seu dramalhão, de como a história é cansativa... Creio que o que ela contou um dia não tenha a mesma ressonância hoje. Perdeu a importância? Não digo isso. Mas mudou. E Joe Wright enfatiza essa diferença quando faz uma transcrição tão fiel ao espírito da obra em que se baseou.
Cena bela após cena bela, eu ainda procurava pelas pessoas que transitavam pelos cenários teatrais (incríveis) projetados na tela diante dos nossos olhos.
Genial e vazio ao mesmo tempo,se é que dá para esses dois conviverem no mesmo espaço.
PS: No fim de semana, assisti a Anna Karenina e a O Amante da Rainha com a minha mãe, uma pessoa difícil de convencer de ir ao cinema. Não que ela não goste, adora, mas não tem mais paciência. Milagrosamente, concordou em ir aos dois filmes comigo - um deles é um romance histórico,que ela adora e aos quais não resiste. Deste ela gostou muito. De Karenina, ao final, não soube muito o que dizer. A primeira pergunta dela, no entanto, foi: já são seis horas? O detalhe é que nossa sessão começou à uma e meia da tarde. Histórias vazias são longas, muito longas.
PPS: O filme de Joe Wright não trouxe consigo um dos inícios mais famosos da literatura e que deu título a este post - depois do nome provisório que proclamava, Fuck this, I'm going to Howarts, se o cinema continuar do jeito que anda... Bom, tão emblemática é essa frase que Muriel Barbery, em seu genial e belo A Elegância do Ouriço, a traz como um instrumento de reconhecimento entre duas pessoas socialmente distantes, mas com almas semelhantes:
PPPS: Depois de vermos Oz, Marcelita e uma amiga resolveram contar a história do mágico com um rap. Indescritível como eu adorei a iniciativa e ri com as duas... deixo aqui a primeira estrofe, impagável:
De Coração Aberto (À Coeur Ouvert. Marion Laine, França/Argentina, 2012) foi outro desperdício, dessa vez acompanhado de uma grande decepção. A história de um casal que se vê numa situação extrema após um relacionamento de concessões traz um aspecto de saúde pública até. Como podemos nos relacionar anos abrindo mão de recusar o que nos agride é sempre um mistério, mas uma constante. Mila, personagem de Juliette Binoche, convive com a infantilidade, irresponsabilidade e alcoolismo de seu marido cirurgião cardíaco em casa e no trabalho - no casamento e no hospital. Em situações banais e de vida e morte, até que todas sejam assim.. até que não haja mais espaço para o banal e ela tenha de enfrentar suas escolhas.
Apesar de angustiante, o filme estava num caminho que considero essencial quando o roteirista morreu e outro assumiu o final. É a única explicação para a conclusão mexicana, que consegue, como todos os finais ruins, invalidar o que aconteceu anteriormente. O que foi dito se perde e o que fica é a incompetência de dar seguimento a uma boa história.
Amor é tudo o que você precisa (Den SkaldedeFrisor, Dinamarca /Suécia/ França/ Itália/Alemanha, 2010), da minha amada Susanne Bier (Dos maravilhosos Depois do Casamento e Em um Mundo Melhor) também morreu na praia. Escrevendo este post vejo que não houve tanta diferença assim... Boas histórias que tinham tudo para serem incríveis não conseguiram um rumo, perdendo-se no meio da sua narrativa. Não sei se é pressa, ou se a tentativa de afirmar algo muito categoricamente que impede que a narrativa tenha vida e chegue ao espectador.
Os personagens são queridos, a onipresente atriz dinamarquesa Trine Dyrholm é uma querida, Pierce Grosnan está um pouco fora de foco, mas não compromete. O filme fica fraco, no entanto, não tem força. Algo surpreendente e decepcionante em se tratando de Susanne Bier, uma diretora que consegue trazer a vida com intensidade e delicadeza às telas.
Por falar em onipresença e em Trine Dyrholm, ela está, mesmo que secundariamente, em O Amante da Rainha (En Kongelig affaere. Nikolaj Arcel, Dinamarca/Suécia/República Tcheca, 2012), produção dinamarquesa que concoreru ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano. Ele traz uma parte da história que não conhecia, a transformação da Dinamarca na época da revolução francesa, com maquinações e lutas pelo poder e pela mudança inspiradas pela ascensão dos governos burgueses, sustentada pelas ideias iluministas.
Já vimos essa história antes... mas aqui ela é contada belamente.E de forma humana, porque dói no coração ver tanta vida desperdiçada. Madds Mikelsen é outra presença constante no cinema dinamarquês, em que, diferente dos seus personagens em Hollywood, faz papéis bastante fortes e longe dos clichês que o seu rosto marcante propicia.
Anna Karenina (Joe Wright, Inglaterra, 2013), o filme que encerra este post, é uma produção de outro dos meus diretores preferidos atualmente. Joe Wright é a meu ver um leitor excelente, tanto que suas adaptações são geniais e honestas, longe da fidelidade factual que se associa à tradução de um livro no cinema. Orgulho e Preconceito é uma adaptação honesta e encantada, e me fez prestar atenção a todos os filmes posteriores do diretor. Assim, aguardava mais este com muita ansiedade.
O curioso é que Wright foi tão, mas tão fiel ao que o livro de Leo Tolstoy representa na história da literatura que acabou por trazer um testemunho contrário à obra.
Walter Benjamin, em seu ensaio O Narrador, referindo-se à popularização do romance no século XIX, diz que a arte de narrar morreu. Informa-se, mas não se conta uma história, com o que ela traz de experiência humana.
Anna Karenina de Joe Wright me trouxe todo o tempo que disse Benjamin. A direção de arte á algo fenomenal. O figurino? Wow. As cenas? Orquestradas à perfeição. A história, no entanto? Ausente. E não acho que seja somente pela forma como Wright a resolveu contar, mas sim pelo que se inspirou. Muitos que leem Anna Karenina hoje reclamam do seu dramalhão, de como a história é cansativa... Creio que o que ela contou um dia não tenha a mesma ressonância hoje. Perdeu a importância? Não digo isso. Mas mudou. E Joe Wright enfatiza essa diferença quando faz uma transcrição tão fiel ao espírito da obra em que se baseou.
Genial e vazio ao mesmo tempo,se é que dá para esses dois conviverem no mesmo espaço.
Em Um Mundo Melhor
PS: No fim de semana, assisti a Anna Karenina e a O Amante da Rainha com a minha mãe, uma pessoa difícil de convencer de ir ao cinema. Não que ela não goste, adora, mas não tem mais paciência. Milagrosamente, concordou em ir aos dois filmes comigo - um deles é um romance histórico,que ela adora e aos quais não resiste. Deste ela gostou muito. De Karenina, ao final, não soube muito o que dizer. A primeira pergunta dela, no entanto, foi: já são seis horas? O detalhe é que nossa sessão começou à uma e meia da tarde. Histórias vazias são longas, muito longas.
PPS: O filme de Joe Wright não trouxe consigo um dos inícios mais famosos da literatura e que deu título a este post - depois do nome provisório que proclamava, Fuck this, I'm going to Howarts, se o cinema continuar do jeito que anda... Bom, tão emblemática é essa frase que Muriel Barbery, em seu genial e belo A Elegância do Ouriço, a traz como um instrumento de reconhecimento entre duas pessoas socialmente distantes, mas com almas semelhantes:
"Conhecia os Arthens? Disseram-me que era uma família extraordinária", ele diz."Não", respondo, de pé atrás, "não os conhecia particularmente, era uma família como as outras daqui.""E, uma família feliz", diz a sra. Rosen, que visivelmente se impacienta."Sabe, todas as famílias felizes se parecem", resmungo para me ver livre da conversa, "não há o que dizer a respeito delas.""Mas as famílias infelizes o são cada uma a seu jeito", ele diz me olhando de um modo estranho, e, de repente, embora pela segunda vez, eu estremeço. Sim, isso mesmo, juro. Estremeço - mas como que sem querer. Algo que me escapa, que foi mais forte que eu, que me ultrapassou.” (p. 143).
PPPS: Depois de vermos Oz, Marcelita e uma amiga resolveram contar a história do mágico com um rap. Indescritível como eu adorei a iniciativa e ri com as duas... deixo aqui a primeira estrofe, impagável:
Eu sou Oz e não vou arrasar.
Minha namorada virou um bruxa má.
:)
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