terça-feira, 11 de setembro de 2012

Prejudices Shmices... uma história longa.



Algumas histórias na nossa vida são longas e nos acompanham sempre. Não têm fim... novos e emocionantes capítulos aparecem continuamente. 

O meu relacionamento com os livros e suas histórias é uma narrativa constante em mim.

O seu início não é tão preciso quanto a primeira página de um livro. São vários inícios, talvez. Um deles foi A Anjinha Terezinha (1974), que li na escola aos dez anos. O Caso da Borboleta Atíria (1951) foi outro começo... assim como os livros da Coleção Vaga-Lume. A Bolsa Amarela (1976). foi uma revolução, que começou com um treco no livro didático e se estendeu para todos os livros de Lygia Bojunga. Fora da escola, havia os livros perdidos pela casa. Assim, cheguei a Eu, Cristiane F... (1978) aos 12 anos e o li em menos de dois dias. E assim vieram muitos e diferentes livros, autores, mundos e histórias.

Minha mãe sempre leu muito e em algumas viagens suas eu mergulhei também. Uma delas foi Rosamunde Pilcher, de quem li e reli todos os livros - à Cornualha eu cheguei com Kal, que compartilha a afeição pelas histórias de Rosinha (rsrsrs) comigo. Uma viagem de alma que levou o corpo junto...

Mas um capítulo dessa história é mais longo que todos os outros e, apesar de não ser aquele mais divulgado ou reconhecido, é o mais constante também. Aqui eu me refiro a Nora Roberts, autora de mais de duzentos livros - dos quais eu li quase, mas quase mesmo, todos. Alguns amigos sorriem como a Monalisa quando se referem a essa companhia de longa data... mas já se acostumaram com essa amiga que lê de tudo e em tudo encontra um pouco de si. 

Um dia desses, ao ler um comentário no amazon.com sobre um dos livros de NR, uma leitora comentou que, quando sai uma nova história da autora, ela separa um dia para lê-la. É um dia de descanso, em que ela deita no sofá, abre um vinho, desliga o telefone e mergulha em um mundo bem vindo.

Antes de escrever o post eu abri o vinho... mas, como escrevia ao mesmo tempo em que via a final do USOpen, quebrei a taça e derramei o último pouco de Chianti que restava...

Bom, Nora Roberts eu acompanho desde a época em que meus livros eu comprava na banca de revista - a partir dos 11 anos, fui leitora constante e devoradora não só do que encontrava pela casa, mas também e sobretudo dos romances da Halerquim e Sillouete. 

Então.

Gosto muito dessa capa.
Algumas autoras permaneceram comigo dessa época, como Barbara Delinsky, que, em seus livros de capa dura (hardcover), como são chamados, seguiu por histórias que focavam de forma mais psicológica o relacionamento humano - familiar, principalmente, mais que o romântico. Mas Nora Roberts é presença forte, e dela quero falar aqui hoje.

Este post se originou de uma maluquice que aconteceu comigo numa semana em julho em que, bastante aborrecida com a vida, peguei os livros de Roberts que havia deixado escapar - alguns lançamentos, inclusive - e li 10 de seus romances em sete dias. Foi assim  mesmo. Ao final, além de escrever para a própria autora contando um  pouco do nosso relacionamento de anos (rsrsrs), achei que nada mais justo que uma viagem tão longa aparecesse aqui. 

A semana insana começou quando vi que já havia sido lançado o segundo livro da saga Inn BoonsBoro, The Last Boyfriend. Aqui, antes de continuar, vale uma explicação: o ano editorial de Roberts é dividido entre os livros que fazem parte de suas sagas ou trilogias (os meus preferidos, by the way) e uma novel, romances com suspense - ela lança um desses por ano. Sério. Assim, a média é de três histórias inéditas por ano.

 As sagas e trilogias eu li todas e são, para mim, as mais interessantes, apesar de seguirem um roteiro fixo: cada livro do trio debruça-se sobre a história específica de um dos personagens de um círculo próximo - três amigas, irmãos, irmãs... enfim, pessoas próximas que, um dia, resolvem se apaixonar em sequência, como os livros da trilogia. Muda o parentesco entre os personagens, suas profissões, o lugar onde vivem, a cor do cabelo, dos olhos (embora algumas combinações sejam constantes, como cabelos pretos e olhos cinza, cabelos castanhos e olhos azuis... enfim), os perigos que os envolvem... mas toda  a dinâmica é muito parecida. Dentre o trio masculino, sempre há aquele mais lesado e raivoso - geralmente ele é o destaque do último livro da trilogia e briga terrivelmente com sua cara metade... O que, aliás, não prejudica em nada a história - pelo menos eu acho, porque, como disse, li todos. Além do mais, essa, digamos assim, permanência de estilo ajudou bastante quando comecei a ler os livros de Nora Roberts em inglês, com a chegada da Livraria Cultura e seus pockets inéditos no Brasil a preços maravilhosos: como tudo era muito igual, aos poucos consegui melhorar a minha leitura até o ponto em que, hoje, leio quase que exclusivamente em inglês.

Mas o que Inn BoonsBoro me trouxe, na verdade, foi  uma curiosidade que nunca havia tido, em todos esses anos, e que desencadeou a Imersão Roberts Insana, como essa semana em julho passou a se chamar, rs. 

Por algum motivo, procurei por Norinha (para fazer par com Rosinha...) no Google e cheguei à sua página na wiki. Ali começou a maluquice: depois de saber um pouco da sua história, que se encontra com a de suas personagens, descobri que a história de sua última trilogia se mistura bastante com a sua vida atual. Roberts, em 2009, foi responsável, junto com seu segundo marido - que conheceu quando ele, carpinteiro, construiu algumas prateleiras para seus livros (eu já vi essa trama antes...) - pela reforma de um hotel histórico, da família dele, destruída pelo fogo. Tudo isso na cidade de Boonsboro, Maryland. Por esse link descobri que sua última trilogia conta a história dessa reforma gigantesca, de mais de 3 milhões de dólares. Os personagens são fictícios, mas os ambientes que habitam são os de Roberts. A livraria da protagonista do primeiro livro. Turn the Page, pertence a seu marido. A pousada tem site próprio, e vale a pena dar uma olhada nos quartos com nomes de casais famosos da literatura - quartos que, by the way, são personagens da trilogia também. 

Uma delícia descobrir tudo isso e um pouco mais da vida de Eleanor Marie Robertson, que, com suas histórias todas parecidas, mas que sempre trouxeram algo a mais para mim, esteve sempre muito presente nas minhas preferências e interesses. Irlanda, gastronomia, literatura, viagens... as relações complicadas com o passado, a superação de histórias difíceis, a adequação pelo amor... As bruxas, os vampiros (sim, NR tem um livro com vamps), as fadas, os fantasmas... as fazendas de cavalos, as profissões arriscadas, os escritores fofos, as livrarias incríveis em cidades minúsculas, as cidades... Assim vamos viajando pelos improváveis e ao mesmo tempo tão palpáveis castelos criados por Roberts.

Todo esse tempo com ela e bastou uma página na wikipédia para me fazer reconhecer quanto dela trago no meu dia a dia. Bom, já havia admitido uma parte dessa importância ao me identificar tão incrivelmente com um de seus livros - o quarto de uma saga, que comprei num aeroporto sem ter lido os anteriores e do qual não soltei até a última página, numa história que conseguiu ser bem parecida com a minha. Não é incrível? É. E mostra como encontramos identificações de alma onde muitos vêem apenas uma escritora prolífica e medíocre. 

Prejudices schmices.

Muitos dos livros mais antigos
de NR são reeditados contanntemente
Então, a minha saga semanal começou com The Last Boyfriend, n. 2 na trilogia InnBoonsboro. De lá, cheguei à wiki, onde vi o título do primeiro livro que Roberts publicou, pela Sillouette, uma concorrente da Harlequim. Assim, encontrei Irish Thoroughbred e suas continuações, Irish Rebel e Irish Rose - histórias bem diferentes das atuais, em que os mocinhos eram quase bandidos e as heroínas não sabiam bem o que fazer com elas mesmas - a diferença começa a ocorrer no terceiro, com figuras um pouco mais dimensionais. Mas, desde o início, estava presente em seus livros a Irlanda, assim como os personagens que continuam - o vínculo emocional com a história continua com as histórias em série, ao mesmo tempo que novas tramas se desenvolvem. O leitor permanece e o autor prospera : ) 

A Will and a Way eu encontrei por acaso, procurando por Time and Again, o primeiro número um de Robert na lista de bestsellers do New York Times - que eu, por acaso, ainda não li. A Will... é uma história mais curta e bastante ruinzinha, mas isso não me impediu de chegar à última página. Nele, o protagonista escritor conta um pouco do que Roberts pensa sobre o herói:

The truth was, Michael liked Logan—the reluctant but steady heroism, the humor and the flaws. He’d made Logan human and fallible and reluctant because Michael had always imagined the best heroes were just that. (p.21).

The Witness é o mais recente, o lançamento do ano de 2012. Eu gostei muito dele. Com o passar dos anos e das histórias, Nora Roberts tem tentado, a meu ver, tornar seus personagens menos unilaterais do que eles eram nos primeiros romances. Tenta não ser tão drástica e dramática. O sexo ela tem tentado relativizar também - o que é uma pena, a meu ver. Mas como eu acho que é difícil se afastar muito do que nos atrai, a protagonista feminina de The Witness tem uma personalidade extrema, de que gostei muito e que tornou o livro mais interessante do que alguns outros anteriores. 

“I believe there are people who think the rules, or the law, shouldn’t apply to their particular situation because they’re poor or they’re rich, they’resad or sick or sorry. Or whatever justification most fits their individual makeup and circumstance.”“I can’t argue with that.”“But the court system often gives credence to that attitude by making deals to those who’ve broken the rules and the law for just those reasons.”“I can’t argue that, either, but the law, and the system, have to breathe some.”“I don’t understand.” (P. 75).
Brooks watched her as she spoke, as she perfected the pattern on the dish. “I bet that’s word for word.”“Paraphrasing can impart a different tenor, even a different meaning.” (P. 99).

Spellbound, mais antigo, é horrível e insuportável de ler, mesmo que se passe na Irlanda e seja sobre magia. Mas foi o que disse acima... quando o exagero é too much, a história se perde. Mas fica aqui registrado que esse foi um dos poucos que não consegui ler de forma contínua - pulei as páginas até o ponto final aliviante.

Carnal Innocence, como muitos dos livros da Roberts, eu já esqueci sobre o que é... Bom, sempre dá para ler novamente, certo? Ah, lembrei. Esqueci porque é ruim demais também. Outra exceção à regra. Os personagens são irritantes, a cidade em que vivem é tosca, além de insuportavelmente pantanosa e quente (um inferno na terra para mim, mesmo que em print). Esquecimento garantido ao fechar o livro.

Chasing Fire, o lançamento de 2011, eu também não havia lido. Ele entra na linha das profissões inusitadas, no caso, os fire jumping, um esquadrão de combate a incêndios nos Estados Unidos. Eu adorei o treinamento, as peculiaridades... o que me desagrada um pouco ainda, no entanto, são as tramas de suspense e assassinato, porque os vilões são muito toscos e isso não mudou ainda... uma sugestão: volta o sexo selvagem, saem os vilões de máfia russa e os assassinos locais toscos : )


Deliberately she turned back to the stove.―I apologize for intruding. He spoke stiffly now, and without the big-toothed smile. ―I‘ll praythe anger leaves your heart.―I like my anger right where it is Marg shot back as Latterly backed out the door. ―Lynn,those vegetables aren‘t going to prep themselves.―No, ma‘am.On a sigh, Marg turned around. ―I‘m sorry, honey. I‘m not mad at you.―I know. I wish I had the courage to talk like that to people—to say exactly what I think and mean.―No, you don‘t. You‘re fine just the way you are. I just didn‘t like the sanctimonious prick. (p. 97).


Sweet Revenge eu achei que não havia lido, mas havia - como Carnal Innocence. Li novamente por ser divertido, embora não um dos meus favoritos.

E por falar neles, agora que os dez da insanidade foram listados, seguem alguns que permaneceram mais tempo comigo e dos quais consigo lembrar... assim é a vida de leitora fiel de uma das autoras mais profícuas da atualidade que, no entanto, não consegue agradar a todos. 

That's ok, though.

Chesapeake Bay Saga

In Shame Trilogy

Gallagers of Ardmore Trilogy



Key Trilogy, divertidíssima

The Circle Trilogy, a dos vampiros :)

A primeira que li, ainda em português
Esta Kal dividiu entre mim, ela e Carla... cada uma era um livro : )

PS: Como não poderia deixar de ser, um post sobre Nora Roberts pede uma continuação... A autora escreveu sobre alguns pseudôminos. O mais permanente e bem sucedido foi J.D. Robb, na série In Death. Eu li alguns, mas, como são muitos, parei pela metade. Penso em retomar pelos dois últimos publicados...afinal, nada de muito novo deve ter acontecido, embora queira muito saber o que tem acontecido com Eve e Roake : )

PS2: O site 4shared apresenta para download todos os livros de Nora Roberts. O link que coloco aqui traz os livros em inglês. Enjoy!

PS3: Ah o que encontro nas pesquisas de imagens para os posts... http://bodicerippers-shauni.blogspot.com.br/





2 comentários:

  1. Dri, adorei a viagem pelas lembranças das histórias e personagens tão queridos criados por Rosamunde Pilcher, Barbara Delinsky e Nora Roberts!
    Cada uma delas, à sua maneira, nos entreteu, divertiu, emocionou e serviu de ponte para tantos insights e elaborações.
    Como somos pessoas alteradas e maluquinhas... o trabalho apenas começou e temos um longo caminho pela frente. Com boa sorte, contaremos sempre com a ajuda delas, hohoho.
    Beijinho!

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    1. São muitas lembranças e vivências com essas autoras e seus livros, né? Kakal, eu escrevi um monte, mas vc disse tudo em poucas linhas : )

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