quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Paris Trance - Amélie em casa.

Love someone, love their possessions.
Paris Trance, p. 57.



Há alguns meses, cheguei a Paris pela segunda vez. Era uma viagem muito esperada, depois de cinco anos de ter estado na cidade para a qual, a meu ver, nenhum clichê é suficiente. Para a atmosfera mais mágica e incrível que já presenciei na minha vida, não poderia levar um livro qualquer.

Aí veio a ideia de chegar a Paris com o livro que li na viagem anterior. Mas a dúvida foi grande, era muita responsabilidade escolher o livro para a volta mais esperada do século, mais esperada ainda que a sequência de Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol (já foi filmada! Sabia????  Antes da Meia Noite... de nove em nove anos, a felicidade :). Será que ia dar certo partir para essa viagem com um livro repetido? Deu. E muito certo.

A história adquiriu uma outra dimensão para mim nesse momento diferente, o que não a tornou uma repetição. Mas, por outro lado, foi bom reencontrar ideias e imagens de que lembrava. Uma delas parece boba, mas é uma das identificações que tenho com o protagonista, Luke:

'You have beautiful posture', said Luke. 'And the ability to sip. I admire that. I gulp.' (p. 47).

Paris Trance foi o segundo livro de Geoff que li. Ele é um dos meus autores favoritos ever depois de o ter conhecido em The Colour of The Memory, um livro que amo com muito carinho. E sobre o que é ele, alguém pode perguntar? Bom, as críticas literárias o descrevem como uma ode à geração jovem dos anos 80. "We're not lost... we're virtually extinct". Mas como eu sou também do contra na identificação com as coisas, para mim ele nos diz como, ao contarmos uma história, fatos e impressões sem misturam na memória de quem vivenciou o que contamos. 

So it's fallen to me to tell his story, or at least the part of it with which I am familiar. Our story, in fact, for by recounting this part of my friend's life I am trying to account for my own, for my need to believe that while something in Luke tugged him away froma llthat he most loved, fromall that made him happiest, it is his life - and not mine - which is exemplary, admirable, even enviable. (p. 01).


Esta foi edição que
viajou comigo há 5 anos
Essa percepção destaca Dyer para mim em seus romances - ele escreveu também livros não ficcionais, dos quais But Beautiful é o que pretendo ler primeiro (tenho todos... não li nenhum). Nas histórias que Geoff Dyer conta, a identidade do narrador nunca é muito clara... e jamais se explicita de início. Em alguns livros podemos identificá-lo, em outros ele permanece incógnito. Em todos, no entanto, ele nos apresenta mais as sensações das vivências que os fatos que dela podem decorrer.

Em Paris Trance o narrador é Alex, como descobrimos no decorrer do livro. E, aqui, novamente, eu peguei uma trilha diferente das críticas, que, novamente.2, o classificam como uma história sobre "the lost generation". Para mim, ele é um olhar honesto e belo sobre como a felicidade pode ser insuportável. E muito, muito mais ameaçadora que aquilo que chamamos de infelicidade.
You cannot store up happiness. The past is useless. You can dwell on it but not in it. What good does it to anyone , kwnowing that they once sat with friends in a car and called out the name ot cinemas and films, that they ate lunch in a town whose name they have forgotten? (p. 173).
Words have nothing to do with happiness, they can only frame it. (p. 205).

o livro diário de viagem
Quando cheguei a Paris anteriormente, já havia terminado o livro. O caminhar de Luke pela cidade já se havia diluído em mim com tantas outras cidades e lugares que conheci numa viagem muito especial. Quando voltei para o meu quadrado, ao folhear o livro, vi o quanto ele trazia de Paris que gostaria de haver feito, junto com o personagem. E por isso a escolha recaiu sobre ele como O livro para essa viagem.

Lavanda do jardim da Shakespeare and Co.
 Logo no (re)inicio, vi que havia acertado. O seu ritmo e humor encontraram os meus próprios e, junto com a atmosfera de Paris, a viagem foi melancólica e doce. Ele acabou por se tornar meu diário de andanças, com as despesas, os pensamentos, os lugares, as comidas... com os recortes de uma caminhada que, se externamente linda, foi incrivelmente intensa no coração. 

There are all sorts os propensities in people; we tend to look only at the positive side - their potential for success, for happiness - but there are other kinds of negativa potential: the potential for wasting the talents we are given, for blighting our prospects of happiness. (p. 243).

A história andava comigo pelas ruas surreais - eu as vivenciei assim - da cidade. Sentou-se comigo no banco na margem esquerda do Sena, observando a Notre Damme e fazendo um pic nic. Dormiu comigo nos parques, na grama perto da Torre Eiffel (que eu amo ao ponto da cafonice). Ficou comigo nos trens de metrô e observou com atenção as pessoas ao redor. Foi à Shakespeare and Co. e admiriou seus companheiros livros, enquanto eu olhava a paisagem pela janela. Encantou-se absurdamente com o Musée D'Orsay.




E, como boa companhia, não esteve somente ao meu lado, mas também me indicou caminhos pelos quais não passaria se não fosse por ele. 

Tulleries já me atraía pelo livro, e o jardim se tornou um dos meus locais favoritos na primeira viagem. Mas, agora, eu o olhei com mais atenção e tempo... principalmente a estátua preferida de Luke. Lá eu estive noite também, do lado de fora (o jardim fecha ao escurecer), quando  ele consegue ficar mais mágico. 

He walked home, stopping, as he often did, in the Tuilleries, which was only a few minutes from his faucet-dripping apartment. (...) It was filled with sculptures from a time when, relatively speaking, it was easy to maufacture statues of exceptional power. (...) Luke's favorite, though, was of a centaur bearing a woman. He did not know which biblical or mythical characters were depicted but the statues' power was scarcely diminished by his ignorance. The theme in these sculptures was always the same: rapture, punishment, suffering. Passion. (p. 05).

Alguns dias depois de passar pelas ruas estreitas do Marrais, eu encontrei, nas palavras de Luke, a loja de roupas sob um letreiro de Boulangerie que havia me chamado atenção, quando vagava pelas ruas. 

They were walking with their arms around each other. Across the river were the broken walls of of old houses that were being torn down. They crossed over into the Marais, passed the corner shop where the old handpainted sign - 'Boulangerie' - had been preserved even though it was now an expensive clothes shop called Le Garage.  Their sholders bumped when they walked, sometimes. (p. 51).

Na falta de imagens do 29 bus...

Completar o percurso da linha de ônibus n. 29 era um desejo também. Mas me decepcionei quando vi que os carros hoje não têm mais a sacada que o tornava tão especial, eu desci do ônibus antes do seu ponto final. Essa mudança + o pior CC com que meu olfato já se deparou + a bolha que estourou no pé foram fatores que contribuíram para que eu não tirasse sequer uma foto da  29 bus. Fica para a próxima (o eterno mantra do turista guloso). 

Crucially, he discovered the 29 bus which ran from the Gare Saint Lazare to Montempoivre. Thoug impressive, the route itself - past the Operá and the Pompidou Centre, through the Marais and round the Bastille - was less important than the design of the bus: a small balcony meant that a handfull of passangers could stand at the back and watch the life of the city unfurl like a film.  (p. 11).


Uma frustração que tinha era não haver passado pela praça da Bastilha - eu desci do 29 antes de ele chegar ali -, um local por que Luke e amigos circulam com frequência e que minha formação em história não se conformava em deixar de lá. No último dia, vagando sem rumo determinado, esbarrei no marco à queda da Bastilha. O sorriso foi grande e eu pulei de alegria com a coincidência, bem ali, na rua.

Desta vez, apesar de planejar muito, ler o Pariscope todos os dias e me deparar por sorte com as salas mais tradicionais do Quartier Latin, não consegui ir ao cinema em Paris. O livro é repleto de referências maravilhosas aos movies e trago aqui duas das mais curtas... A última foi exatamente o que senti. 
When he grew tired of walking he went to the cinema. (Ah, cinema, solace of the lonely young men and women of all great cities.) He saw a film a day, sometimes two. He became a connoisseur of the non- time that preceded the films themselves..." (p. 04).
The most efficient way to have used this money would have been to enrol in one of the many courses in French conversation and grammar but Luke persuaded himself he could absorb the language passively, by osmosis, wothout effort, by reading the French subtitles oa American films. (p. 9). 
'This is the best city in the world for films-''Correct.''-and there are still not enough films on.''Also correct.''In fact it's useless for films.' (p.106).


Na cidade cinematográfica das luzes ofuscantes, na atmosfera mágica que podemos encontrar nos cinemas, Paris se consolidou ainda mais como um personagem de histórias encantadas para mim, na companhia das imagens em palavras de Dyer. 

That's a Bingo!!!

Paris Trance divide com Amélie
sua sobremesa favorita no
Café Deux Moulins






4 comentários:

  1. Querida Dri,
    Que maravilha viajar com você e Luke.
    Estava com você na primeira ída a Paris.
    Não estava com você na segunda.
    E gostaria de estar na terceira. Ok??????
    Beijo
    Bia

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    1. Siiiim!!!! Muitas viagens juntas pela frente! Saudade, Bibia querida : )

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  2. Dri, que delícia de viagem! Eu já percebi que, em algumas cidades, podemos estar desde a primeira vez. Em outras, e preciso voltar. O espírito não cabe na primeira visita e precisamos de algum tempo para elaborar as emoções e realmente "be there" em outra oportunidade.
    Suas fotos e texto fizeram com que me sentisse de novo em alguns momentos em que minha alma conseguiu estar lá.
    Obrigada pela carona!
    Beijinho!

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    1. Sis, vc sabe que esteve muito comigo nesses dias, right? Carona justa, porque eu pego muita nas suas viagens :) Bjin!!!!

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