segunda-feira, 21 de maio de 2012

Howlin' for my darling

É uma felicidade encontrar uma série nova em livros. Apesar de haver milhares e milhares delas, é difícil encontrar uma que chame a atenção de verdade.

Semana passada mergulhei numa trilogia sobre werewolves. Nightshade, Wolfsbane e Bloodrose, os três livros da série escrita por Andrea Cremer. Do primeiro eu gostei de verdade - apesar de, nos comentários que li no amazon.com, ele seja considerado o mais chato.  Os outros dois eu seguir lendo mais para terminar a série, mas sem muita esperança de que eles esperassem.

Uma coisa acontece e é triste, a meu ver: quando a defesa de uma tese pelo autor supera a história e seus personagens. Muita explicação, situações bizarras que não se conectam com os personagens, o cuidado em não ultrapassar certos limites... para contar uma história com vivacidade, penso que um autor tem de tomar bastante cuidado com as concessões que faz. 

Em Calla, a heroína da série Nightshade, há várias personagens com que já encontrei antes: Bella (Twilight); Katniss (The Hunger Games); Rose (Vampire Academy) e, infelizmente, Zoey Redbird (House of Night). Não digo com isso que haja uma cópia, uma questão que gera várias discussões. Acho quase impossível nos desvincularmos do que já lemos e dos personagens que conhecemos. Claro, uma inspiração, vamos dizer assim, mais direta poderia acontecer - e acontece muitas vezes. Mas diversos elementos se encontram e reencontram nas séries que tenho lido, e essa identificação é legal também.


"You know, he wasn't nearly as shocked as I though he would be."
Well, he reads a lot." I pulled the excuse out of thin air. "I think he's more open to the fantastic possibilities of the world than most humans." (Nightshade, pp. 386/387).

O problema, para mim, é quando esses elementos se tornam a base da narrativa. Os personagens somem e toda a potencialidade do que poderiam se tornar desaparece soterrada pelo "deveria ser". André de Comte-Sponville, em Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, ao se referir ao Amor, já diz que a moral é "o que deveria ser", enquanto o amor "é". Penso que aqui está a diferença entre as histórias que nos seguram firmemente e as que se mostram mais frouxas: o que deveria ser e o que é. A honestidade na construção dos personagens e da narrativa em contraposição com uma ideia do que poderia agradar.

Para mim, isso é imensamente triste, porque quando leio o primeiro livro de uma série e ele me chama a atenção, é uma felicidade. Ele não precisa ser considerado um grande livro - e as minhas leituras aqui no Viagens mostram isso. Mas se fazem sentido, se o mundo a que me levam é um lugar onde eu gostaria de estar, se os seus personagens me conquistam a atenção e se com eles eu me importo a ponto de não conseguir largar o livro, eu permaneço com eles. Se não, o primeiro livro será a única parte da série a que eu chegarei.

Uma complicação à parte tem sido a construção do triângulo amoroso central, quase que uma obrigatoriedade nas séries atuais. Um simbolismo das escolhas que somos forçados a fazer na vida, eu os adoro, embora não nas formas em que aparecem atualmente. Em Nightshade, ele é bobo e aparece somente como uma pimenta especial na trama. Mais como uma espinha indesejada, ele não traz a tenção e a dicotomia de sentimentos que um triângulo pode oferecer. Muito diferente, por exemplo, do que ocorre em Clockwork Prince, segundo livro da série Infernal Devices, de Cassandra Clare (The Mortal Instuments). Nele meu coração realmente ficou dividido com a história do triângulo principal, heartbreaking e intenso, com questões que nos levam a nos importarmos com o que acontece e poderá acontecer no futuro da história. 

Importar-se com a história e seus personagens, aliás, é um dos pontos enfatizados como importantes. Se não nos importamos, qual o sentido? Se não sofremos, rimos, emocionamos, odiamos, choramos ou ansiamos, o que nos atrai? Se a história não mexe com a nossa visão de mundo, como continuar nela sinceramente?

Nightshade eu terminei de ler por não ser, a meu ver, totalmente infame, apesar de os dois últimos livros se distanciarem muito do primeiro. Com Calla eu me irritei várias vezes, assim como com Shay, a criatura mais fofa pelo primeiro livro. Mas fui lendo, lendo, até chegar ao final que, ao contrários dos comentários que li, é bastante legal, se comparado com o resto - o fim da série foi crucificado pelos leitores. Fora do primeiro livro, ele foi a única parte que fez sentido, depois de várias páginas sem nada que realmente se aproximasse do que eu havia gostado inicialmente na história.


Por fim, o livro traz algumas referências divertidas: 


Shay lowered his gaze, suddenly quiet. “I can feel it.”
Connor snorted. “Well, at least the Force is with you.” 
“Shut up,” Shay growled. (Bloodrose).

“What?” I said. “So you’re the hero, which automatically means you die in the end?”
“Probably (...)” he said. “Even Harry Potter died. Well, for a few minutes." (Bloodrose).


Agora é buscar outros mundos...

No cinema, cheguei a Piratas Pirados (The Pirates! Band of Misfits. Peter Lord, Jeff Newitt, UK/US, 2012) com os meninos. Uma animação incrivelmente bem executada, o filme me fez rir e me deixou bastante desconfortável ao mesmo tempo.

Infantil ele pode ser, mas o que o roteiro tem de mais interessante em referências e comentários não é reconhecido pelas crianças. Personagens históricos como Charles Darwin, Rainha Victória e Jane Austen passaram despercebidos pelos meus dois pequenos, enquanto eu ria alto. London Calling (The Clash) segue a tradição de trilhas sonoras bacanas nas animações e quase me fez pular da cadeira, enquanto os dois atacavam suas pipocas.

Da mesma forma, quando meu senho se franzia diante de apelos políticos um pouco exagerados, eles também não perceberam. O jantar secreto do G8 somente com espécies animais raras é um tiro certeiro, but... não sei. Too much, eu achei. E a Rainha Victoria como uma vilã sem coração realmente chocou-se com outro filme que amo, A Jovem Rainha Victoria (2009), com Emily Blunt. Um pouco menos e o contexto do filme teria sido muito mais legal.


Atenção para as placas que aparecem nos créditos finais... divertidíssimas : )






PS: O título deste post é uma inversão da letra de uma música da trilha sonora de True Blood (TV, 2008, US), Howlin' for my Baby, com M. Ward. Todos os episódios da série dividem seus títulos com nomes de músicas. Acho muito legal e muito mais interessante que o rumo que a série tomou de duas temporadas para cá. Ontem, ao pular do quarto para o último capítulo da quarta temporada, decidi não assistir mais a True Blood de forma contínua. Eu me diverti demais com os livros de Charlaine Harris (até o 11º, que começou a decepcionar mais fortemente) e a série, longe dos livros, tornou-se mais apelativa do que qualquer outra coisa - ruim quando se estraga uma boa história pelo exagero. Fica aqui a despedida, com a música a que me remeteram os lobos de Nightshade

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