A primeira vez em que li Haruki
Murakami foi em Minha Querida Sputnik. Logo na primeira página, ele arrancou
meus pés do chão:
Na primavera de seu vigésimo
segundo ano, Sumire apaixonou-se pela primeira vez. Um amor intenso, um
verdadeiro tornado que varre planícies - aplanando tudo em seu caminho,
lançando coisas para o ar, deixando-as em frangalhos, triturando-as. A
intensidade do tornado não abranda nem por um segundo, enquanto sua rajada
atravessa o oceano, destruindo Angkor Wat, incinerando a selva indiana, tigres
e tudo, transformando-se em uma tempestade de areia no deserto persa,
sepultando uma exótica cidade-fortaleza sob um mar de areia. Em resumo, um amor
de proporções realmente monumentais. A pessoa por quem Sumire se apaixonou era,
por acaso, dezessete anos mais velha do que ela. E casada. E,
devo acrescemtar, era uma mulher. Foi aí que tud começou, e onde tudo
acabou. Quase.
Tão belo... o amor em poesia. Desde
essa página, eu sigo Murakami. Minha Querida Sputinik foi um amor rápido, lido
quase que de uma sentada. After Dark, foi um encontro divertido e surreal, eu
pulava feliz pelos diálogos entre Mari e Takahashi. Eu trouxe um deles aqui, no começo de As Viagens, mas como eu o conto e reconto
várias vezes, trago-o novamente:
Mari shakes her head. “They had this on TV the other day. It’s pretty
good. (…) after Ryan O’Neal has slaved away to become a lawyer, they never give
the audience any idea of what kind of work he does. All we know is he joins
this top law firm and pulls in a salary that would make anybody envious. He
lives in a fancy Manhattan high-rise with a doorman out front, joins a WASP
sports club, and plays squash with his yuppie friends. That’s all we know.”
Takahashi drinks his water.
“So what happens after that?” Mari asks.
Takahashi looks upwards, recalling the plot. “Happy
ending. The two live happily ever after. Love conquers all. It’s like: we used
to be miserable, but now everything’s great. They drive a shinny new Jaguar, he
plays squash, and sometimes in winter they throw snowballs. Meanwhile, the
father who disowned Ryan O’Neal comes down with diabetes, cirrhosis of the
liver, and Meniere’s disease and dies a lonely, miserable death.”
“ I don’t get it. What’s so good about a story
like that?”
Takahashi cocks his head. “Hmm, what did I like
about it? I can’t remember. I had stuff to do, so I didn’t watch the last
part very closely…” (pp. 101/102).
“In
this world, there are things you can only do alone, and things you can only do
with somebody else. It’s important to combine the two in just the right
amount.” (p. 167).
Não é incrível?
Por The Wind-Up Bird Chronicles, eu
caminhei mais vagarosamente, até chegar à terceira parte do livro, quando
mergulhei nele para valer. Kafka on The Beach está na minha estante, à
espera... enquanto isso, tomou um banho de uma chuva que invadiu o meu quarto,
somente para ser fiel ao nome : )
Mas durante todos eles, eu sabia que
ainda faltava, de verdade, chegar a Norwegian Wood, o romance que faz companhia
a Minha Querida Sputinik como os melhores de Murakami. Muitos amigos me
contavam do livro com um sorriso. Mário, da Livraria Cultura, chegou a
compará-lo com Sputinik: este seria o amor do ponto de vista feminino, mesmo
que o narrador seja um homem; aquele seria o amor dos meninos - disse isso para
explicar porque havia se identificado com Norwegian e gostado tanto dele.
I sat at the kitchen table, drinking my beer and reading Beneath the Wheel. I had first read the novel the year I entered middle school. And now, eight years later, here I was, reading the same book in a girl's kitchen wearing the undersized pijamas of her dead father. Funny. If it hadn't been for these strange circumstances, I would probably never had reread Beneath the Wheel. (Norwegian Wood, p. 307).
No início do ano, abri Norwegian
Wood... e só o fechei no último fim de semana, quase quatro meses após. Alguns
livros furaram a fila, eu o deixei fechado por um bom tempo, até conseguir
finalmente submergir na história contada por Toru, uma das figuras mais
queridas que já encontrei.
Ele narra o seu apaixonar-se, durante
um período da vida, naquela forma extremamente poética e intensa, mas ao mesmo
tempo desapegada que o japonês apresenta. Penso que a intensidade é tanta,
tanta, que uma forma emotiva em excesso tiraria a sua força. E a poesia está no
que não se explica... no que vivemos com Toru, as pessoas e as paisagens que
fazem parte do seu desse período, que ele relembra na narrativa em primeira pessoa.
No entanto, mesmo amando me apaixonar
com Toru e dividir sua incredulidade diante da vida, tenho de dizer que, cria
do amor romântico que sou, realmente acaba com o meu coração quando uma
história termina antes da concretização do amor entre duas pessoas. É possível
lembrar de algumas dessas histórias, no cinema e na literatura. Vince & Joy, de Lisa Jewell, o primeiro livro que comprei pela capa... Assédio, filme
de Bernardo Bertolucci , é de deixar qualquer um doido... tanto que aparece em
história do Degraus, em uma tentativa de pensar um pouco no seu final (se é que
se pode chamá-lo de fim). Essa prática narrativa perversa de colocar um ponto
final justamente quando o casal, que se desencontra durante toda a história,
finalmente abre a porta um para o outro pode ser estilisticamente bacana e
realisticamente honesto, mas acho de uma perversidade indescritível. Certo, eu
estou rindo de mim mesma, mas não pode deixar de ficar feliz quando filmes
como Medianeras colocam nem que seja um
relance no futuro feliz de seus fortunados heróis.
Eu já chego a Murakami sabendo que a
surpresa sempre virá e o indefinido faz parte do seu mundo. Assim, ainda hoje,
após alguns dias após fechar Norwegian Wood, eu ainda tenho uma certa
melancolia ao meu lado, junto com imagens do que teria sido a vida de Toru após
o ponto final. E ela ainda deve permanecer alguns dias comigo... mal posso esperar para chegar à adaptação do livro para o cinema, em produção de 2010, que promete trazer a poesia das palavras de Murakami em imagens...
Nenhum intercâmbio proposital com
o Japão me levou a continuar com os autores japoneses, mas foi isso que
ocorreu. No mês passado, resolvi eliminar mais um buraco negro na minha vida e
pedi a um amigo que me apresentasse aos mangás. A algumas viagens gosto
de chegar sozinha... a outras já prefiro a companhia de quem conhece paisagens
que ainda não percorri. Foi assim com o RPG (Eblaneva, e a nossa mesa de
L5R???) e está sendo com os quadrinhos japoneses. Américo, o rei nerd na minha
universidade (nomeado e consagrado, rs), trouxe três coleções para mim.
Comecei por Death Note (Tsugumi Ohba e Takeshi Obata, 2003), de que já ouvi
falar e que está previsto para estrear no cinema em 2014. Estou amando, um
volume por dia... mas já percebo que, para não ficar too much, preciso alternar
com os outros mangás que me aguardam, serenos, recolhidos dentro do armário
para não sofrerem nenhum acidente.
A narrativa japonesa é intensa, e por
isso gosto tanto dela. Os quadrinhos são fortes. A história é ágil, mas também
traz muitos elementos, que colidem quando lidos com pressa. Ou assim é comigo,
que não consigo deixar as histórias muito na superfície.
Estou amando... e muito feliz por uma
viagem nova. Agora faltam os games. Alguém se habilita? : )
No cinema, algumas, mas não muitas,
novidades no fim de abril.
Na sexta-feira antes do show de Paul
McCartney, saí do aeroporto direto para o cinema, e do calor de Recife para o
frio do Alasca - onde, by the way, ainda quero morar.
A Perseguição (The Grey. Joe Carnahan, US, 2011) foi o filme
escolhido por Kal para finalmente chegarmos ao cinema juntas, depois de tantos
e tantos filmes conversados pelo telefone e facebook. O deserto de gelo do
Alaska é assustador, principalmente nas circunstâncias da história, mas me
atrai muito. É uma imagem constante para mim. Assim, segui nela feliz e
completamente congelada na sala com o ar condicionado explodindo de forte.
Mas fez parte do contexto, rs. Lembrei
de quando vi The Day After Tomorrow (2004), um filme
de fim de mundo de que gosto, outra paisagem gélida num mundo que passa por
outra era glacial. Na sala de cinema também gelada, com uma criança pequena que
gritava durante o filme, o que via na tela adquiriu uma veracidade
impressionante : ) Diversão total.
De Liam Neeson eu gosto muito
também, e ele foi um dos atrativos para chegar a The Grey, sobre o qual não
posso falar muito além de que me diverti muito, adorei a companhia querida da
minha sis de coração e saí, de volta para o calor daquela cidade linda, mais
determinada a chegar ao Alaska um dia. Someday.
Este post acabou por ficar realmente
big... assim, os outros três filmes que vi em abril aparecerão aqui por esses
dias. Eles são importantes e merecem um certo protagonismo.
Por enquanto, um lembrete para mim mesma!
PS: O título deste post veio, novamente, de uma música que tem estado muito comido desde Fifty Shades. Eu a ouvia antes de escrever e ela me levou um pouco para a história de Toru. Lay your head where my heart used to be... do cover de Cibelle para Green Grass, de Tom Waits.
PS2: Durante todo o livro de Murakami, não conseguia trazer Norwegian Wood, dos Beatles, à lembrança. Por isso aqui está ela...
Oooops! Que delícia viajar e atravessar fronteiras! Conhecer novos autores, culturas ou formas de expressão literária amplia muito os horizontes, né?
ResponderExcluirAdorei!