terça-feira, 8 de maio de 2012

Lay your head where my heart used to be...

A primeira vez em que li Haruki Murakami foi em Minha Querida Sputnik. Logo na primeira página, ele arrancou meus pés do chão:

Na primavera de seu vigésimo segundo ano, Sumire apaixonou-se pela primeira vez. Um amor intenso, um verdadeiro tornado que varre planícies - aplanando tudo em seu caminho, lançando coisas para o ar, deixando-as em frangalhos, triturando-as. A intensidade do tornado não abranda nem por um segundo, enquanto sua rajada atravessa o oceano, destruindo Angkor Wat, incinerando a selva indiana, tigres e tudo, transformando-se em uma tempestade de areia no deserto persa, sepultando uma exótica cidade-fortaleza sob um mar de areia. Em resumo, um amor de proporções realmente monumentais. A pessoa por quem Sumire se apaixonou era, por acaso, dezessete anos mais velha do que ela. E casada. E, devo acrescemtar, era uma mulher. Foi aí que tud começou, e onde tudo acabou. Quase.

Tão belo... o amor em poesia. Desde essa página, eu sigo Murakami. Minha Querida Sputinik foi um amor rápido, lido quase que de uma sentada. After Dark, foi um encontro divertido e surreal, eu pulava feliz pelos diálogos entre Mari e Takahashi. Eu trouxe um deles aqui, no começo de As Viagens, mas como eu o conto e reconto várias vezes, trago-o novamente:
Takahashi asks her, “ Have you ever seen Love Story? It’s an old movie.” 

Mari shakes her head. “They had this on TV the other day. It’s pretty good. (…) after Ryan O’Neal has slaved away to become a lawyer, they never give the audience any idea of what kind of work he does. All we know is he joins this top law firm and pulls in a salary that would make anybody envious. He lives in a fancy Manhattan high-rise with a doorman out front, joins a WASP sports club, and plays squash with his yuppie friends. That’s all we know.”
Takahashi drinks his water.
“So what happens after that?” Mari asks.
Takahashi looks upwards, recalling the plot. “Happy ending. The two live happily ever after. Love conquers all. It’s like: we used to be miserable, but now everything’s great. They drive a shinny new Jaguar, he plays squash, and sometimes in winter they throw snowballs. Meanwhile, the father who disowned Ryan O’Neal comes down with diabetes, cirrhosis of the liver, and Meniere’s disease and dies a lonely, miserable death.”
“ I don’t get it. What’s so good about a story like that?”
Takahashi cocks his head. “Hmm, what did I like about it? I can’t remember. I had stuff to do, so I didn’t watch the last part very closely…” (pp. 101/102).
“In this world, there are things you can only do alone, and things you can only do with somebody else. It’s important to combine the two in just the right amount.” (p. 167). 

Não é incrível?

Por The Wind-Up Bird Chronicles, eu caminhei mais vagarosamente, até chegar à terceira parte do livro, quando mergulhei nele para valer. Kafka on The Beach está na minha estante, à espera... enquanto isso, tomou um banho de uma chuva que invadiu o meu quarto, somente para ser fiel ao nome : )

 Mas durante todos eles, eu sabia que ainda faltava, de verdade, chegar a Norwegian Wood, o romance que faz companhia a Minha Querida Sputinik como os melhores de Murakami. Muitos amigos me contavam do livro com um sorriso. Mário, da Livraria Cultura, chegou a compará-lo com Sputinik: este seria o amor do ponto de vista feminino, mesmo que o narrador seja um homem; aquele seria o amor dos meninos - disse isso para explicar porque havia se identificado com Norwegian e gostado tanto dele. 

I sat at the kitchen table, drinking my beer and reading Beneath the Wheel. I had first read the novel the year I entered middle school. And now, eight years later, here I was, reading the same book in a girl's kitchen wearing the undersized pijamas of her dead father. Funny. If it hadn't been for these strange circumstances, I would probably never had reread Beneath the Wheel. (Norwegian Wood, p. 307). 

No início do ano, abri Norwegian Wood... e só o fechei no último fim de semana, quase quatro meses após. Alguns livros furaram a fila, eu o deixei fechado por um bom tempo, até conseguir finalmente submergir na história contada por Toru, uma das figuras mais queridas que já encontrei. 
Ele narra o seu apaixonar-se, durante um período da vida, naquela forma extremamente poética e intensa, mas ao mesmo tempo desapegada que o japonês apresenta. Penso que a intensidade é tanta, tanta, que uma forma emotiva em excesso tiraria a sua força. E a poesia está no que não se explica... no que vivemos com Toru, as pessoas e as paisagens que fazem parte do seu desse período, que ele relembra na narrativa em primeira pessoa.
No entanto, mesmo amando me apaixonar com Toru e dividir sua incredulidade diante da vida, tenho de dizer que, cria do amor romântico que sou, realmente acaba com o meu coração quando uma história termina antes da concretização do amor entre duas pessoas. É possível lembrar de algumas dessas histórias, no cinema e na literatura. Vince & Joy, de Lisa Jewell, o primeiro livro que comprei pela capa... Assédio, filme de Bernardo Bertolucci , é de deixar qualquer um doido... tanto que aparece em história do Degraus, em uma tentativa de pensar um pouco no seu final (se é que se pode chamá-lo de fim). Essa prática narrativa perversa de colocar um ponto final justamente quando o casal, que se desencontra durante toda a história, finalmente abre a porta um para o outro pode ser estilisticamente bacana e realisticamente honesto, mas acho de uma perversidade indescritível. Certo, eu estou rindo de mim mesma, mas não pode deixar de ficar feliz quando filmes como Medianeras colocam nem que seja um relance no futuro feliz de seus fortunados heróis.  
Eu já chego a Murakami sabendo que a surpresa sempre virá e o indefinido faz parte do seu mundo. Assim, ainda hoje, após alguns dias após fechar Norwegian Wood, eu ainda tenho uma certa melancolia ao meu lado, junto com imagens do que teria sido a vida de Toru após o ponto final. E ela ainda deve permanecer alguns dias comigo... mal posso esperar para chegar à adaptação do livro para o cinema, em produção de 2010, que promete trazer a poesia das palavras de Murakami em imagens...
 Nenhum intercâmbio proposital com o Japão me levou a continuar com os autores japoneses, mas foi isso que ocorreu. No mês passado, resolvi eliminar mais um buraco negro na minha vida e pedi a um amigo que me apresentasse aos mangás.  A algumas viagens gosto de chegar sozinha... a outras já prefiro a companhia de quem conhece paisagens que ainda não percorri. Foi assim com o RPG (Eblaneva, e a nossa mesa de L5R???) e está sendo com os quadrinhos japoneses. Américo, o rei nerd na minha universidade (nomeado e consagrado, rs), trouxe três coleções para mim. 
Comecei por Death Note (Tsugumi Ohba e Takeshi Obata, 2003), de que já ouvi falar e que está previsto para estrear no cinema em 2014. Estou amando, um volume por dia... mas já percebo que, para não ficar too much, preciso alternar com os outros mangás que me aguardam, serenos, recolhidos dentro do armário para não sofrerem nenhum acidente. 
A narrativa japonesa é intensa, e por isso gosto tanto dela. Os quadrinhos são fortes. A história é ágil, mas também traz muitos elementos, que colidem quando lidos com pressa. Ou assim é comigo, que não consigo deixar as histórias muito na superfície. 
Estou amando... e muito feliz por uma viagem nova. Agora faltam os games. Alguém se habilita?  : )
No cinema, algumas, mas não muitas, novidades no fim de abril. 
Na sexta-feira antes do show de Paul McCartney, saí do aeroporto direto para o cinema, e do calor de Recife para o frio do Alasca - onde, by the way, ainda quero morar. 

A Perseguição (The Grey. Joe Carnahan, US, 2011) foi o filme escolhido por Kal para finalmente chegarmos ao cinema juntas, depois de tantos e tantos filmes conversados pelo telefone e facebook. O deserto de gelo do Alaska é assustador, principalmente nas circunstâncias da história, mas me atrai muito. É uma imagem constante para mim. Assim, segui nela feliz e completamente congelada na sala com o ar condicionado explodindo de forte.
Mas fez parte do contexto, rs. Lembrei de quando vi The Day After Tomorrow (2004), um filme de fim de mundo de que gosto, outra paisagem gélida num mundo que passa por outra era glacial. Na sala de cinema também gelada, com uma criança pequena que gritava durante o filme, o que via na tela adquiriu uma veracidade impressionante : ) Diversão total.
De Liam Neeson  eu gosto muito também, e ele foi um dos atrativos para chegar a The Grey, sobre o qual não posso falar muito além de que me diverti muito, adorei a companhia querida da minha sis de coração e saí, de volta para o calor daquela cidade linda, mais determinada a chegar ao Alaska um dia. Someday.
Este post acabou por ficar realmente big... assim, os outros três filmes que vi em abril aparecerão aqui por esses dias. Eles são importantes e merecem um certo protagonismo. 


Por enquanto, um lembrete para mim mesma!

PS: O título deste post veio, novamente, de uma música que tem estado muito comido desde Fifty Shades. Eu a ouvia antes de escrever e ela me levou um pouco para a história de Toru. Lay your head where my heart used to be...  do cover de Cibelle para Green Grass, de Tom Waits.
PS2: Durante todo o livro de Murakami, não conseguia trazer Norwegian Wood, dos Beatles, à lembrança. Por isso aqui está ela... 






Um comentário:

  1. Oooops! Que delícia viajar e atravessar fronteiras! Conhecer novos autores, culturas ou formas de expressão literária amplia muito os horizontes, né?
    Adorei!

    ResponderExcluir