Há duas semanas, eu
vivia uma mobilização digna de véspera
de Natal: o último Twilight estava em pré-estreia no cinema e era dia de
festa. Internet pifada e uma certa impaciência com os filmes, além da pancada de alguns livros surpreendentemente assustadores, me fizeram contar essa história aqui um pouco atrasada.
Há quatro anos,
depois de ler os livros de Stephenie Meyer, eu conheci a sessão da meia noite
no Cinemark sozinha. Já havia comprado meu ingresso há uns dias, mas sem muito
estardalhaço - poucos amigos haviam lido a série àquela época. Cheguei ao Shopping um pouco antes da sessão e encontrei, para a
minha surpresa, a sala lotada. Ali, numa cadeira vaga na primeira
fileira entre desconhecidos, presenciei uma das projeções mais divertidas da
minha vida. A cada personagem apresentado, gritos entusiasmados me rodeavam.
Claro, eu gritei um bocado também – ia perder a diversão? E amei, ao contrário de
uma sessão usual, ouvir os comentários, críticas e surpresas ao meu redor. Me
senti em casa, num filme mal produzido e com pessoas que nunca havia visto antes.
Para Lua Nova, no
ano seguinte, já comprei dois ingressos. Convidei a Paty, dessa vez, também em
cima da hora. Chegamos um pouco mais cedo, compramos pipoca e sentamos
novamente na frente. Na sala lotada, os gritos foram mais entusiasmados - principalmente quando Ed tira a camisa ao final, rs -, e a
gente se divertiu muito, enquanto discutia se este novo filme era melhor que o
anterior.
Em Eclipse, já foram
oito ingressos e amigos amados de diferentes tribos num mesmo lugar. Chegamos
cedo, lanchamos antes, entramos na sala já preparados para a quantidade de
pessoas. Separados, vimos aquele que, para mim, foi o pior da saga. No entanto,
na saída, já de madrugada, a discussão a
respeito era grande. A festa dos próximos anos estava instalada.
E em Amanhecer
Parte 1 ela já era oficial e obrigatória, com 9 pessoas dessa vez, cada vez mais ansiosas
para a pré-estreia. Assim que os ingressos eram liberados para pré-venda, eu
mandava um SMS para as partes interessadas. Chegamos mais cedo novamente, mas
sem pressa, porque, dessa vez, o cinema tinha lugares numerados. Eu sentei numa
cadeira à frente, destinada ao acompanhante dos cadeirantes, porque, apesar do
planejamento, faltou um lugar. Gosto de ficar na frente, não me importo de
assistir ao filme sozinha, e, assim, vi esse capítulo da série quase dentro da
tela. Uma belezinha.
Com esse ritual
criado nos últimos anos, a preparação para Amanhecer Parte 2 (Twilight Saga: Breaking Dawn Part 2. Bill Condon, US, 2012), o último filme da
saga, não foi pouca. No Cinemark não havia previsão de sessão à meia-noite.
Comprei ingressos para outro cinema, e os vendi depois, para manter a tradição
da pré-estreia no Cinemark. A sala XD já estava lotada, então sem lugares
marcados dessa vez – como a gente se acostuma com o que é bom rápido... Chegamos bem mais cedo dessa vez e, como a fila estava pequena, resolvemos
lanchar ali mesmo, num pic nic com espectadores bem diferentes, muitos deles se
encontrando apenas uma vez ao ano.
Edward harassing Bella... Pense. |
Lugar legal
garantido, a ordem era aproveitar essa última oportunidade. Eu me diverti
muiiiiiiiiiiito, e acho que não fui a única.
Na sessão mais divertida ever, no entanto, o filme foi o que menos
entusiasmou.
Aos dez minutos de
Breaking Dawn Part 2 veio uma vontade visceral de sair da sala. Uma das partes
mais importantes do livro e esperadas no filme, o despertar de Bella como vampira,
passou num piscar de olhos. Quando eu vi que este, como os anteriores, ia ser
uma vergonha de adaptação para o cinema, meu coração encolheu, minha irritação
foi grande e passei a me conformar mais uma vez, como nos anos anteriores, que
Crepúsculo no cinema simplesmente não era para ser. Desde o primeiro filme.
Não digo que a
gente não se divirta – principalmente na sessão histeria : ) -, mas a história
dos livros não está ali.
São tantas coisas, acho que daria para escrever um livro sobre o que encontro de ruim nos filmes. Mas o principal fator, para mim, é que os responsáveis pela adaptação não embarcaram nos livros.
São tantas coisas, acho que daria para escrever um livro sobre o que encontro de ruim nos filmes. Mas o principal fator, para mim, é que os responsáveis pela adaptação não embarcaram nos livros.
A história de amor
em Crepúsculo envolve muita cafonice. It is cheesy, vamos dizer assim.
Essencialmente. Mas também é intensa, doce, comovente... se não fosse, não
alcançaria tantas pessoas da forma como o fez. As pessoas embarcaram no livros
por diferentes razões.... e, para mim, nenhuma delas se encontram nos filmes.
Os livros de Stephenie Meyer foram bastante criticados e ridicularizados... mas
não poderia ter sido assim com quem se comprometeu a levar ao cinema uma
história cara a muitos. Sem abraçar a cafonice, não é possível contar a história.
E a pretensão dos envolvidos nos filmes foi bastante grande para que isso
acontecesse. Uma exceção são alguns atores envolvidos depois do primeiro
filmes. Michael Sheen, um ator excelente, não teve medo ou vergonha de dar voz
e rosto a Aro, e o fez muito bem. Expandiu o personagem sem receios – como
deve fazer, a meu ver, um ator comprometido. Os vampiros convidados ao final
também se dedicaram de uma forma maior,
como também receberam uma interpretação mais próxima do que são no
livro.
Saudade de Lee Pace em Pushing Daisies :) |
Melissa Rosenberg é
uma roteirista perfeita em Dexter. A ironia, a falta de condescendência com os
personagens, os diálogos afiados... great. O que eu não entendo é como ela
chegou a Crepúsculo e estabeleceu residência numa história que não a alcança, a
meu ver. Desde o início, nas entrevistas, o assunto principal era com havia
sido necessário cortar os diálogos mais cafonas... Ficou evidente, para mim,
que ela não suporta a história e tentou muda-la de acordo com o que acha mais
plausível. E embora toda adaptação
cinematográfica de um livro seja, sim, uma interpretação, o comprometimento com
a história e os personagens principais não pode e não deve estar ausente. Pois
foi justamente isso que Rosenberg primeiro deixou de lado nos seus roteiros. E,
depois de fazê-lo, mudou os personagens sem maiores pudores, colocando-os em
situações que podem parecer interessantes em termos de ação, mas que
contradizem explicitamente a história dos livros.
É assim quando
Edward entra em confronto físico com a família em Denali, por exemplo. Ou
quando, diante de uma Bella angustiada e apavorada com o futuro, propõe um
banho básico e começa tirar a sua roupa - tá de brincadeira. Ou, ainda, quando faz cara de
apavorado ao levar os choques de Kate para ajudar Bella a expandir o seu
escudo. Edward é essencialmente um mártir, ama um sofrimento, e Rosenberg ou Pattinson podem achar
ridículo isso – eu também acho -, mas é quem ele é. Sempre, sem exceção. A cena dele
nervoso com a incapacidade de projeção da Bella pode ser divertida, mas
contradiz muito quem conhecemos nos livros. E essa contradição desnecessária me afasta do que
vejo na tela e me frustra.
Não ajudou em nada
a escalação de um protagonista que não entende o que está interpretando. Veja,
eu gosto de Robert Pattinson e torço por ele, mas tenho vontade de dizer poucas e boas quando
ele esculhamba com a história ou com o seu personagem. Não gosta do que faz? Na
boa, parte para outra e abre espaço para quem consiga se comprometer. Porque, por mais
que pareça bobo, há pessoas out there que gostam da história e querem vê-la bem
produzida na tela.
Outra questão são
os efeitos nada especiais. Eu teria vergonha de ter o meu nome na equipe,
sinceramente. O robozinho Renesmé é um horror. O rosto que é partido ao meio e
mostra a borracha que se parte é digno dos mais amados filmes B, mas não cabe
aqui. Bella correndo com a tela por detrás, em evidente justaposição, ia causar
horror até a Georges Meliès. Hoje se consegue colocar Brad Pitt com 16 anos na
tela de forma convincente, mas não se consegue tirar a sombra de barba de Pattinson e os outros
vampiros? Brincadeira de novo. No primeiro filme, eles tinham a desculpa, esfarrapada aliás, do baixo orçamento. Mas agora? No way.
Assim que, quando
cheguei a casa, às três horas da manhã de quinta-feira, não consegui dormir.
Escrevi as conversas que tivemos ao final do filme no imdb.com, para tentar
elaborar melhor o que havia visto. Sim, eu levo as histórias bastante a sério e
dou, para elas, um lugar de destaque nos meus dias. Por isso é tão difícil ver
algo de que gosto tratado com tanto descaso. Eu sei que há defeitos, eu não os
renego. Assumo o que me incomoda nos livros de Meyer e abraço o que faz sentido
para mim. Porque a ficção precisa fazer sentido... É esse sentido que nos leva
a nos importar com os personagens, a esperar o que acontecerá com eles. E ver
esse sentido ser jogado na lata do lixo por razão nenhuma é triste. Uma
frustração eu estou feliz de haver chegado ao fim, pelo menos por enquanto.
Alguns fatos que,
além do essencial exposto acima, me incomodam bastante nas adaptações da saga
no cinema:
Além das perucas, uma pesquisa básica para os índios brasileiros não aparecerem a la Pocahontas... |
. A maquiagem é
bizarra até o quarto livro. Quando Carlisle aparece a primeira vez, é
inacreditavelmente ridículo. Sério, people? E a peruca de Jasper e Rosalie em
New Moon não existe. Sério? Peruca ruim? Ugh.
. Importante para
entender Bella e como ela não pensa nela é o modo como ela assume os cuidados
com Charlie quando se muda. Que ela assume a casa, cozinha para Charlie, não é
apenas um detalhe. Kristen Stewart disse em uma entrevista como gostaria que
isso tivesse sido colocado no filme. Tá, e por que não foi? Ugh again. Do mesmo
modo, outros personagens ficam totalmente desconfigurados... Edward, para mim,
é o pior deles.
. O brilho suado do
primeiro filme retorna no último. Apesar de eu gostar muito como Bill Condon, que, na direção dos últimos dois capítulos, se preocupou, diferentemente dos outros,
em criar um vínculo com o primeiro filme da série – o uso da trilha sonora é
bonito nesse sentido -, ele não precisava se apegar logo ao que este tem de pior –
sweaty Bella para combinar com sweaty Edward. Fala sério, eu só percebi que ela
brilhava na terceira vez em que vi o filme.
O melhor era ficar escondida. |
. A última trilha
sonora é bastante fraca, principalmente se comparada com as demais. Lua Nova
tem uma das melhores, mesmo que bastante mal utilizada – Anya Marina e Muse
aparecerem em segundos é um desperdício gigante. Mas, como disse antes, há
momentos: Flightless Bird no casamento e A Thousand Years ao final cria um vínculo que se
mostra, no entanto, ausente na maior parte dos filmes.
. Uma das falas mais bizarras é quando Bella refere-se ao seu suposto superpoder de autocontrole num diálogo perdido e sem sentido... uma explicação que, para quem não leu o livro, é importante e toma boa parte do pensamento da personagem. Quando Bella e Edward voltam de sua primeira caçada, essa fala caberia perfeitamente e tiraria a expressão de idiota de Bella aos comentários de Ed sobre como ela consegue se controlar. Um momento estranho que faria sentido com uma frase. Esse foi um exemplo, mas são muitas as situações bizarras que teriam uma solução simples para fazerem sentido.
... e assim vai. E há muito ainda, mas a verdade é que eu cansei de pensar nos filmes da Saga e em como eles são ruins.
Aliviada que eles chegaram ao fim, eu, no entanto, espero que, daqui a uns
anos, eles sejam readaptados de uma forma melhor e mais honesta. Quem sabe? Agora é torcer para The Mortal Instruments, adaptação dos livros de Cassandra Clare, não ir para o ralo cinematográfico também...
. Uma das falas mais bizarras é quando Bella refere-se ao seu suposto superpoder de autocontrole num diálogo perdido e sem sentido... uma explicação que, para quem não leu o livro, é importante e toma boa parte do pensamento da personagem. Quando Bella e Edward voltam de sua primeira caçada, essa fala caberia perfeitamente e tiraria a expressão de idiota de Bella aos comentários de Ed sobre como ela consegue se controlar. Um momento estranho que faria sentido com uma frase. Esse foi um exemplo, mas são muitas as situações bizarras que teriam uma solução simples para fazerem sentido.
A curiosidade pode
até não matar o gato, mas deixa arranhões indesejáveis.
Outra coisa de que
lembrei foi de uma vez em que resolvi experimentar cerveja de gengibre em
Londres. Quando abri o sanduíche que havia comprado, ele vinha com muito, mas
muito gengibre. O resultado foi um efeito dragão. A boca parecia pegar fogo.
Ainda meio atordoada com a overdose, um amigo me disse: Dri, acho legal que
você sempre procure experimentar o que não conhece, mas às vezes você se dá
realmente mal...
Tudo isso para
contar que eu me dei definitivamente mal ao chegar a alguns dos livros que
tentam capitalizar no sucesso de Fifty Shades. Já havia lido a série Crossfire,
de que falei no post anterior, e não estava muito entusiasmada para seguir essa
trilha. Mas curiosidade é meu segundo nome, e assim, cheguei a algumas
indicações da Amazon.
A minha vontade foi
sair correndo, gritando, abando os braços, apavorada.
On Dublin Street, de Samantha Young, não causou maiores danos ou trouxe grande surpresas. É uma história bastante usual, que tem o diferencial de se passar em Edimburgo, Escócia. Nele, gostei das várias referências a YA books, principalmente os distópicos. A série em dois capítulos de Sylvain Reynard, Gabriel’s Inferno e Gabriel’s Rapture, é mais complicada. A autora fez do protagonista uma junção literal de Edward Cullen e Christian Grey, o que, no mínimo, traz uma confusão e confirma para mim como a literalidade é sempre um problema. Com a jornada ficando mais complicada, cheguei a Sadie Mathews e sua série After Dark, da qual só li o primeiro livro, Fire After Dark. Os personagens são tão ruins, as situações a La Fifty tão forçadas e rasas que nem a minha curiosidade insana deve me levar ao segundo capítulo - e a tentativa de ir além na situação do dom se tornando sub é catastrófica de tão ruim. Mas o tiro de misericórdia que me fez duvidar da própria sanidade foram os livros de Vina Jackson (dois autores sob o mesmo pseudônimo), Eight Days Yellow e Eight Days Blue. Apesar das duas estrelas na Amazon dadas ao primeiro livro, eu gostei do início. Os personagens têm seu contexto bem apresentado... eu estava me entusiasmando com a história quando a vaca foi par ao brejo total.
On Dublin Street, de Samantha Young, não causou maiores danos ou trouxe grande surpresas. É uma história bastante usual, que tem o diferencial de se passar em Edimburgo, Escócia. Nele, gostei das várias referências a YA books, principalmente os distópicos. A série em dois capítulos de Sylvain Reynard, Gabriel’s Inferno e Gabriel’s Rapture, é mais complicada. A autora fez do protagonista uma junção literal de Edward Cullen e Christian Grey, o que, no mínimo, traz uma confusão e confirma para mim como a literalidade é sempre um problema. Com a jornada ficando mais complicada, cheguei a Sadie Mathews e sua série After Dark, da qual só li o primeiro livro, Fire After Dark. Os personagens são tão ruins, as situações a La Fifty tão forçadas e rasas que nem a minha curiosidade insana deve me levar ao segundo capítulo - e a tentativa de ir além na situação do dom se tornando sub é catastrófica de tão ruim. Mas o tiro de misericórdia que me fez duvidar da própria sanidade foram os livros de Vina Jackson (dois autores sob o mesmo pseudônimo), Eight Days Yellow e Eight Days Blue. Apesar das duas estrelas na Amazon dadas ao primeiro livro, eu gostei do início. Os personagens têm seu contexto bem apresentado... eu estava me entusiasmando com a história quando a vaca foi par ao brejo total.
Fifty Shades,
apesar do rebuliço que tem causado, é uma história de amor bastante tradicional – e por
isso mesmo o sucesso. Ela, apesar do erotismo explícito, adequa-se aos leitores
de classe média com bastante tranquilidade. Pode causar uma discussão aqui, um
espanto ali, ou trazer aspectos realmente desafiadores, como foi para mim, mas
é uma história adequada, vamos dizer assim. Permite discussões, mas não é
essencialmente transgressora. Ao apresentar situações mais extremas, a série
Eight Days também não transgride, como acho que seria a sua intenção... mas
agride. E muito. Sua perversidade não é
aquela das histórias que nos fazem sair da comodidade, mas sim de uma maldade
sem sentido – e a ficção precisa fazer sentido, principalmente quando pretende
transgredir. Quando fechei o segundo livro, queria apenas tirar aqueles
personagens imbecis e as imagens horrorosas da cabeça. Um horror.
Vou esperar um tempo para ler Sleeping Beauty Trilogy, escrita por Anne Rice sob pseudônimo em 1983 - ela me foi recomendada pela Ritowski, guru de indicação de livros, após conversarmos sobre o terror que foram os livros na semana passada. Com o sucesso de Fifty Shades, a série de Rice retorna ao foco. Mas com as imagens que tenho na cabeça agora, é melhor ler outras coisas. Pollyana, por exemplo.
Vou esperar um tempo para ler Sleeping Beauty Trilogy, escrita por Anne Rice sob pseudônimo em 1983 - ela me foi recomendada pela Ritowski, guru de indicação de livros, após conversarmos sobre o terror que foram os livros na semana passada. Com o sucesso de Fifty Shades, a série de Rice retorna ao foco. Mas com as imagens que tenho na cabeça agora, é melhor ler outras coisas. Pollyana, por exemplo.
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