Sentada no Cacahuá hoje, num tempo chuvoso e mais frio numa época de seca, tentei relacionar o clima de hoje a alguma memória. Mas, fora de época - estou adorando -, acho que o dia de hoje inaugura uma nova lembrança. Chuva em junho... capuccino quentinho, croissant e a memória dos filmes recentes a que assistir, enquanto não chega a hora de outros compromissos.
Vi o filme, gostei da história, me maravilhei com as imagens e com o simbolismo que permeia os chamados contos de fadas. Histórias comumente associadas às crianças, hoje já há estudos suficientes para sabermos que eles não foram sempre assim. Os contos originais possuem uma força e violência que trazem, em si, elementos significativos da nossa vida.
SWATH traz todos esses elementos em uma produção, como disse, muito bem cuidada. O novo que chega para superar o velho... a mulher vingadora, que, ferida, fere numa oitava acima... a ausência do feminino que desequilibra a energia masculina... a natureza desequilibrada e em extinção diante da usurpação... heranças familiares que se perpetuam por gerações e precisam ser honradas.
E tudo isso sem falar na Evil Queen de Charlize Theron...
Desde o ano passado, esbarramos com os contos de fadas na televisão e cinema com maior frequência. Branca de Neve já fez uma aparição este ano com Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012) trouxe a personagem em uma versão que pretendia maior diversão e leveza... e, assim, nós a esquecemos no momento em que as luzes se acendem. A Bela e a Fera se apresentaram em A Fera (Beastly, 2011). Maleficent (2014) trará Angelina Jolie como a bruxa para a Bela Adormecida de Elle Fanning. Grimm, na televisão, traz os descendentes dos Irmãos Grimm como uma linhagem destinada a lutar contra as criaturas mitológicas que habitam nosso mundo.
Angelina Jolie como Maleficent... a foto saiu hoje, 19.07.2012 |
Deles todos, e há muitos que não citei aqui, o que mais me conquistou foi Once Upon a Time (2011). Apesar de todos os contos conviverem na pequena cidade do Maine, Storybrooke, Branca de Neve, Prince Charming e sua luta pelo seu final feliz são bastante centrais. Basta dizer que a protagonista da série é filha do casal encantado... A série terminou sua primeira temporada em maio, num episódio que traz todos os símbolos presentes em SAWTH, mas com muito mais força, mesmo que sem a mesma beleza na produção.
Mas eu gostei do filme, verdade. Não o teria visto tantas vezes seguidas se não fosse por isso. Agora que entendo o que está faltando, então, é provável que o veja novamente.
O terceiro filme foi o primeiro - os últimos realmente serão os primeiros, rs: SWATH na terceira vez que o vi.

Dois casais se reúnem para acertar o depoimento da agressão do filho de um deles contra o filho do outro. Kate Winstlet e Chris Waltz (maravilhoso como sempre) ameaçam a todo momento ir embora, masa civilidade desesperada dos anfitriões, Jodie Foster e Jonh C. Reilly, acaba sempre por prendê-los no que se tornará uma arena de exposição do que se quer ocultar.
O filme é a adaptação da peça para o teatro de Yasmina Reza, também roteirista do filme. A atuação fantástica do quarteto, a proximidade do que eles vivenciam com o que vemos ao nosso redor diariamente, em situações semelhantes ou diferentes, o ritmo cuidadoso, tudo me levou a uma empatia grande com o que se mostrava para mim na tela. Tão próximo e tão angustiante, com uma inspiração forte em Hitchcock.
Mas se você viu o filme, diga o que achou para mim? Quem sabe conversando sobre ele eu o consiga olhar de outra forma e, talvez, até vê-lo novamente?
PS: O site www.cuevana.tv me foi apresentado por um sobrinho como um serviço de utilidade pública no Chile. Raro na América do Sul, comum na sua porção norte, não conheço sites gratuitos de filmes e séries online no Brasil. No Cuevaaaaaaaaaaaaana, filmes recentes e os últimos episódios da TV estão facilmente acessíveis. Nele tenho assistido a novas séries, como Continuum e a alguns filmes que ainda estão em exibição nos cinemas aqui, mas que acabo por ver aqui mesmo.
E essa, eu já sei desde sempre, não é uma boa escolha. O ambiente do cinema para mim é fundamental ao filme. Até este ano, os filmes que vi em casa foram pouquíssimos. Se for para paralisar na frente da TV, eu o faço nos torneios de Tênis ou com as séries de TV. Mas, em dias com muita vontade de ver o filme e uma preguiça monumental de ir ao cinema, acabei por ver dois filmes que me tocaram muito na TV.
Um deles não chegou aos cinemas aqui e, por isso, o jeito era vê-lo na telinha mesmo. Perfect Sense (Sentidos do Amor. David Mckenzie, UK/Suécia/Dinamarca/Irlanda, 2011) me chamou a atenção por se com Ewan McGregor. O poster é lindo... e o filme, inacreditavelmente belo e honesto. Um olhar que engloba como nos situamos no mundo hoje. Uma epidemia atinge o planeta subitamente... a cada emoção forte de uma natureza que acomete as pessoas, um sentido se perde. Com o remorso profundo e a culpa, some o olfato... Com a voracidade por tudo que nos certa, lá se vai o paladar... No meio do furacão, um casal se apaixona. Na perda dos sentidos, o sentido do amor se faz mais intenso. Um eye openner, como o definiu um espectador no imdb, para a vida hoje. Indeed.
Eu amo filmes em que o relacionamento entre duas pessoas se expõe honestamente, e não como uma tese sobre o que é duas pessoas juntas.
Não há nada que nos coloque mais diante da vida, a meu ver, que a arte. Numa época de tanta confusão, de tanto disfarce do turbilhão que se passa dentro de nós - acho que nenhuma época foi tão civilmente hipócrita como a atual, nem os tão criticados anos 50 -, esse turbilhão tem de se fazer visível de alguma forma. Reconhecível de alguma maneira. Mesmo que seja por uma que se considera fictícia e distante da realidade como o cinema. Para mim, poucas coisas têm sido tão reais e palpáveis e próximas quanto alguns filmes que tenho visto. Só neste post estão três deles, que me fizeram olhar minha vida de forma mais honesta.
Aliás, honesto é como eu tenho me referido aos filmes de que tenho mais gostado. Honestidade na exposição do que, diariamente, tentamos esconder. Thanks god for art.
8.
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