Sentada no Cacahuá hoje, num tempo chuvoso e mais frio numa época de seca, tentei relacionar o clima de hoje a alguma memória. Mas, fora de época - estou adorando -, acho que o dia de hoje inaugura uma nova lembrança. Chuva em junho... capuccino quentinho, croissant e a memória dos filmes recentes a que assistir, enquanto não chega a hora de outros compromissos.
Branca de Neve e O Caçador (Snow White and The Huntsman - SWATH. Rupert Sanders, US, 2012) eu assisti três vezes no primeiro fim de semana. Esperava por ele já há algum tempo, já que a publicidade tem sido grande desde o início de sua produção.
Vi o filme, gostei da história, me maravilhei com as imagens e com o simbolismo que permeia os chamados contos de fadas. Histórias comumente associadas às crianças, hoje já há estudos suficientes para sabermos que eles não foram sempre assim. Os contos originais possuem uma força e violência que trazem, em si, elementos significativos da nossa vida.
SWATH traz todos esses elementos em uma produção, como disse, muito bem cuidada. O novo que chega para superar o velho... a mulher vingadora, que, ferida, fere numa oitava acima... a ausência do feminino que desequilibra a energia masculina... a natureza desequilibrada e em extinção diante da usurpação... heranças familiares que se perpetuam por gerações e precisam ser honradas.
E tudo isso sem falar na Evil Queen de Charlize Theron...
Está tudo ali e muito mais. Mas, apesar disso, sempre saía do cinema com a sensação de que algo faltava. Não conseguir alcançar o que era, até que Laura, minha mestra cinéfila, resumiu o incômodo: o filme é superficial. E aí tudo se encaixou. Porque não adianta ter elementos fantásticos, uma estética maravilhosa e não saber contar a história. Não ser verdadeiro com o que traz. Defender a tese antes da narrativa. Para usar uma imagem bastante batida, mas que se adaptação muito bem aqui, é o embrulho perfeito de uma caixa vazia. Quando a gente abre, encantado, não encontra nada.
Desde o ano passado, esbarramos com os contos de fadas na televisão e cinema com maior frequência. Branca de Neve já fez uma aparição este ano com Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012) trouxe a personagem em uma versão que pretendia maior diversão e leveza... e, assim, nós a esquecemos no momento em que as luzes se acendem. A Bela e a Fera se apresentaram em A Fera (Beastly, 2011). Maleficent (2014) trará Angelina Jolie como a bruxa para a Bela Adormecida de Elle Fanning. Grimm, na televisão, traz os descendentes dos Irmãos Grimm como uma linhagem destinada a lutar contra as criaturas mitológicas que habitam nosso mundo.
Angelina Jolie como Maleficent... a foto saiu hoje, 19.07.2012 |
Deles todos, e há muitos que não citei aqui, o que mais me conquistou foi Once Upon a Time (2011). Apesar de todos os contos conviverem na pequena cidade do Maine, Storybrooke, Branca de Neve, Prince Charming e sua luta pelo seu final feliz são bastante centrais. Basta dizer que a protagonista da série é filha do casal encantado... A série terminou sua primeira temporada em maio, num episódio que traz todos os símbolos presentes em SAWTH, mas com muito mais força, mesmo que sem a mesma beleza na produção.
Mas eu gostei do filme, verdade. Não o teria visto tantas vezes seguidas se não fosse por isso. Agora que entendo o que está faltando, então, é provável que o veja novamente.
Numa sessão tripla num domingo bobo, comecei com O Corvo (The Raven. James McTeigue - diretor de V de Vingança. US/Hungria/Espanha, 2012), do qual gostei mais pelos créditos finais do que pelo filme em si, que não é ruim... mas não entusiasma muito também, se pensarmos que se trata de Edgar Allen Poe e a sua história mais conhecida hoje. Mas John Cusack é sempre uma companhia interessante, e assim saí do cinema não muto decepcionada.
A surpresa veio com o filme seguinte, Homens de Preto 3 (MIB 3. Barry Sonenfeld, US, 2012). Além da história ser boa, divertidíssima e o filme ter um ritmo impecável, os atores se superam. Saber mais um pouco de K não é nada mal, principalmente se ele vier na pele de Josh Brolin, um ator que admiro muito - sério, o que ele não consegue fazer? E seu espelho do K de Tommy Lee Jones é genial. Uma surpresa muito legal.
O terceiro filme foi o primeiro - os últimos realmente serão os primeiros, rs: SWATH na terceira vez que o vi.
O gênio do mês - e provavelmente do ano -, no entanto, fica para O Deus da Carnificina (Carnage. França /Alemanha/ Polônia/ Espanha, 2011) mostra mais uma vez como Roman Polanski pode ser brilhante - e ele o foi também em outra produção sua recente, O Escritor Fantasma (The Ghost Writer, 2010). Incômodo, sofrido, honesto e de uma proximidade palpável com o que vemos hoje ao nosso redor o transforma já em um dos meus filmes favoritos for life.
Dois casais se reúnem para acertar o depoimento da agressão do filho de um deles contra o filho do outro. Kate Winstlet e Chris Waltz (maravilhoso como sempre) ameaçam a todo momento ir embora, masa civilidade desesperada dos anfitriões, Jodie Foster e Jonh C. Reilly, acaba sempre por prendê-los no que se tornará uma arena de exposição do que se quer ocultar.
O filme é a adaptação da peça para o teatro de Yasmina Reza, também roteirista do filme. A atuação fantástica do quarteto, a proximidade do que eles vivenciam com o que vemos ao nosso redor diariamente, em situações semelhantes ou diferentes, o ritmo cuidadoso, tudo me levou a uma empatia grande com o que se mostrava para mim na tela. Tão próximo e tão angustiante, com uma inspiração forte em Hitchcock.
Na última sexta-feira, num dia bastante trabalhoso e amarrado, a sessão foi dupla. Para Sempre (The Vow. Michael Sucsy. US / Brasil / França / UK / OZ / Alemanha, 2012) poderia parecer um filme bastante bobinho, e em alguns momento é mesmo. Mas a história é tão heartbreaking e plausível, mais ainda por se basear nos inacreditáveis fatos reais, que me conquistou desde o início. De Channing Tatum eu não gosto muito, apesar da sua onipresença no cinema americano hoje, e Rachel Adams sempre me parece estar traindo Ryan Gosling quando protagoniza um romance com outro ator, rs, mas a história realmente superou tudo isso para mim. Fofo.
Meio indecisa se assistiria outro filme, acabei por entrar em Prometheus (Ridley Scott, US, 2012), outro filme que esperava com muita ansiedade. Talvez tenha sido uma má decisão, assisti-lo assim, seguido a outro... talvez a minha expectativa tenha sido realmente muito alta... ou talvez o filme seja horrendo mesmo, como eu o senti. Admirada com ele até uns vinte minutos antes do fim, eu me surpreendi com algumas escolhas que considerei péssimas. A história da cabeça do FasBENder não consegui engolir. Como uma cena pode acabar com um filme e se sobrepor ao que ele tem de bom. Pior, pode quase que anular o que ele tem de bom. Digo quase, porque algumas coisas são realmente admiráveis. Mas o conjunto, para mim, não convenceu. E conseguiu atingir inclusive Alien, o Oitavo Passageiro, uma referência importante na jornada que Prometheus apresenta.
Mas se você viu o filme, diga o que achou para mim? Quem sabe conversando sobre ele eu o consiga olhar de outra forma e, talvez, até vê-lo novamente?
PS: O site www.cuevana.tv me foi apresentado por um sobrinho como um serviço de utilidade pública no Chile. Raro na América do Sul, comum na sua porção norte, não conheço sites gratuitos de filmes e séries online no Brasil. No Cuevaaaaaaaaaaaaana, filmes recentes e os últimos episódios da TV estão facilmente acessíveis. Nele tenho assistido a novas séries, como Continuum e a alguns filmes que ainda estão em exibição nos cinemas aqui, mas que acabo por ver aqui mesmo.
E essa, eu já sei desde sempre, não é uma boa escolha. O ambiente do cinema para mim é fundamental ao filme. Até este ano, os filmes que vi em casa foram pouquíssimos. Se for para paralisar na frente da TV, eu o faço nos torneios de Tênis ou com as séries de TV. Mas, em dias com muita vontade de ver o filme e uma preguiça monumental de ir ao cinema, acabei por ver dois filmes que me tocaram muito na TV.
Um deles não chegou aos cinemas aqui e, por isso, o jeito era vê-lo na telinha mesmo. Perfect Sense (Sentidos do Amor. David Mckenzie, UK/Suécia/Dinamarca/Irlanda, 2011) me chamou a atenção por se com Ewan McGregor. O poster é lindo... e o filme, inacreditavelmente belo e honesto. Um olhar que engloba como nos situamos no mundo hoje. Uma epidemia atinge o planeta subitamente... a cada emoção forte de uma natureza que acomete as pessoas, um sentido se perde. Com o remorso profundo e a culpa, some o olfato... Com a voracidade por tudo que nos certa, lá se vai o paladar... No meio do furacão, um casal se apaixona. Na perda dos sentidos, o sentido do amor se faz mais intenso. Um eye openner, como o definiu um espectador no imdb, para a vida hoje. Indeed.
Apenas uma Noite (Last Night. Massy Tadjedin, US/França, 2010) somente entrou nos cinemas esta semana, apesar de ser uma produção de dois anos atrás. Alguns filmes já me capturam nas primeiras cenas, e Last Night foi um deles, mesmo que visto na TV.
Eu amo filmes em que o relacionamento entre duas pessoas se expõe honestamente, e não como uma tese sobre o que é duas pessoas juntas.
Não há nada que nos coloque mais diante da vida, a meu ver, que a arte. Numa época de tanta confusão, de tanto disfarce do turbilhão que se passa dentro de nós - acho que nenhuma época foi tão civilmente hipócrita como a atual, nem os tão criticados anos 50 -, esse turbilhão tem de se fazer visível de alguma forma. Reconhecível de alguma maneira. Mesmo que seja por uma que se considera fictícia e distante da realidade como o cinema. Para mim, poucas coisas têm sido tão reais e palpáveis e próximas quanto alguns filmes que tenho visto. Só neste post estão três deles, que me fizeram olhar minha vida de forma mais honesta.
Aliás, honesto é como eu tenho me referido aos filmes de que tenho mais gostado. Honestidade na exposição do que, diariamente, tentamos esconder. Thanks god for art.
8.
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