Há dias em que demoro para chegar ao Viagens. Os livros se acumulam, vários filmes são visto, mas escrever sobre eles não acontece. Já percebi que, quando é assim, algo me incomoda. Há uma dificuldade em falar sobre o que li ou vi.
A dificuldade da vez chama-se Love, Again, livro de Doris Lessing.
Indicado por minha sis de alma, Kal, eu já cheguei a ele com muito carinho. Apesar de lermos coisas muito diferentes - ela ama a poesia, que meu coração ainda não conseguiu encontrar, por exemplo -, eu e essa amiga amada de muito tempo também nos encontramos em muitas histórias que lemos. Assim foi com Double Fault, que me levou a ler outros livros de Lionel Shriver, hoje uma das minhas autoras mais queridas.
Com Love, Again, Kal queria me contar algo... mas só poderia fazê-lo se eu lesse o livro. Assim, embarquei de coração na história de Sarah e seu encontro com o amor vinte anos depois de haver se apaixonado pela última vez. Autora teatral, com 65 anos, no início de uma nova produção, ela encontra o amor em dois homens diferentes... os dois considerados impossíveis.
No seu apaixonar-se, encontramos a produção teatral de uma peça sobre Julie Vairon, um personagem que em si já nos corta o coração - e assim é com os outros envolvidos na produção, especialmente Stephen, que divide a autoria do texto com Sarah.
O amor de Sarah dói - no corpo, na alma... e ler essa dor, tão belamente escrita por Lessing, acabou comigo. O tamanho do encanto correspondeu ao sofrimento... e daí não consegui trazer Love, Again ao Viagens tão cedo.
Love não só pelo outro... mas pela arte, pela música, pela vida que ela emana, e que pode se desfazer com o tempo ou ser inalcançável, como o amor impossível de realização. Nas palavras de Lessing, a busca de seus personagens, seu caminhar nesse cenário belo e sofrido, cria vida.
Doris Lessing, Nobel de Literatura |
Há dias já o terminei de ler o livro, mas ele permanece comigo. Hoje tive um sonho povoado da alma de Julie Vairon... E aí soube que Sarah não podia ficar mais um dia longe do Viagens. Mesmo que, para trazê-la aqui, eu tivesse que falar das dolorosas perdas que sua história conta - e aquelas que acontecem pelo simples andar da vida parecem as mais devastadoras.
But what could be older than the way that books which chime with one’s condition or stage in life insinuate themselves into one’s hand. (p. 4).
Here two unsentimental Englishwomen smiled at the Frenchman who was being so formally sentimental, exactly as expected. And in fact he had tears in his eyes. (p. 49).
Photographers are always in search of that perfect, that paradigmatic, but just out of reach summit of revelation. (…) And while Mary sat chatting with them all, her camera was held between alert fingers, ready to swoop it up into place to catch that unique and utterly unrepeatable pose or look which would transform a summary biography – twenty lines on the programme – into irresistible truth. (p. 77).
‘It’s good to love in a moderate degree, but it is not good to love to distraction.’
‘God Knows. Who?’
‘Plautus.’
‘Plautus!’ (p. 149)
She said, her eyes wet, ‘Funny how we subject ourselves to music. We never ask what effect it might be having.’ (p. 171).
‘Un moment,’ reproved the café proprietor, though no one had said a word. ‘Un petit moment, mesdames, messieurs.’ He disappeared inside, with a stern air. Because of Sartre, they knew that he was playing the role of Monsieur le Patron, just as the urchin was playing his role. (p. 182).
‘I think Proust’s pleasures in self-analysis was stronger than his sufferings over love. As for Stendhal, I think the analysis was a way of surviving the suffering.' (p. 213)
There are a stage in love when the two stare in incredulity: how is it that this quite ordinary person is causing me so much suffering? (p. 249).
That is to say, what remained was mild low spirits of a kind she could match easily with this or that bad patch in her life, but they were as far removed from the country of grief as they were distant from happiness. She stood in a landscape like that before the sun comes up, one suffused with a quiet, flat, truthful light where people, buildings, trees, stand about waiting to become defined by shadow and by sunlight. This is the landscape recommended for adults. (p. 328).
Depois do furacão Lessing, busquei paisagens mais tranquilas. E assim cheguei a The Last Days, de Scott Westerfeld, o autor de da série Feios, que já comentei aqui e que não consegui terminar de ler. Ele foi também uma indicação, agora de outro amigo, em uma conversa entusiasmada sobre os vampiros e suas histórias que nos rodeiam hoje.
O livro é de 2006... mas, todo o tempo, eu o senti como escrito nos anos 80. Ao final, essa impressão se confirmou quando o autor explica que cada capítulo recebe o nome de uma banda - a maioria delas vêm do punk, no final dos anos 70, início dos 80.
A história de jovens que se encontram meio ao acaso e sua banda apocalíptica - a sua música consegue trazer à superfície os monstros que ameaçam destruir o mundo - traz muitas ideias sobre como imagens mitológicas e narrativas vêem e vão. Como têm destaque em determinadas época e, em outras, ficam mais escondidas - mas sempre presentes. Os vampiros são assim... e há dois na banda : ) A força de um show de rock também está ali... e o Westerfeld traz sua moral da história ao colocar como essa energia acumulada em um só lugar pode representar uma destruição ou a resistência ao mal. Ele fica com a última, a meu ver. Deixa soltas as outras possibilidades, mas sem se comprometer muito com elas.
The Last Days é uma continuação da ideia iniciada no livro Peeps. A este ainda não cheguei, mas está nos planos.
The Last Days é uma continuação da ideia iniciada no livro Peeps. A este ainda não cheguei, mas está nos planos.
“Uh!”, I interrupted. “Not that word!” If he asked me what my influences were the whole thing was off.” (…)
I sighted though clenched teeth. How was I supposed to explain that I was in too much of a hurry to give a dam? That there were more important things to worry about? That the world didn’t have time for labels anymore? (p. 14).
Through most of history, vampires were rare; but every few centuries, humanity needed tons of them. This epidemic was our species’ immune system gearing up, peeps like killer T-cells multiplying in our blood, getting ready to repel an invader. Of course, as Cal liked to point out, immune systems are dangerous things: lupus, arthritis, and even asthma are all caused by our own defenses. Fevers have to be controlled. (p. 227).
Mas o encontro de alma aconteceu numa quarta-feira em que, diante da perspectiva de uma manhã de espera para fazer diversos exames, eu tive a iluminada ideia de pegar Daytripper, a HQ dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá e levá-la comigo. A manhã, que prometia ser um tédio, se tornou maravilhosa e encantada. E, no final, já sentada no café para quebrar o jejum, as lágrimas corriam pelos meus olhos. Um mico, mas muito pequeno se comparado ao quanto Daytripper me transportou para o quanto a vida é gratificante, bela e assustadora.
A seguir, algumas palavras que não conseguem, no entanto, trazer muito da história. E as que me tocaram mais fortemente não deu para colocar aqui... ficam como surpresa emocionante se você resolver embarcar nessa viagem. Há duas edições, uma mais bonita, em português, e a original, em inglês... muito lindo.
A seguir, algumas palavras que não conseguem, no entanto, trazer muito da história. E as que me tocaram mais fortemente não deu para colocar aqui... ficam como surpresa emocionante se você resolver embarcar nessa viagem. Há duas edições, uma mais bonita, em português, e a original, em inglês... muito lindo.
Travelling on the promotional tour of his successful first book, Brás notices how people greet him as if they’d already met him.
They’ll skip all the preliminary questions strangers normally ask to break the ice.
The book has done it already. It looked and smiled and won everybody over.
People who like the book naturaly assume they’d like the author as well.
They think they know who he is.
They think they’re his friends.
(pp. 156/157).
Depois de Daytripper, cheguei a outro quadrinho, que, como este, foi uma indicação da Rita querida.
Depois de Daytripper, cheguei a outro quadrinho, que, como este, foi uma indicação da Rita querida.
Fables: Legends in Exile apareceu para mim por trazer uma ideia que permeia minha tese: a presença da ficção na vida cotidiana. Nesse primeiro livro da série de Medina, Leialoha e Hamilton, os contos de fada, exilados do seu mundo, vivem incógnitos em NY. Fora dos contos de fadas, suas histórias são diferentes e mais domadas, digamos assim. As atrocidades que compõem muitos desses personagens devem permanecer no mundo das histórias... mas nem sempre é assim - e aí várias tramas surgem.
PS: Voltando um pouco às sombras... e quem disse que eu consigo ficar muito longe? Hoje consegui encontrar todas as músicas com que Snowqueen Icestorms compôs uma playlist que Edward apresenta a Bella em seu Master of The Universe. Em 50 Shades of Grey, há apenas a alusão a algumas músicas, acho que por problemas autorais... mas, no conto original, o set list tem até capa : ) A lista é muito bacana, actually. Uma delas, no entanto, ficou comigo hoje, especialmente durante este post, enquanto voltava ao turbilhão que Lessing me apresentou. Ao final do vídeo, a voz de Tom Waits, que amo amo amo, mesmo quando esqueço o quanto.
Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me
Come closer don't be shy
Come closer don't be shy
Stand beneath a rainy sky
The moon is over the rise
Think of me as a train goes by
Clear the thistles and brambles
Whistle 'Didn't He Ramble'
Now there's a bubble of me
And it's floating in thee
Stand in the shade of me
Things are now made of me
The weather vane will say
It smells like rain today
God took the stars and he tossed them
Can't tell the birds from the blossoms
You'll never be free of me
He'll make a tree from me
Don't say good bye to me
Describe the sky to me
And if the sky falls, mark my words
We'll catch mocking birds
Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me
Sis,
ResponderExcluirQue bom que você terminou o livro para podermos comentá-lo.
:-)
Que bom que você percebeu toda a sensibilidade da história de Sarah e Stephen...
É muito bom compartilhar viagens contigo e as lembranças delas, que permanecem no nosso coração.
Beijinho!
Essa é a verdadeira viagem, não é? Quando compartilhamos tudo isso!!!
ExcluirE vê? Eu deixei de falar sobre a amizade de Sarah e Stephen... que me cortou o coração também por ser tão palpável para mim. Parece que já vivi tanto essa amizade e vê-la em palavras foi um reconhecimento doce e dolorido tb. Não é à toa que ontem não contei muito sobre ela, rs.
Carinho grande, sis!!! E faltam 4 dias :)