terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Finalmente... um livro!

Num mês bastante diferente, em Janeiro li apenas dois livros. Do primeiro, How To Be a Famous Novelist, já falei. O segundo, que terminei em Fevereiro, atropelou Norwegian Wood, o livro de Haruki Murakami que está ali na cabeceira, pela metade, me olhando...rs. 


Ender's Game, o primeiro livro da série de Orson Scott Card, chegou até mim por um comentário no eonline.com. Ao ler um artigo sobre o lançamento de The Hunger Games no cinema, um dos leitores dizia como a história de Ender era mais visceral que a história de Katniss, escrita por Suzanne Collins, e de que eu gosto muito. Bom, diante disso, o jeito foi encomendar o livro na Cultura e começar a lê-lo assim que chegou...

Para contar do que foi o livro para mim, preciso dizer que eu sou um fruto bastante sem-vergonha do mito do amor romântico. Crescendo dentro das salas de cinema com uma produção cinematográfica predominantemente ocidental e, principalmente, norte americana, o amor romântico faz parte da minha alma e preenche meu coração e imaginação. 

Digo isso porque na história de Ender, o terceiro filho proibido de um casal habitante de um mundo futurista em guerra com um povo alienígena, não há romance, triângulos amorosos, amores perdidos, etc, etc. Em The Hunger Games há, desde o início até a conclusão devastadora, que marca fortemente um dos aspectos mais doloridos da guerra, a perda dos que amamos não porque eles morreram, mas porque, no caminho da violências, as ideias e crenças tomaram rumos diferentes. to 

Wellcome to the human race. Nobody control his own life, Ender. The best you can do is choose to fill the roles given you by good people, by people who love you. (p.313).

Mas penso que o visceral a que se referia o leitor dizia respeito justamente a essa ausência: Ender's Game não tem a "distração" de uma trama secundária. Digo secundária, but... para mim o amor é central em uma história. Mas isso sou eu, rs. O livro de Scortt Card, no entanto, traz de forma contundente a manipulação violenta de crianças de seis anos que são enviadas para uma escola de guerra. Denuncia o controle indiscriminado do governo em prol de seus interesses. Expõe a mentira como ferramenta eficaz de se alcançar esses objetivos.

 Desde que li The Hunger Games, não consigo olhar para uma narrativa de antecipação, que apresentam um futuro violento e pessimista, como uma reflexão forte sobre a atualidade. Sim, isso pode ser meio óbvio, mas não sei se o é realmente. Ao trazer um United States of America dividido em treze distritos, sendo que os mais pobres sustentam os mais, e poucos, prósperos, em que a fome é uma forma lucrativa de governo, foi impossível não olhar o mundo hoje, que tem a mesma organização.

...and when their loved ones died, a believer would arise beside the grave to be the Speaker for the Dead, and say what the dead one would have said, but with full candor, hiding no faults and pretending no virtues. Those who came to such services sometimes found them painful and disturbing, but there were many who decided that their life was worthwhile enough, despite their errors, that when they died a Speaker should tell the truth for them. (pp. 322/323).


Ender's Game traz essa discussão com a mentira e a indiscriminação na formação dos exércitos e na condução das guerras. E, assim, a partir de histórias que li há pouco, volto  aos romances de antecipação que li ou vi no cinema e identifico aspectos muito fortes da nossa sociedade atual. Acho que comi mosca por um tempo, rsrs. 

 Vale lembrar que o primeiro filme de The Hunger Games (de que falei aqui mais do que o livro que li) estreia em 23 de março.


No cinema, surpresas boas e férias ainda:


O encantamento de um doce encontro de almas eu vivenciei em Minhas Tardes com Margueritte (La Tête en Friche. Jean Becker, França, 2010), que já tem história em Os Degraus de Amélie

Era para ter escrito sobre o filme logo que o vi, mas deixei para depois... e o depois sempre se revela como muitos dias! Incrível a perda da noção do tempo que tenho experimentado. Mas, enfim... aqui está ele.

E como é lindo! Eu cheguei ao filme desconfiada que só, com um pé atrás muito grande em relação a Gerard Depardieu. Mas a história de Germain, o brutamontes de coração imenso que encontra seu lugar no mundo por meio da amizade com Margueritte e as histórias do livro que ela lê - Margueritte, uma senhora delicada e de coração imenso -, me conquistou devagar, de forma suave, e me deixou com lágrimas nos olhos e muito carinho no peito. 


Viagem 2: A Ilha Misteriosa (Journey 2: The Mysterious Island. Brad Peyton, Us, 2012) eu vi com as crianças. Eu me diverti demais, mesmo que o filme seja apressado e tenha a função explícita de entretenimento rápido e descompromissado. Well, e o que haveria de errado com isso? De Dwayne Jonhson eu e Marcelita gostamos desde Treinando o Papai (2007) e do hilário O Fada do Dente (2010) - mesmo que, nesse caso, ele tenha substituído Brendan Fraser, que participou do primeiro Viagem

O filme traz ainda o link com Julio Verne e com a veracidade que teriam suas histórias - viagens... - fantásticas. É uma delícia, mas um pouco mais de cuidado e tempo para construção da história não teriam feito mal a ninguém.


À Beira do Abismo (Man on a Ledge. Asger Leth, US, 2012) é férias, férias, férias. Divertidésimo, inteligente, deixa o coração na mão em algumas cenas. Traz, também, Sam Worthington, que ficou famoso com Avatar, mas que me conquistou mesmo no quarto filme do Exterminador do Futuro - A Salvação. Ri demais - da comédia e de nervoso, rs -, gritei um pouco, quase pulei da cadeira. Férias boas em 102 minutos...

E hoje, finalmente, cheguei ao cinema para assistir a O Artista (The Artist. Michel Hazanavicius, França/Bélgica, 2011), um dos mais fortes candidatos ao Oscar deste ano.

 É curioso como o meu coração é, ao mesmo tempo, completamente aberto e desconfiadíssimo no que diz repeito ao cinema. Com alguns filmes, soa um alarme em mim que, para ser honesta, raramente se justifica. Parece que, quanto mais o barulho e estardalhaço da imprensa com um filme, mais pé atrás eu fico. Algumas vezes essa precaução se justificou... mas, em outras, ela não apenas foi enganosa, como me impedia de chegar uma história que acabou por me tocar muito.

The Artist é assim. Meu amor por ele não foi tão intenso quanto em outros filmes por que me apaixonei definitivamente depois de superar a rejeição inicial. Mas, no the end, eram muitas as lágrimas nos olhos e a alegria em mim. Um encantamento feliz.


Eu suspeitava principalmente da proposta de fazer um filme nos moldes das produções de Hollywood (land!) do anos 20. O fazer como pode se tornar um tiro que sai pela culatra muito fortemente. Por outro super lado, ao fim de O Artista - um final que o tornou espetacular, mais uma prova de como os finais são importantes - me lembrou uma frase de Carol Shields, em Jane Austen - A life. A romancista, ao apresentar a biografia da autora inglesa Jane Austen, diz como a ficção pode contar dos fatos de uma forma mais abrangente e generosa que a descrição. 

The novelist George Gissing wrote that “the only good biographies are to be found in novels”. He was speaking about the genuine arc of a human life, that it can perhaps be presented more authentically in fiction than in the genre of biography (…) fiction respects the human trajectory. (p. 11).

Trata-se de uma dimensão da vida humana que a descrição e a transcrição não alcançam. Não suprem. A ficção pode tecer, então, a narrativa dessa dimensão – no que não está só. No entanto, como o mundo ficcional pode refletir e questionar o mundo real? 

How does a writer extract from real life those components that describe and interrogate “life” without pretending to be a replication? How does the writer signal to the reader that a novel’s fictional skin is something other than reportage? By now many degrees is mimetic art separated from the seen, felt, and heard field of our own being? How closely do we desire an overlapping of the real and the projected? Not at all? Or do we want to be persuaded that fictional truth is congruent with what we know, what we have already heard and accepted? (p. 142).

O Artista traz as palavras de Shields em imagens... em preto e branco e sem som ambiente - somente a música. Conta a história do início do cinema nos Estados Unidos não com uma descrição, mas com vivência, pelos personagens, do que representou o  surgimento dos grandes estúdios, o advento do estrelato, as mudanças técnicas com as novas descobertas. Passeamos pelo início do cinema em imagens e personagens repletos de referências ao cinema que já conhecemos. 

 Já vimos algumas dessas imagens em outros filmes, e talvez seja isso que torne O Artista um filme tão querido. Ele traz esse encantamento que vivemos, nos faz vivenciá-lo novamente, e propõe que, para isso, possamos imergir na forma, e não somente nas histórias, que o cinema possuía nessa época. Eu mergulhei nessa viagem, dela saí feliz e emocionada. E, de bônus, superei mais um preconceito : )



 Ao procurar Brendan Fraser no imdb.com, lembrei de um filme dele de que gostava bastante e que vi por acaso na TV a cabo há muitos anos: Still Breathing (James F. Robbinson, US, 1997). O nome em português, que descobri agora, ao procurar no google, é A Garota dos Meus Sonhos. O título original é mais exato - embora a garota realmente estivesse nos sonhos dele -, e vai bastante contra o poster sorridente, colorido e alegre. O filme é mais denso do que parece e seus personagens não são nada sunshine. Ele me tocou muito, embora eu o tenha visto há muito tempo. Foi bom reencontrá-lo no imdb e, agora, com o nome, posso tentar vê-lo novamente - com todo o estranhamento que alguns filmes dos anos 90 causam hoje... A última cena, já nos créditos finais, é fofa... e ela ficou na minha lembrança.  Eu a trago aqui - ok, conto o final, mas não a história, rsrs.  Novamente um the end que transforma todo o filme. 

There are two things I always wanted to believe in, but didn't dare. One, is that there is one man, somewhere, who is made just for me. The other is that I just might... deserve him. 

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