quarta-feira, 9 de outubro de 2013

So long.

Hoje me aconteceu algo muito interessante. Inesperado e reconfortante.

Bastante desanimada pelo fim de uma etapa na minha vida, de uma forma de conviver e pensar os filmes e os livros e as músicas, tentava me animar enquanto acompanhando minha mãe a uma consulta. Em vez de focar na perda, pensei com carinho na alegria de ter minha gordinha comigo, numa convivência que, com os anos, tem se tornada cada vez mais especial, próxima e divertida. 

Ela estava na mesa de exames, fazendo uma ecografia, reclamando do ar condicionado gelado. Eu, sentada numa cadeira na sala, na penumbra, percebi que ao meu lado tocava uma música que conhecia e de que gosto. A música vinha de um celular apoiado na mesa ao meu lado. Eu estiquei o olhar e bisbilhotei o nome, para confirmar: era uma de Glen Hansard, do filme Once


Comentei, então, com a médica que fazia o exame, como era linda a música. Nesse momento, o encantamento se iniciou, no lugar e momento menos esperados. Enquanto fazia o exame, na sua voz calma, a médica iniciou uma conversa que me trouxe, numa semana de perdas, a lembrança do que é fundamental. A lembrança de por que e como amo o cinema e o que ele me traz - os livros e as músicas que conheço por ele, as histórias, os reconhecimentos... 


Ela começou perguntando se eu havia visto Once. Sim, sim sim! Eu gritava internamente. A reposta externa foi mais tranquila, no tom de voz que a calma do momento impôs. Ela disse como ainda não havia visto o final - o computador havia travado e ela não conseguiu terminar a história, a que assistia no Netflix (e como eu tenho essa mesma dificuldade...). Contei para ela algumas coisas da produção do filme e que ela não conhecia - como ele foi filmado com duas handcams, quase sem dinheiro; como, na cena em que o músico de rua é roubado, uma pessoa, na rua em Dublin, sem saber que se tratava de ficção, correu atrás do ator, acreditando que o roubo era real; que os dois atores e músicos  haviam ganhado o Oscar de melhor música - um feito surreal para músicos que tiveram um início modesto nas ruas.


Ainda em voz baixa, aos poucos, de acordo com o que surgia na memória - tom que marcou toda a conversa -, ela me contou de um software que era rádio e que, a partir das suas preferências, indicava outros artistas e músicas. Agora esqueci o nome, claro. Por gostar muito de Damien Rice (eu também, eu também!), o programa indicou a trilha sonora de Once. Ao ver a capa do filme, ela chegou a ele. E estava amando.

Daí em diante foram várias lembranças. Ela citou Blue Valentine (love, love, love), eu perguntei de Drive: "Sim... vi todos os filmes de Ryan Gosling", disse ela com um sorriso que já contava muito. Contei que havia escrito uma história no Degraus a partir de Blue Valentine e de como ele mexeu comigo. Assim, Amor a toda Prova, The Notebook, The Place Beyond the Pines, Lars and the Real Girl surgiram na conversa. 


Eu perguntei de O Lado Bom da Vida, ela disse como achou a abordagem da doença do personagem muito romantizada e superficial - afinal, com uma pessoa próxima bipolar ela já havia convivido, e não havia nada de romântico nisso. Comentamos a respeito, contei do livro, que é muito denso, mas também de como, apesar de ser divertido, o filme me tocou profundamente. 


Os próximos foram os filmes argentinos: Conto Chinês (não contei, no entanto, que tenho um artigo sobre o filme ou que o exibi na última aula do meu estágio docente, nem do encantamento dos alunos com o filme). Elsa e Fred esteve ali na conversa também - eu tenho o DVD, mas nunca assisti ao filme. Como os livros, muitos DVDs ficam fechados, envoltos no celofane ainda, até que resolvo finalmente conhecê-los mais de perto. Contei para ela de Medianeras e de um filme que tem fim do mundo no nome, que eu amei, mas de que não lembro e queria reencontrar... Já ajudando minha mãe a sair da maca, lembrei de O Segredo dos seus Olhos, e as duas, médica e mãe, ficaram curiosas para assisti-lo.


Ao sair do consultório, na porta, eu lembrei de Perfect Sense, que ela anotou correndo. Acho que ela vai gostar :)

Na conversa, mutos pontos de encontro, coisas importantes que não entraram no enquadramento, e, sobretudo e principalmente, a lembrança do que é importante para mim com os filmes e livros e músicas. Não que o trabalho acadêmico com o cinema não tenha sido incrível, enriquecedor e surpreendente para mim. Foi isso tudo e mais - mais ainda quando lembro das pessoas que estiveram comigo nesse processo. Mas, no desânimo da perda, aquele encontro inesperado me lembrou que eu não perdi o essencial para mim: minha relação com o o cinema numa sala de projeção; meu questionamento com os livros antes de dormir, mesmo com os classificados como banais pela crítica; a surpresa de encontrar uma música que amo - que fez parte de um período da minha vida, mas que esqueço de ouvir - no celular sobre uma mesa numa sala de ecografia.


Lembrou, também, que há pessoas que, como eu, constroem seus sentidos e percepções e referências com os filmes, e assumem o cinema como uma forma de estar no mundo e de refletir e pensar a própria vida. 

O essencial, às vezes, está visível aos olhos. Amen to that. 


Perfect Sense
O que não tem sentido e o que nunca deixa de ter...


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Robert Galbraith... essa é boa.

Capa infame
Ainda recuperando o tempo perdido com o super atraso em trazer os filmes e livros que vi e li desde maio, o destaque neste post é para os livros...
O mais recente, que li em fast foward (confesso) foi o último livro da autora de Harry Potter, J. K.Howling. 
Escrito sob o pseudônimo Robert Galbraith, The Cuckoo's Calling foi lançado sem estardalhaço. Quando ele começava a chamar a atenção do público e crítica, mesmo que ainda timidamente, uma bocuda que sabia do segredo o publicou no twitter. E o projeto quase antropológico de Rowling foi por água abaixo - ela o comenta no seu site. A venda do livro estourou, vários leitores ávidos foram à internet à procura do livro... e eu não fui diferente. No mesmo dia comprei o ebook e comecei a ler a nova história da autora de HP.
E foram vários, vários dias. Ontem, quando me encontrava no meio do livro, resolvi apressar a leitura e ir para o último capítulo. Eu reservo a carta do "vou direto para o final" para casos mais extremos. E esse foi um deles.
About the Author
ROBERT GALBRAITH spent several years with the Royal Military Police before being attached to the SIB (Special Investigative Branch), the plainclothes branch of th RMP. He left the military in 2003 and has been working since then in the civilian security industry. The idea for Cormoran Strike grew directly out of his own experiences and those of his military friends who returned to the civilian world. "Robert Galbraith" is a pseudonym. 
A trama de Cormoran Strike, um detetive particular que investiga a possibilidade de homicídio no suicídio de uma supermodel, e para isso tem a ajuda de sua nova secretária, Robin, parecia interessante. E talvez seja. Mas eu não consegui me identificar com a trama e em como ela é contada. Não consegui, também, me importar com os personagens - o que é a morte de qualquer história. No fundo da mente, numa voz baixinha, eu pensava que aqueles personagens eram interessantes e valia acompanhá-los. Mas em determinado ponto, não a ouvi mais, e então veio a decisão de avançar para o final. Que em nada surpreendeu, reforçando a minha decisão de apressar o fim. 

Retrocedendo para maio, To Say Nothing of The Dog, de Connie Willis, foi uma indicação do autor John Green em seu vlog no youtube. Gosto muito de JG e valorizo suas indicações. Esta foi a primeira que segui, e adorei. Viagens no tempo são geniais e essa é de uma inteligência e ironia impecáveis. Eu demorei um pouco para engatar no livro, mas para variar, ele se tornou incrivelmente inelargável justamente numa madrugada em que tinha de acordar cedo no dia seguinte :)



The Ocean at The End of The Lane é o mais novo livro de Neil Gaiman, foi amor absoluto. Gaiman não pode errar comigo - e várias vezes eu já suspeitei que havia chegado o momento. Mas foi alarme falso todas as vezes, thanks God.
I liked myths. They weren’t adult stories and they weren’t children’s stories. They were better than that. They just were.Adult stories never made sense, and they were so slow to start. They made me feel like there were secrets, masonic, mythic secrets, to adulthood. Why didn’t adults want to read about Narnia, about secret islands and smugglers and dangerous fairies (p. 51).

Encantamento. Silêncio. O universo inteiro ao meu redor. Tudo em apenas 143 páginas (no ebook em inglês). O mundo inteiro em poucas palavras, como uma história boa pode trazer. E Neil Gaiman o faz como poucos que conheço. Quando fechei a última página, o meu estado era de meditação. Muito do que senti Neilman colocou no pensamento de seu personagem no interior do oceano:

I saw the world I had walked since my birth and I understood how fragile it was, that the reality I knew was a thin layer of icing on a great dark birthday cake writhing with grubs and nightmares and hunger. I saw the world from above and below. I saw that there were patterns and gates and paths beyond the real. I saw all these things and understood them and they filled me, just as the waters of the ocean filled me.Everything whispered inside me. Everything spoke to everything, and I knew it all (p. 115).
O mundo inteiro em mim em silêncio. Exagero? Não sei. Acho que você vai ter de ler para me contar :)
I was not happy as a child, although from time to time I was content. I lived in books more than I lived anywhere else (p. 22).
Por fim, outro livro em que não encontrei o suficiente para chegar ao fim foi One Hundred Names, de Cecelia Ahern. Filha do ex-Primeiro Ministro da Irlanda, eu a conheci há anos, com livros que me encantaram e estiveram aqui no Viagens anteriormente. De um tempo para cá, os livros dela se transformaram em mensagens muito explícitas - a armadilha da defesa da tese novamente -, e aí perderam muito do encanto para mim. 
One Hundred Names inicia de forma mais interessante do que termina, e assim abordei a missão antes do final. Mas de Cecelia não desisto jamais, e ainda há outro livro dela, recente, para ler. Esperando, dessa vez, menos defesa e mais história. 


Hannah Arendt está nos cinemas
e é incrível. Enquanto ele não chega
ao Viagens, fica o Trailer. Imperdível.

PS: Um post sem post scriptum vai contra a tradição do blog. Desta vez, ele vem esclarecer que outros livros foram lidos no período de maio até hoje. Mas ou eu esqueci quais foram - não anotei todos, como costumo fazer - ou são tão infames que não dá nem para contar. Bom, de qualquer forma, o enquadramento se justifica :)




segunda-feira, 29 de julho de 2013

Quel est cet amour qui nous aime?

O que é esse amor que nos ama?




Se considerarmos que o cinema é uma linguagem, é plausível dizer que há cineastas que falam uma língua mais próxima da nossa alma... de anseios de que nem sempre somos consciente.

Terrence Malick eu amo.  Quando ele ressurgiu, em 1998, vinte anos após o seu último filme, Cinzas no Paraíso (Days of Haeven, 1978), houve um estardalhaço na imprensa especializada em cinema. Mas, apesar da curiosidade, eu somente assisti a Além da Linha Vermelha (In the thin red line, 1998) no DVD. Assim também com o seu filme seguinte, O Novo Mundo (The New World, 2005), a história de Pocahontas e Capitão Smith.  Ao final deste, deu-me uma grande tristeza e uma outra percepção do amor quando os dois se encontram muito tempo depois de terem se visto pela última vez. A vida dos dois é outra... e o amor que sentiam havia se tornado um devaneio. Ao se reencontrem, eles percebem como o amor era mais uma imagem que um sentimento. Minha visão de muitas coisas se modificou a partir dessa cena...

Assim, na minha admiração pelos filmes anteriores de Malick, eu assisti a A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) no cinema. Escolhi com cuidado a sala, o meu lugar, e me apresentei para a viagem que viria. Não me decepcionei - embora ouça críticas muito negativas a ele e tenha presenciado o desconforto das pessoas ao meu redor na sala de projeção, enquanto eu me emocionava muito. Mas Malick não pode errar para mim, eu acho.

Foi inesperadamente que cheguei a Amor Pleno (No original mais belo To The Wonder, 2012) na última sexta-feira. A manhã havia sido incrível e surrealmente feliz.  À tarde, sem planejar, cheguei ao cinema sem planejar e foi com alegria que vi To the wonder em cartaz. Eu havia lido sobre ele na internet ao acordar.... e foi uma coincidência boa encontrá-lo no cinema justamente naquele dia.

Expectativas são um veneno mortal no cinema. Sem exageros, imagine (:). Mas, como disse, Malick fala comigo muito de perto. Eu amei amei amei Amor Pleno. Como nos filmes anteriores, o que vemos não são fatos, mas os pensamentos, sonhos, emoções dos personagens. A história é contada assim. Nesse caso, o amor é contado assim... É lindo e genial. Mas pode ser frustrante, se chegarmos ao cinema esperando uma explicação que não virá nunca. 

Na página do filme no imdb.com, um dos comentários se intitula: Explain nothing, show everything. Então. Malick não explica nada e mostra tudo. Inclusive aquilo de que não somos conscientes. O mundo todo está presente ali, no tema do amor e dos relacionamentos... mas é preciso deixar o racional de lado um pouco e sonhar juntamente com o que vemos. Que é lindo e dolorido e tão verdadeiro que me fez chorar. Como todos os filmes de Terrence Malick conseguem.

Há mais de dois meses eu não chegava ao Viagens (bad, bad blogger!). Muita coisa para ler e escrever não deixou muito espaço em mim para contar dos filmes e livros que vi. Mas Malick me trouxe de volta, e é com encantamento que conto de Amor Pleno. Wonderful.

Desde maio, os filmes vistos foram:

Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013), que, apesar das cenas incríveis, principalmente a do ataque à casa de Tony Stark, eu achei bastante blah. Um personagem tão bom merecia uma história melhor (e isso eu já pensei no segundo filme da série).

A Gremlins (1984) eu assisti no último dia do Vivo Open Air. Foi uma super diversão e uma surpresa. Eu já havia visto alguns trechos, mas não esperava um filme tão bom, e quase trinta anos depois. Os gremlins do mal cantando com os sete anões no cinema é uma das melhores cenas que já vi no cinema :)

O Grande Gatsby (The Great Gatzby, 2013) foi um espanto. Embora Baz Lurhman tenha trazido muito de Moulin Rouge no seu novo filme, ele ainda conseguiu surpreender. E trazer com intensidade a dor de amar sozinho, como definiu uma amiga. Encantamento em grande estilo.

Antes da Meia-Noite (Before Midnight, 2013) cortou meu coração em mil pedaços. Eu tenho um carinho muito grande pela série criada por Richard Linklater. O primeiro filme, Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) conquistou os público aos poucos, e quando a sua continuação, não prevista inicialmente, foi anunciada nove anos após, cheguei a Antes do Por-do-Sol (Before Sunset, 2004) com muita expectativa. E não me decepcionei. A história de Jesse e Celine, agora roteirizada também pelos atores July Delphy e Ethan Halk, foi literalmente de arrepiar. Assim, novamente, no anúncio do terceiro filme, eu me preparei com cuidado para vê-lo no cinema.

Os dois filmes anteriores trouxeram despedidas, mas o foco foi o encontro e reencontro. em Antes da Meia-Noite, o afastamento tem maior destaque. Mas, como anteriormente, ele traz personagens e sentimentos quase palpáveis de tão reais para mim. Essa proximidade, porém, também é difícil. Dói. E assim não consegui ver o filme novamente, como os anteriores. Mas eu o amei imensamente.

E, nesse dia, a sessão foi tripla. O segundo filme do dia foi Faroeste Caboclo (2013). Dele tive que sair correndo no meio da música do Legião Urbana, chorando bastante emocionada. A música está ali, em imagens, e não em transcrição. Uma época está ali, muito bem representada (com dois furos bobos - um deles é véio, que ninguém falava nos anos 80...), numa reconstituição cuidadosa. A importância da música para uma geração está ali também, e sair do cinema tão encantada com uma adaptação é bastante raro.

O terceiro filme desse dia foi Além da Escuridão - Star Trek (Star Trek Into Darkness, 2013).Três produções tão boas no mesmo dia e tão diferentes! O início de Star Trek é genial e uma experiência digna do nome 3D. O filme de 2009 havia me emocionado muito por se uma homenagem digna à série, por isso cheguei a este com certa cautela. Mas não precisava o receio, rs. E Benedict Cumberbatch de vilão é um super bônus! 

O Homem de Aço (Man of Steel, 2013) já não foi tão feliz. Não é possível ter um bom filme sem uma história bem contada. Como disse Richard McKee em Story, seu livro sobre roteiros cinematográficos, a farsa de uma história fica muito evidente na produção. Ok, o novo super homem não é de todo ruim: uma atmosfera Bruce Banner (Hulk), com Clark Kent vagando pelo mundo com os seus poderes como uma maldição conferiu uma melancolia que combina com o super homem. A construção do relacionamento com Lois Lane é muito bonita também. Mas foi só. Eu adoro cenas de ação, principalmente quando bem feitas, mas aqui elas são over. Uns 30 minutos a menos de pancadaria teria dado mais força à historia de um personagem digno de um bom roteiro. O que é uma decepção maior quando a direção está com Zack Snyder, que pode fazer tão, mas tão melhor que isso. 

Com as crianças, desde maio vimos Reino Escondido (Epic, 2013) é fofo, mesmo que o mais fraco de todos a que assistimos nesse período - não falo muito dele porque, de verdade, já não lembro muito mais, rs. Universidade Monstros (Monsters University, 2013) é legal por vermos os personagens queridos de Monstros S.A. Mas o filme não tem ritmo e consegue se tornar monótono em alguns momentos - esse é o problema de se construir um filme com personagens ou histórias já conhecidas, a preguiça que vem do que já está garantido.  

Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2, 2013) é divertidíssimo, inteligente e  uma alegria para quem amou o primeiro filme. Os minions têm um grande destaque, como deve ser (big smile sempre!), mas a história ainda gira em torno de Gru e suas meninas - agora com o acréscimo de Lucy, uma adição fofa à família. Nós o vimos três vezes até agora, e não deu para esgotar ainda. E, como no primeiro, há frases que já se tornaram de estimação e aparecem na conversa com as crianças. Feliz.





PS: Em 2001, talvez antes mesmo antes de pensar em uma continuação para Antes do Amanhecer, Richard Linklater apresentou Celine e Jesse juntos em Waking Life, animação que não pode ser vista com muita racionalidade também. Assim, para quem já os conhecia, surge uma resposta sobre se eles teriam se reencontrado... no entanto, em  2004, a história muda em Antes do Por-do-Sol. Mas é curioso ver o envolvimento do diretor com seus personagens e que transparece nos seus três Before...

PPS: Os livros de maio até agora aparecerão em outro post... este já está gigante o suficiente! Santo atraso, Batman.



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Wake up, little Susie

De repente, a vida resolveu correr... muita coisa para escrever, muita coisa para fazer... O Viagens ficou abandonado. O cinema e os livros também - estamos na metade do mês, e ainda não entrei numa sala de cinema. Mas entre abril e maio, este mês que está desaparecendo entre dias corridos, houve livros e filmes que ainda não havia comentado aqui.

O primeiro deles foi Os Croods (The Croods. Kirk De Micco, Chris Sanders. US, 2013) animação que acabou esquecida no post anterior. Eu a vi duas vezes, com as crianças. Rimos demais, nos divertimos um monte, mas dela, o que permaneceu, foi como as histórias podem aparece na nossa vida. Pensamos muito nelas como se tivessem uma obrigação de transmitir uma mensagem - de preferência edificante. Cada vez mais tenho gostado menos dessa ideia, como se só assim a ficção pudesse contar da vida. No filme, o patriarca da família que vive encerrada numa caverna, conta as histórias para a família como uma indicação do que não fazer. Do que é perigoso. Conta as histórias como uma lição do que fazer ou não fazer. Expulsos da caverna pela natureza, eles encontram Guy, o andarilho, que conta as histórias como uma possibilidade do que a vida pode ser, de como a sonhamos e como a vemos. Por isso só, o filme já é muito especial para mim. Nem precisava ser tão engraçado e querido como é :)

Oblivion (Joseph Kosinski. US, 2013) foi uma das grandes surpresas que tive no cinema há muito tempo. Com ele, percebi como surpreender-me com os filmes hoje está bastante difícil. A surpresa tem vindo com produções mais antigas que ainda não havia visto... mas, na sala de cinema, ela tem sido rara. Aqui ela foi bem-vinda! De muito bom gosto, com uma história genial que me lembrou 2001, Uma Odisseia no Espaço, um roteiro incrivelmente bem amarrado, saí do cinema encantada e feliz por não haver sucumbido ao preconceito de não ir a um filme com Tom Cruise - triste de reconhecer, mas é isso aí. Joseph Kosinski (eu só lembro de Bobinsky, de Coraline :) é um nome para se ficar atento, á nessa sua segunda jornada na direção, juntamente com o roteiro (adaptado da HQ) e produção. Amazing e belo.

Em Jack - O Caçador de Gigantes  (Jack The Giant Slayer. Bryan Singer, US, 2013) a experiência foi muito diferente - e aí entra também a danada da expectativa. Se de Oblivion eu esperava nada, Jack, por outro lado, era um filme que queria muito ver. E fui a duas sessões dele no mesmo dia, com amigos diferentes. Na segunda sessão, já era visível o quanto eu estava desapontada. Jack é daqueles filmes em que nada parece estar fora do lugar - tudo ali, direitinho, check. Mas não há história, é um filme sem alma. E  como eu queria gostar dele! Mas saí bastante desapontada, como tem ocorrido com muitas produções atuais - e foi o caso, já adianto, de Iron Man 3 (Homem de Ferro 3. Shane Black, US/China, 2013): grandes produções, filmes esperadíssimos, personagens incríveis e, na famosa hora H, blah blah blah, tudo se perde num roteiro superficial, mal escrito e, como já disse antes, totalmente sem alma. Uma frustração. Um roteiro bem escrito, honesto, com foco nos personagens, consegue transformar qualquer produção mais simples em um grande filme. Pena que os produtores dos blockbusters atuais estão se esquecendo disso. 

A Caça (Jagten. Thomas Vinterberg, Dinamarca, 2012) eu não direi que me surpreendeu, porque, de uns anos para cá, só tenho esperado o melhor do cinema nórdico. E, fora o último filme de Susanne Bier, não tenho me decepcionado. Um olhar cuidadoso para a vida tem sido a marca dos filmes suecos e dinamarqueses que tenho visto. A violência tem tido um destaque e penso com tem sido a vida lá para cima, porque as histórias desses filmes são quase insuportavelmente palpáveis. A injustiça, a falta de senso, a perda da percepção do outro como uma pessoa têm sido constantes nessas produções. Aqui, de tão intensa, eu chorei de raiva. De frustração. De incredulidade. E de pavor, pois aquelas pessoas, projetadas na tela, não eram em nada diferentes do que tenho visto no dia-a-dia, em situações que, mesmo diferentes no acontecimento e gravidade, tocam essa ferida da falta de comunicação e atenção que, hoje, se torna descomunal. 

O dia que durou 21 anos (Camilo Tavares, Brasil 2012 - produzido pelo jornalista Flávio Tavares, um dos prisioneiros da ditadura libertados no México) eu fui assistir como companhia a uma pessoa querida, que vivenciou de muto perto, e sofreu de muito perto também,  a instalação da ditadura no Brasil. Acho que devo ter passado todo o filme de queixo caído - não acreditava nos documentos que via projetados na tela, assim como as gravações e filmagens. Parecia ficção, surreal demais para ser verdade. Apesar de um documentário ser também uma história roteirizada e trazer em si a visão dos seus realizadores - em suma, é também uma leitura da realidade, como a ficção -, o valor documental do filme é extraordinário. Saí com um peso enorme na alma. Do meio ao final da ditadura, eu era uma criança, e pensar que vivia num mundo barbaramente cruel sem saber acabou comigo, ali, naquela sala de projeção, de forma que nunca havia acontecido antes. Assim o cinema faz: apresenta um confronto inegável com a nossa realidade. Um espelho cruel, esse cinema, mas incrivelmente genial e necessário.

O último filme até agora foi uma reprise: Pulp Fiction - Tempo de Violência (Pulp Fiction. Quentin Tarantino, US, 1994) eu revi, depois de muito tempo, no Vivo Open Air, edição de 2013. Fiquei maravilhada com a estrutura - na tela gigante, as imagens são incríveis. No sistema 12.1 de som, não se percebe uma falha. Eu tenho um encanto grande com cinema ao ar livre - e sei que não estou só. Rever um filme tão forte e especial para mim, naquela telona, foi uma festa. 

Eu ria, me surpreendia e não acreditava como Pulp Fiction ainda está ali, sem envelhecer. Falo sempre tanto dele, que quase se tornou um clichê. Por isso revê-lo foi tão importante. De senso comum, ele voltou a ser um destaque. E por falar em roteiros bem escritos e surpreendentes, esse é um dos melhores que já vi. Andamos pela narrativa não linear sem tropeçarmos. A direção de Tarantino é uma loucura de ser ver, agora na distância furor que foi a estreia do filme à época. Um casamento feliz esse: uma estrutura bela + um filme genial = festa no cinema!

Se os filmes eu encontrei pouco, imagine os livros. Eles estão constantemente comigo - não consigo dormir sem ler -, mas eu cheguei a eles com calma, lerdamente - até porque nenhum realmente me conquistou de imediato.

De Maggie Stiefvater, autora de Shriver, série de werewolves melancólica e bela, li dois livros. The Raven Boys é o primeiro de uma série - segundo capítulo será publicado no final do ano. Ele tinha tudo para me prender desde o início - que é bastante poético. Mas a história, apesar de boa, se enrola, enrola, enrola... e, claro, só foi ficar interessante nas últimas 50 páginas, que me encontraram às 2h da manhã, pertinho da hora de acordar (e não é sempre assim?). Como a continuação ainda demora, pensei em conhecer outra série da autora, agora de fadas (a anterior é de fantasmas e lendas celtas). 
Blue Sargent had forgotten how many times she’d been told that she would kill her true love.Her family traded in predictions. These predictions tended, however, to run toward the nonspecific. Things like: Something terrible will happen to you today. It might involve the number six. Or: Money is coming. Open your hand for it. Or: You have a big decision and it will not make itself.
The people who came to the little, bright blue house at 300 Fox Way didn’t mind the imprecise nature of their fortunes. It became a game, a challenge, to realize the exact moment that the predictions came true. When a van carrying six people wheeled into a client’s car two hours after his psychic reading, he could nod with a sense of accomplishment and release. When a neighbor offered to buy another client’s old lawn mower if she was looking for a bit of extra cash, she could recall the promise of money coming and sell it with the sense that the transaction had been foretold. Or when a third client heard his wife say, This is a decision that has to be made, he could remember the same words being said by Maura Sargent over a spread of tarot cards and then leap decisively to action.
But the imprecise nature of the fortunes stole some of their power. The predictions could be dismissed as coincidences, hunches. They were a chuckle in the Walmart parking lot when you ran nto an old friend as promised. A shiver when the number seventeen appeared on an electric bill. A realization that even if you had discovered the future, it really didn’t change how you lived in the present. They were truth, but they weren’t all of the truth.
“I should tell you,” Maura always advised her new clients, “that this reading will be accurate, but not specific.”
It was easier that way.
But this was not what Blue was told. Again and again, she had her fingers spread wide, her palm examined, her cards plucked from velvet-edged decks and spread across the fuzz of a family friend’s living room carpet. Thumbs were pressed to the mystical, invisible third eye that was said to lie between everyone’s eyebrows. Runes were cast and dreams interpreted, tea leaves scrutinized and séances conducted.
All the women came to the same conclusion, blunt and inexplicably specific. What they all agreed on, in many different clairvoyant languages, was this: If Blue was to kiss her true love, he would die. (pp. 7/8).

Lament: The Faerie Queen's Deception tinha tudo para ser uma história bonita e interessante. Mas os personagens se perderam em algum buraco negro da narrativa. E o final, numa tentativa de surpreender e ser diferente, se distanciou ainda mais do que parecia ser a jornada dos personagens. Estou confusa até agora, achando que li o livro de forma errada. Mas nem que vou relê-lo. Dei uma olhada no segundo capítulo da série, Ballad, e a coisa parece que vai do pior ao insustentável. Melhor, então, parar por aqui. Uma pena, Shriver é uma trilogia de que gosto muito.... e acabo por torcer pelos autores das minhas histórias :)

Antes desses dois, no entanto, veio Jane Austen Ruined My Life, de Beth Patillo. Eu adoro, mas adoro de verdade, livros que se referem a Jane Austen. Já li alguns - um deles, Austenland, está para sair no cinema. Me and Mr. Darcy, de Alexandra Potter, que comprei num posto de estrada na Inglaterra, já seria especial por isso só, mas é o meu preferido em história. A este eu cheguei, neste mês, ao procurar a referência dos anteriores para passar a uma leitora de JA. Esbarrei com o título, que não conhecia, e imediatamente o comprei pela Cultura, para ler no Kobo. 

“You don’t believe me?” “You have to admit, it all sounds a bit far-fetched.” “Most true things do,” she replied. (Cap. 4, p. 23.)

“So you don’t believe in happy endings?” I asked. 
“Is that really what you want from a relationship?” Barry asked, eyebrows arched. “An ending?” 
“It’s a figure of speech. It’s not meant to be literal.” 
“It is when women use it.” Barry crossed his arms over his chest. “Where did women get the idea that once a man commits to marriage it’s all over?” He uncrossed his arms, put them on the table, and leaned toward me. “That’s just the beginning.”
I frowned. “You don’t seem like the kind of guy to have a lot of experience with commitment.” And then I was afraid I might have offended him, but he appeared unfazed. 
“That’s where you’re wrong. I’ve been married. Twice. Never again, though. Wedding vows make women lose their minds. They think the tough part’s over.” A flush stung my cheeks, because I was certainly guilty as charged. (cap. 14, p. 21/22).

While I loved the elegant portraits by the most renowned artists of that day, my favorite portrait had little, if any, artistic merit. It was also quite small, no more than a few inches square. The subject’s sister had done a quick study in pencil and watercolor, left half finished, and no relative of the subject had ever thought it much resembled the person who posed for it. Still, it was the only authenticated portrait of Jane Austen known to exist. (cap. 15, p. 4).

That thought, that moment, standing in front of her portrait, renewed in me a desire I hadn’t experienced in years. I slipped my purse off my shoulder and dug around in it, fumbling for the notebook and pen I’d purchased that morning. I looked around, eager for a place to sit, but this particular gallery didn’t have any benches, so I slid to the floor, letting go of any sense of dignity and decorum. Them I uncapped the pen and let it fly across the page. (cp. 15. P. 8).

“You were so certain that you had to have a hero that you forgot to look for a man.”
“What?” 
“Who could measure up to your Jane Austen fantasies? No mere mortal could satisfy you.” (cap. 17, p. 15).

É fofíssimo, como os outros, embora essa tentativa insana que alguns escritores têm de defender uma tese com seus personagens me aborreça um pouco. É aquela história do começo: as histórias têm de possuir uma moral específica para nos dizer algo? No, please. Deixem a história falar por si, authors, please! Não os massacrem com suas teses.

Bom, no livro de Beth Patillo não ocorre um massacre exatamente, mas a tese está lá. E não é que ela seja enganosa, pelo contrário. Só que, assim, na forma de defesa, e não de história, ela entra num caminho que não é dela. 

Gosto muito do que John Green escreve antes de iniciar a história em The Fautl in Our Stars. Ele dedica o livro a Esther Grace, que morreu, aos 16 anos, do mesmo tipo de câncer que tem sua protagonista, Hazel Grace. A confusão que poderia - e se instalou - de que a história no livro se baseia nos famosos fatos reais o levou a deixar este esclarecimento:  
This is not so much an author’s note as an author’s reminder of what was printed in small type a few pages ago: This book is a work of fiction. I made it up. Neither novels nor their readers benefit from attempts to divine whether any facts hide inside a story. Such efforts attack the very idea that made-up stories can matter, which is sort of the foundational assumption of our species. I appreciate your cooperation in this matter.

Assim é com a tese: uma história não precisa trazê-la explicitada para que tenha, em si, lições valiosas. Made up stories matter a lot!



PS: A Caça trouxe um dos meus atores preferido atualmente, Madds Mikkelsen. Considerado um símbolo sexual na Dinamarca e Suécia, onde representa diferentes papeis, mas, geralmente, o do protagonista herói, nos Estados Unidos ele é escalado principalmente como vilão - como vimos em 007 - Casino Royale. Ele esteve recentemente aqui no Viagens com O Amante da Rainha. Eu o comecei a prestar mais atenção nele com um filme de Susanne Bier que é um dos meus preferidos for life, Depois do Casamento (Suécia/ Dinamarca/ Inglaterra/ Noruega, 2006), o qual também me chamou a atenção para a qualidade das produções desses países vizinhos. 

Continuando a tradição de ter sua fisionomia - peculiar, digamos assim - associada à caracterização de vilões, Mikkelsen faz parte do excelente elenco de Hannibal, série de TV criada por Bryan Fuller (US, 2013), o mesmo de Pushing Daisies e Heroes. O seriado traz a relação de Hannibal Lecter (Madds, e quem mais?) com o agente do FBI Will Graham, antes de ser descoberto como o famoso canibal. Eu vi apenas dois episódios por enquanto. Apesar de incrivelmente bem feita, beirando a genialidade, a série é intensa as hell, absolutamente gráfica nas mortes e, por isso, eu chego nela em encontros esporádicos.  

sexta-feira, 12 de abril de 2013

In for a penny, in for a pound.


Chegar ao fim de uma história em série é heartbreaking. Seja na televisão, no cinema ou, principalmente, em livros, por um ponto final num mundo e personagens que nos acompanharam e se tornaram importantes faz parte da relação com as séries. Mas nunca cessa de trazer uma certa melancolia - maior ou menor, dependendo do meu envolvimento com a história.

A primeira lembrança que tenho de um coração partido pelo fim de uma saga foi com As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley (1979). Quase em 1990, há dois anos na universidade, estudando loucamente para concursos públicos, eu me perdia na narrativa constantemente. Não foi somente uma vez em que perdi o ponto de descida do ônibus porque não conseguia desgrudar das páginas do livro e de Morgana. Arthur, Lancelot. Ao fim, não sabia bem o que fazer. Aquele lugar a que havia ido tão constantemente havia sido fechado por um ponto final.

Sim, a releitura é sempre possível... e é um retorno que nos traz de volta aquele mundo específico, mas nunca da mesma forma.

Esta semana, cheguei ao terceiro e último livro da série Infernal Devices (Peças Infernais),  Clockwork Princess, de Cassandra Clare, autora de Mortal Instruments. As duas séries trazem o mesmo mundo dos Shadowhunters, mas com 130 anos de diferença.

Shadowhunters são nephilim, uma raça mestiça de humanos e anjos, que habitam incógnitos a terra para lugar contra os demônios no mundo e proteger a humanidade. Em MI conhecemos esse mundo pela jornada do herói realizada por Clary, que descobre sua origem e feições do mundo que ela desconhecia. Além de Jace, capa do primeiro livro e um dos personagens mais divertidos e messed up que já conheci. Big smile.

Infernal Devices é um spin-off de Instrumentos Mortais e nos leva a Londres steampunk do final do século XIX. Apesar de ser uma derivação, ela conseguiu em muito superar, para mim, o original. E esse feito não é simples, já que gosto muito dos Shadowhunters de Nova York. Os três protagonistas - Tessa, Will (uma versão vitoriana de Jace) e Jem, um dos personagens mais queridos da série - e como eles crescem na narrativa têm muita responsabilidade por isso. Mas ligação com os fatos e personagens de MI é, a meu ver, um dos maiores responsáveis pela força da série.

Ao iniciar ID, Cassandra Clare decidiu prolongar Mortal Instruments em mais três livros - assim, de trilogia, ela passou a saga. O quarto livro, uma grande decepção, me trouxe muitas dúvidas - e uma certa indignação, como se pode ver em post anterior - com essa decisão. Por que mexer em uma história já tão querida?

Ao longo de Infernal Devices, essa decisão tornou-se mais clara. Nessa nova série, podemos conhecer os antecedentes dos personagens e a origem de situações que vimos em MI. Eu gosto dessa relação com tempos diferentes e como eles se interligam nas histórias. E consegue aumentar ainda mais nossa proximidade comesses personagens e mundo. 
Bom, esta semana, ao terminar Clockwork Princess, eu olhei para mim e disse: Take this, pessoa de pouca fé! Neste terceiro livro, eu consegui ver uma razão para a continuação da série começou a fazer muito sentido. E eu sou grata a ela: no anto que vem, o último livro de Mortal Instruments será lançado e eu vou poder estar nesse mundo novamente, e ainda. Porque, ao final deste último livro, só conseguia voltar para os anteriores re para City os Lost Souls (em que revi uma cena muito interligada a Will e Tessa de ID) que saber que ainda resta um pouco desse mundo para ler é bastante consolador diante desse fim totalmente de rachar o coração, como uma história bem contada consegue.

No cinema, o tráfego está lento. Em abril, o único filme até agora foi A Hospedeira (The Host. Andrew Niccol, EUA, 2013), também o último filme de abril e que ainda não havia trazido para O Viagens.

Eu o esperava há um tempo, curiosa para saber se Stephenie Meyer finalmente teria um dos seus livros bem adaptado para o cinema, depois do fiasco da Saga Crepúsculo. O quadro que estava se formando parecia bom: Andrew Niccol, de Gattaca, O Show de Truman e o mais recente O Preço do Amanhã, na direção... bons atores no elenco, a começar por... um trailer empolgante. Mas só sabemos mesmo do que se trata quando chegamos ao cinema, mesmo com toda a expectativa e as informações que o precedem.

Agora mesmo, enquanto escreve, apareceu a propaganda de A Hospedeira na TV. E a minha reação não foi acolhedora... daí já é possível saber como me senti no filme. Monótono, superficial, ele não consegue contar uma história que empolgou quando lida. A construção do mundo que foi invadido por uma raça "pacífica" de vermes ETs (são brilhantes, mas  vermes, mesmo que chamadas de Souls :) é bastante fiel ao livro - que tem previsão de continuidade. Os fatos também. Mas fidelidade factual, como eu digo over and over aqui, não garante que uma história seja contada. No caso de The Host, esse descuido conseguiu obscurecer uma das discussões mais legais que o livro traz - as histórias de Meyer têm essa discussão, entre a escolha da protagonista entre um bonito e outro - sobre como a humanidade pode ser também uma escolha - o "sedr" humano não a garante, diante da intolerância e da falta de entendimento.

Dessa forma, essa junção de fatos e personagens ficou sem sentido e boboca. Aquela beijação juvenil se afasta bastante de como se figura no livro - e não sei se o filme faz sentido para quem não o leu. Porque nem sempre a soma das partes forma um todo, principalmente quando se trata da construção de uma narrativa. 

Agora está a propaganda de Amanhecer Parte 2... E eu termino este post com uma conclusão a que cheguei, junto com a amiga que reviu o filme comigo, ao final de The Host: talvez as histórias de Stephenie Meyer, pelo modo envolvente, mas sempre bizarro com que ela escreve, não sejam feitas para o cinema. 


As diferentes edições de Clockwork Princes - a beleza das capas
é uma Constante nas séries de Cassandra Clare e um destaque
nos três primeiros livros de Mortal Instruments.
Aquelas sem rosto são as minhas favoritas...
Um comentário sobre a última das capas: Elena???

PS: Por falar em As Brumas de Avalon e inversão do tempo nas narrativas, Marion Zimmer Bradley lançou, uns anos depois da sua série de maior sucesso, dois livros que contam os antecedentes de personagens que conhecemos em As Brumas. Eu os li em ordem inversa - adoro fazer isso. Assim, como já sabia muito do futuro dos personagens, li A Casa da Floresta e A Senhora do Lago fora da ordem em que publicados. É sempre uma experiência inverter o tempo nas séries e brincar com o tempo nas histórias.

PPS: O filme do primeiro livro de Mortal Instrumentos, Cidade dos Ossos, está com lançamento previsto para augusto deste ano. O trailer está aqui, no post abaixo. Mas sinto dizer que ele não parece muito promissor...

quarta-feira, 27 de março de 2013

The end. My only friend, the end.



The end of the world as we know it. Assim poderíamos resumir o que trazem as histórias distópicas. Na via oposta à das narrativas utópicas, elas trazem o fim do sonho... um mundo novo que se forma depois de abusos e descontrole governamental e da natureza.
Depois de vivermos sem prestar atenção às possíveis consequências do nosso modo de viver, essas consequências seriam expostas nessa forma de literatura, em diferentes mundos que encontramos nas histórias. Nelas, a nossa civilização atual não passa de lembranças difusas, objetos perdidos e construções abandonadas.
Antes conhecidos como “romances de antecipação”, as histórias que falam de um mundo que se torna muito pior em consequência da nossa forma de viver têm se voltado mais para o público juvenil há um tempo. O sucesso de The Hunger GamesJogos Vorazes -, que muitos apontam como inspirado em Battle Royale e na série de Orson Scott Card, Ender's Game, abriu o caminho para muitos outros livros e filmes nesse sentido.
A violência nessas histórias e se ela seria “adequada” ao público jovem (não sei se a violência se adéqua, na verdade) tem possibilitado o surgimento de discussões nesse sentido. Uma delas, em que uma mãe que escreve sobre o interesse de sua filha pela história de Katniss em The Hunger Games, quando do lançamento do filme, diz muito do que eu penso a respeito.
O mundo está aí, a violência nele pela ação das pessoas. Fingir que algo não existe não o elimina, infelizmente, da face da terra. Discutir a violência não é uma opção, é obrigatoriedade. E que melhor meio que a ficção? Eu ainda não conheço nenhum.
Nos últimos meses, tem-se tornado um padrão em mim a leitura de gêneros semelhantes num mesmo mês.
Este foi o mês do fim do mundo como nós o conhecemos, por meio das continuações de quatro séries distópicas que ocuparam o meu março.
Iniciei com Through The Ever Nigh, de Veronica Rossi (Under the Never Sky 2). A autora brasileira, residente nos US, cria um mundo em que uma catástrofe natural – o desaparecimento da camada de ozônio numa parte da terra -, juntamente com o controle exercido pelo poder vigente, coloca a maior parte da população dos Estados Unidos residindo em domos, protegidos do céu nocivo pelo teto que os cobre e dos perigos de uma rebelião pelo sistema de mundos virtuais em que entram de acordo com a vontade. Viagens, situações, eras... tudo é possível vivenciar num literal piscar de olhos: cada cidadão tem um dispositivo nos olhos que o leva aos realms que desejar.
Mas a vida não se resume a esses domos... fora deles vivem pessoas em tribos de diferentes tamanhos e condições, umas menores e mais pobres, outras maiores e com mais recursos. Nesse mundo, essas diferentes condições se debatem e criam as condições para a jornada do herói dos dois personagens principais: Aria, fugitiva de um dos domos, e Perry, sua alma gêmea de uma das tribos do “Outside”, um mundo menos protegido que o dos relms.
Bodies on the outside wore experiences like souvenirs. (p.27).
O primeiro livro nos apresenta esse mundo, o estranhamento de dois personagens com vidas diferentes e como, claro, eles se apaixonam. O segundo, que li este mês, complica a história um pouco mais, como é digno do livro do meio de uma trilogia, e coloca os heróis na direção de um caminho do meio entre suas diferenças. Além da busca de um mundo melhor – no caso, the still blue.
it’s not ideal,” Perry said, raising the torch in his hand higher. “Ideals belong in a world only the wise man can understand.” Marron said quietly. (p. 144).
Tenho gostado bastante da série, embora não esteja enlouquecida pelo final. Não sei se é a abundância de séries que me tira um pouco a ansiedade ou se o livro realmente não empolga tanto, embora seja bom. O terceiro e último capítulo da série deve ser lançado ano que vem.
Rebel Heart, de Moira Young (Dust Lands 2), é a continuação de Blood Red Road, um livro que não consta do Viagens porque, como percebi há uns dias, eu esqueci que o havia lido. Até um dia em que a história me veio à lembrança e decidi procurar pela continuação da série.
Ele se aproxima de Under the Never Sky por trazer um mundo que retornou, depois do desaparecimento da sociedade como a conhecemos (wreckers, como se  diz aqui), a uma forma tribal e menos tecnológica de vida.
Saba deixa sua casa, isolada de todo o resto do mundo, para procurar, juntamente com a irmã mais nova, o gêmeo que foi raptado. Na sua jornada, conhece formas de vida que não sabia existir. Reis, rebeldes e, claro, Jack aparecem no seu caminho.
Well, you say that, says Lugh, but I heard it from a man, an he heard it from another man who seen it fer hisself an… (p. 41).
A jornada do herói, que sai do seu mundo conhecido e toma consciência dos perigos da existência ao mesmo tempo em que realiza é ele quem pode superá-los passa também pela descoberta do amor românticos. Nos quatro livros deste post é assim, alguns com mais coerência, força e interesse, e outros com uma infantilidade de irritar.
There are some people, she says, not many, who have within them the power to change things. the courage to act in the service of somethin greater than themselves. (p. 64)
Dust Lands é assim. O primeiro foi passável. Mas, neste segundo, a história perde totalmente o sentido e os personagens desparecem na situações bizarras. Se tornou quase uma palhaçada, na verdade. Eu o li em fastfoward, é realmente insuportável. Mas a curiosidade sempre ganha comigo, e não saber o que acontece acaba por não ser uma opção.
Um destaque, e uma agonia nessa série é a mudança na linguagem – um inglês alterado sai da boca e do pensamento dos personagens. E, apesar de interessante e lógico, além de ajudar a visualizar esse novo mundo, é angustiante mais do que outra coisa. 
Prodigy, de Marie Lu, é a sequência de Legend, que dá nome à série. Aqui, destaca-se o desenvolvimento tecnológico e as diferenças sociais, representadas pelos dois protagonistas, June e Day, star crossed lovers num mundo de injustiças e enganos.
Aqui as coisas começam a melhorar no fim do mundo. Os dois livros são muito bons e inlargáveis antes do fim. Não trazem nada de muito novo, mas uma história bem contada não depende do ineditismo – um objetivo ingrato no mundo das histórias.
Chinas enormous, floating metropolises are built entirely over the water and have permanently black skies. (p. 100).
Referências a outras imagens e narrativas que nos acompanham são frequentes também e, para mim, muito bem-vindas, como esta acima, em que me vem à mente o mundo de Blade Runner, com as telas gigantes, o escuro permanente e a chuva constante.
Em Legend, duas pessoas de mundos diferentes e até antagônicos se encontram, há o embate e, claro, se apaixonam. Assim, juntos, descobrem aos poucos que as certezas que tinham sobre suas vidas não são tão certas assim e, também juntos, tentam fazer o que é certo para salvar a tudo e a todos.
Quem disse que A Jornada seria fácil?
Também como de costume, o livro do meio numa trilogia traz a separação do casal, suas dúvidas e dificuldades até que possam ficar juntos definitivamente no terceiro livro (está me ouvindo, Cassandra Clare? TERCEIRO! Sem trotes da próxima vez, se for possível. Argh).
Então, como se vê, não é o que se conta, mas como. E ao ler os quatro livros assim, juntos, isso se tornou mais claro.
E assim chegamos ao quarto fim do mundo as we know it de março, Insurgent, de Veronica Roth (Divergent 2 – se percebe que o ineditismo está difícil no nome das autoras também...).
Esta é a séria mais famosa das quatro aqui, com o lançamento do primeiro filme previsto para em 2014 (sempre um medo, embora o elenco, divulgado esta semana, prometa). Insurgent acompanha Legend ao apresentar um mundo mais avançado tecnologicamente em certos aspectos, e bastante retrógrado em outros, como é de se esperar.
I read somewhere, once, that crying defies scientific explanation. Tears are only meant to lubricate the eyes. There is no real reason for tear glands to overproduce tears at the behest of emotion. (p. 341).
Numa Chicago em destroços, a sociedade se estrutura por 5 facções, cada uma com uma qualidade demarcada claramente – Amity, (paz)); Erudite (inteligência); Abnegation (caridade); Candor (honestidade) e Dantless (coragem). Aos 16 anos, todos passam por um teste que define se continuam onde foram criados ou se mudarão de facção, o que sempre é uma desonra para a família. Todas as facções têm costumes, sentimentos, rituais, cores de roupa e habilidades muito definidas e nada flexíveis.

Nesse mundo tão estático, o outro é sempre um desconhecido, um estrangeiro que vive de forma que não compreendemos.
May the peace of God be with you,” she says, her voice low, “even in the mist of trouble.”“Why would it?” I say softly, so no one else can hear. “After all I’ve done…”“It isn’t about you,” she says. “It is a gift. You cannot earn it, or it ceases to be a gift.” (p. 440).
A confusão acontece quando a protagonista da história, Beatrice, descobre que possui afinidade com três facções. A flexibilidade tem um nome – Divergent – e é um perigo para a manutenção da  comunidade como ela se encontra. Mas isso ela vai descobrindo ao longo da história, ao mesmo tempo em que encontra o bonito da história, Four, que a vai acompanhar na desestruturação do mundo que conhece.
People, I have discovered, are layers and layers of secrets. You believe you know them, but their motives are always hidden from, buried in their own hearts. You will never know them, but sometimes you decide to trust them. (p. 510).
Insurgent traz, em seu final, uma surpresa bombástica, que eu, imersa no mundo das constantes narrativas, não esperava. E desculpe por estragar a surpresa da surpresa (...), mas como foi uma das coisas mais marcantes da história, não dá para ignorá-la.
E, agora sim, estou bastante ansiosa pela continuação, deste que, dos quatro, traz o melhor fim do mundo (como assim???) – e o que fez mais sentido.


PS: Este mês, foi lançado Clockwork Princess, o último livro da série Infernal Devices, spin-off de Imortal Instruments, de Cassandra Clare. Esta última foi escrita inicialmente como uma trilogia. Depois do seu sucesso e do lançamento de ID, que se situa no mesmo mundo dos shadowhunters, mas 150 anos antes, Mortal Instruments foi estendida para seis capítulos. Uma decisão não muito feliz, mas que promete melhorar no último livro da série, que será lançado ano que vem. Enquanto isso, Infernal Devices tem se mostrado melhor (mas muito melhor) do que a série de que se originou (e de que eu gosto bastante), e estou realmente ansiosa para ler o seu final – acho que uma revelação bombástica está para acontecer...spooky. E como se vê pelo trailer acima, o primeiro livro de MI, City of Bones, está em faze de produção no cinema, com lançamento previsto para este ano.